quinta-feira, outubro 30, 2008

Animais

Corre aí uma lista de declarações do líder parlamentar do PSD, Paulo Rangel, que indignou algumas associações de protecção dos animais. Em baixo, a itálico, as declarações. À frente delas, a minha opinião sobre o assunto - opinião que fui formando ao longo dos anos e, mais propriamente, na elaboração de um trabalho sobre o assunto, no qual consumi todo o debate em torno dos direitos dos animais (debate iniciado em 1975 com o livro Animal Liberation do filósofo australiano Peter Singer), correndo os utilitários (como o próprio Singer), passando por aqueles que acham que os animais podem ter direitos (Nussbaum), até àqueles que são contra ambas as opções e que acham que os animais e os seres humanos são demasiado diferentes e que o nosso tratamento reflecte essa diferença, de carácter biológico, que é inescapável (Posner).

As declarações de Rangel que eu acho importantes são as seguintes (é a minha versão da lista que consta no blog Animal; acho que algumas declarações não são interessantes):

“Um cão nunca deixa de ser um cão. Trocaria a vida do meu cão pela vida de qualquer pessoa em qualquer lado do mundo, mesmo não a conhecendo. Uma pessoa vale sempre mais do que um animal.” Efectivamente vale (isto é discutível para alguns autores, Singer não concorda), o que não quer dizer que os animais não possam ter direitos ou que não tenhamos obrigações para com eles. Além disso, fica bem falar em cenários hipotéticos, mas duvido que tal ser verifique na realidade. A distância continua a ter um efeito especial nas nossas reacções à barbárie - o Saramago e a Pilar falavam sobre isso no outro dia. Custa-nos mais quatro vidas ao nosso lado do que quatro mil do outro lado do mundo. Rangel poderia abdicar da vida do cão dele pela vida de qualquer ser humano do mundo, mas tenho dúvidas que muitos o fizessem (continua a ser moralmente complicado para mim gastar duzentos euros sempre que vou ao veterinário com o meu cão
)
.

“Os animais merecem protecção mas não são titulares de direitos.” É discutível. Muitos autores entendem que os animais têm direitos. A Constituição Alemã desde 2002 que consagra direitos aos animais (não sei se ainda é a única na Europa). Na Califórnia, se não estou em erro, os animais domésticos têm o direito de ser bem tratados pelos seus proprietários (escrever proprietários é perigoso). Em caso de abuso, os proprietários deverão ser punidos. Claro que os animais nunca terão direitos a animais equiparáveis aos dos humanos (como direito de voto, por exemplo), mas podem ter direitos mínimos como o direito a gozarem de uma vida agradável e livre de dor inflingida por humanos.

“Não são eles que têm esse direito [de ser bem tratados e protegidos]. Nós é que temos essa obrigação.” É verdade, mas depende da definição de direitos usada. Jeremy Waldron define um direito como 'algo que limita o que pode ser feito a alguém'. Os animais podem ser contemplados por esta definição de direitos.

“Para mim essa é uma concepção errada [a de que os animais devem ter direitos]. Acho que só as pessoas devem ser titulares de direitos.” Defende da definição de direitos usada.

“Os animais [também sofrem], mas não sofrem como nós.” Esta declaração é feita com base em estudos empíricos realizados pelo próprio Paulo Rangel enquanto era animal. Fora de brincadeiras, isto é muito complicado de averiguar com certeza. No entanto, acho que ninguém pode dizer que um animal que passe a vida toda enjaulado, num local onde nem sequer se pode virar, onde tem dificuldade em dormir, não sofre.

“A caça ou as touradas, enquanto tradições com determinadas características e determinados limites, são toleráveis. Fazem parte da Cultura.” Compreendo o argumento, embora não simpatize particularmente com a tradição. Mas pronto, é um problema diminuto. Preocupam-me mais os milhões de pintos em gaiolas minúsculas.

“Faço uma separação ontológica entre as pessoas e os animais.” É uma separação natural, o que não nos dá qualquer tipo de direito de os tratar mal.

“A menos que esteja em causa a extinção de espécies, não acho mal [utilização de peles para confecção de vestuário].” Não concordo. Acho totalmente bárbara a utilização de peles de animais em vestuário quando hoje se produzem sintéticos que satisfazem as mesmas necessidades com maior eficácia (a função de aquecer digo, não a de embelezar nem a de estatuto, das quais nem falo). Hoje em dia não necessitamos de peles verdadeiras para nada de verdadeiramente indispensável.

“A dignidade humana é um valor superior ao da dignidade dos animais. O Homem é ontologicamente diferente dos restantes animais.” A segunda afirmação é verdadeira, mas não chega para tirar as conclusões da primeira. A diferença não justifica que não se partilhem certos direitos, nem desculpabiliza ou legitima certas acções.

Eu consumo carne e peixe. Consumo em maior quantidade do que deveria, tanto para a minha saúde como para a dos animais. Acho que não temos o direito de matar os animais para os comermos nas quantidades que comemos actualmente. Mais importante, sou absolutamente contra mecanismos industriais de produção de animais e de produtos de origem animal. Acho que podemos e devemos aceitar o que os animais nos dão, sem que os façamos sofrer. É absolutamente imoral obrigar animais a viver a vida toda em sofrimento para que nós satisfaçamos necessidades que não são básicas. Confesso não saber a extensão do problema da produção industrial de carne em Portugal. Há ainda todo um problema relacionado com experiências em animais que levanta questões também interessantes. Nesses casos, as diferenças ontológicas são importantes, mas não impedem a edificação de regras éticas saudáveis.

terça-feira, outubro 28, 2008

Dubya


A minha vida é extremamente complicada mas Ele disse-me que eu devia dizer algo aos que andam aí a dizer que o W., de Oliver Stone, 'desculpabiliza' Bush e 'desresponsabiliza-o' pelo seu legado de decisões erradas, atrocidades guerreiras e tortura. Eu, como cordeiro que sou, acato a imposição.

Ora, se há coisa que o filme de Oliver Stone não faz é desresponsabilizar e desculpabilizar Bush. Bush não é desBushado, melhor dizendo. Como é que as pessoas podem ficar com essa ideia? Eu sei que é complicado, mas quem está atento e se dá ao trabalho de ler alguma coisa sobre o assunto, saberia que o Bush é efectivamente um mentecapto. Logo, a burrice não é desculpa para nada. Alguém desculpabiliza alguém por ser burro nos dias que correm? Especialmente se esse alguém for o presidente do maior país do mundo? Algo me diz que não. Aliás, estou certo que não é assim. Culpa e falta de inteligência funcionam em universos separados. Um culpado inteligente não é mais nem menos culpado que um culpado asinino.

Quanto à desresponsabilização, o argumento ainda é mais frágil. George W. Bush inventou um termo (como Palin inventou o termo verbage) que diz tudo: decider. Stone usa a palavra no próprio filme. George W. Bush é efectivamente o decider; aquele que decide. Ele sabe perfeitamente que foi eleito para decidir. Como se vê no filme, depois de ouvir os conselheiros, a decisão de cunhar o termo 'Eixo do Mal' é dele. Como é a decisão de invadir o Iraque (não há Afeganistão neste filme, curiosamente). O filme expõe isso de forma clara. Como é que um filme que mostra um Presidente que toma as decisões todas (ainda por cima más na sua maior parte) pode ser um filme que desresponsabiliza?

A desresponsabilização pode vir exactamente do peso dado aos conselheiros, Cheney et. al. Mas só quem esteve menos atento as estes oito anos é que pode dizer que os conselheiros não tiveram um papel preponderante na governação do quadragésimo terceiro Presidente americano. Cheney foi o vice-presidente com mais poder na história dos EUA. O artífice da 'Guerra ao Terror'; uma guerra sem fim que serve prolonga os poderes excepcionais do Presidente. As duas intervenções ajudam à causa. Rumsfeld é fielmente retratado como alguém com uma crença exacerbada nas virtudes da força militar. Wolfowitz é tido como o arquitecto da actual postura estratégica america (National Security Strategy de 2002), revelada num artigo que saiu no New York Times em 1991 (não é gralha). Scooter Libby foi forçado a demitir-se devido ao caso Plame (extensão do yellowcake, que é metido a ferro e fogo num documento oficial, como filme retrata). Powell e Rice foram efectivamente postos de parte.

O que me faz reflectir sobre um aspecto que o filme retrata que, para mim, é novo. Falo da problemática relação entre W. e o seu pai (e a sua mãe). Nunca ouvi falar disto, nem nunca li nada a esse respeito em lado nenhum. Admito que possa ser verdade. Jeb Bush sempre foi tido como mais capaz que George. No entanto, não deixo de achar estranho que, para um tipo que quer efectivamente provar algo ao pai e que procura fugir da sombra deste, George tenha escolhido a equipa que escolheu. É que, se não estou em erro, Rice, Rumsfeld, Cheney, Powell e Wolfowitz trabalharam com Bush sénior enquanto este era Presidente ou vice-Presidente. Até na fuga ao passado, a falta de inteligência é aparente.

Lamento imenso mas Bush não é um monstro de maldade. É humano. Infelizmente, isso basta.

segunda-feira, outubro 27, 2008

W.

Em W. de Oliver Stone, numa conversa telefónica com o presidente francês Jacques Chirac, o actual presidente dos Estados Unidos faz referência aos princípios da Guerra Justa elaborados por Santo Agostinho. O tradutor do filme comete a proeza de transformar 'Just War' em 'simplesmente Guerra'. É inacreditável que isto chegue às salas sem ninguém dar por isso.

sábado, outubro 25, 2008

Trilling e eu

Isto é absolutamente soberbo. Mais, cheguei lá porque, estúpido como sou, no último mês ou coisa do género, decidi dedicar-me a perceber alguma coisa de crítica literária não marxista. Não que perceba muito da de inspiração marxista, Não percebo - embora perceba porque é que o número de livros do Marx vendidos na Alemanha tenha aumentado exponencialmente ao longo do último mês, como noticiava o Ípsilon. Aliás, eu sonho com um dia em que a Universidade Católica seja o reduto português da Escola de Frankfurt. Isso é que era uma crise. Queimavam os livros do Roger Scruton e tudo.

Retomando o tema da minha estupidez, pedia-vos que reparassem nisto: eu cheguei àquele vídeo através de uma busca por Lionel Trilling e não a Nabokov. Isto é ser completamente estúpido; até eu sei isso. Faço uma busca por um crítico literário e nunca sequer me ocorreu fazer uma busca sobre o Nabokov. Eu, que sempre adorei ninfetas. Alerto-vos no entanto para o facto de isto constituir um acontecimento galáctico. O Pedro Mexia põe um vídeo do casting para o Lolita e torna-o deprimentemente triste, ao mesmo tempo que o André reproduz questionários feitos pelo próprio Nabokov (eu por acaso escolhi as últimas quatro e na do socio-económico não concordo com o Nabokov e hei-de escrever algo sobre isso, embora reconheça que o exemplo que ele dá é nojento de bom).

Não ponho de parte que se tenha passado algo com o Nabokov – relembro-vos que sou muito ignorante. Um aniversário qualquer, sei lá. O que eu sei é que o Lionel Trilling, o James Wood e o Louis Menand decidiram lixar-me a vida. Eu, que tenho coisas realmente importantes para fazer, como ler os livros dos autores que são criticados pelos críticos literários e estudar para ser empregado do Estado, tenho-me entretido a ler o que eles escrevem, onde, quando, e para lixar o juízo a quem. Pelos vistos, o Trilling debatia com o próprio Nabokov enquanto fumava a ponta daquele cigarro.

O Liberal Imagination do Lionel Trilling foi reeditado este ano, cortesia da New York Review of Books. O Louis Menand escreveu um artigo sobre ele na New Yorker e o editor literário da New Republic acusou o toque e respondeu. O Trilling era um ser humano que tinha o cuidado de parecer sempre genial (uma colectânea de textos dele chama-se The Moral Obligation to be Inteligent). Eu tenho o cuidado de parecer sempre um asno. Deixo o resto ao cuidado da crueldade proverbial.

segunda-feira, outubro 20, 2008

biblioburro


"By the time he was in his 20s, Colombia's long internal war had drawn paramilitary bands to the lawless marshlands and hills surrounding La Gloria, leading to clashes with guerrillas and intimidation of the local population by both groups.
Into that violence, which has since ebbed, Soriano ventured with his donkeys, taking with him a few reading textbooks, encyclopedia volumes and novels from his small personal library. At stops along the way, children still await the teacher in groups, to hear him read from the books he brings before they can borrow them".

Um artigo de Simon Romero no International Herald Tribune, 20 de Outubro de 2008.

domingo, outubro 19, 2008


Soberbo ensaio fotográfico da New Yorker sobre aqueles que serviram no Afeganistão e no Iraque.

sexta-feira, outubro 17, 2008

isto é muito bonito

"De certa maneira, esta concepção do 'poema contínuo', da obra como poema único que pode ser ampliado sem quebras, responde à exigência de caminhar para um ponto onde só a linguagem age, com todo o seu poder, suprimindo a pessoalidade e, de certa maneira (não como Mallarmé, mas também não o ignorando), erradicando o autor. Na poesia de Herberto Helder não há psicologia, nem confidencialidade, nem biografia - estamos num outro mundo, mais difícil de reconhecer e habitar. O que nela emerge é uma paixão puramente literária.
Ora, em 'tempos de redundância', o grande 'escândalo' de Herberto Helder é o de se furtar à esfera mundana da 'vida literária', deixando que apenas a sua obra exista e siga o seu curso sem quaisquer interferências do exterior. Repare-se que a única entrevista que se lhe conhece é uma 'auto-entrevista'.
Esta atitude, que não devemos reconduzir a uma mera 'idiossincrasia', ganha hoje um sentido fundamental. O que é que se acelerou nas últimas décadas? Acelerou-se a perda de autonomia dos escritores e do campo literário em geral, um campo que deixou de reivindicar o direito a ser ele próprio a definir os princípios que o legitimam. A legitimidade passou a ser outorgada pela instância do mercado e por factores mundanos, que ditam as regras da consagração. E a literatura de entretenimento ganhou um poder desmesurado, quase deixou de ser reconhecível como tal, como se só ela existisse. Por isso é que a obra de Herberto Helder é intempestiva: conduz-nos para um espaço e um tempo que lançam um forte desafio a todo o contexto, não apenas o literário; fala um 'idioma' que é cada vez mais difícil escutar".


António Guerreiro in Actual, 11.10.2008

quinta-feira, outubro 16, 2008

Rumsfeld

A nova moda nos blogues ditos políticos é escrever o que se pensa efectivamente e fazer um traço por cima. Já repararam na suprema estupidez dessa prática? Para os mais incautos, passa-se assim: alguém escreve “Mefistófeles é um comunista socialista da pior espécie” querendo dizer que o referido é um comunista (mas é mais socialista. Eu também não domino bem isto, não vos vou mentir). Ao que Mefistófeles responde: “Não sou não. O Parménides é que é um neoliberal liberal desde os teus tempos de Opus Dei Planalto. Eu sou um oximoro ambulante liberal-conservador”. E assim sucessivamente. O artifício tem de facto uma certa piada pois permite que toda a gente leia aquilo que efectivamente pensamos mas que não queremos dizer, mas que acabamos por dizer, embora tenhamos rasurado a palavra que transmite o verdadeiro sentido que queremos dar à coisa. Tenho duas palavras para isto: atroz soberbo, duma-estupidez-nunca-antes-vista revolucionário. Ainda bem que o Acordo Ortográfico já foi aprovado.

Sugiro que vão mais longe (e isto é para a esquerda, que normalmente percebe melhor o Lacan do o mesmo se percebia a si próprio) e que arranjem um esquema qualquer, desta feita para que deixem escrito os elementos psicoanalíticos que vos levaram a escrever o que escreveram. Ou seja, já escrevem o que querem escrever e o que queriam ter escrito. Eu sugiro que escrevam também o que queriam ter escrito mas não escreveram porque não sabem que o queriam ter escrito. Pondo isto em termos Rumsfeldianos (até o Bush percebe isto): há coisas que vocês sabem que sabem, coisas que vocês sabem que não sabem, coisas que vocês não sabem que sabem e coisas que vocês não sabem que não sabem. Eu gostava que vocês começassem a passar tudo isso.

Sinceramente vosso.

quarta-feira, outubro 15, 2008

Nurgül Yesilçay


terça-feira, outubro 14, 2008

João Pereira Coutinho

A segunda nota (ou o purgatório na escala do João Pereira Coutinho na sua coluna do Expresso – que tinha, acho que) [Borrifei no parêntesis] {curvo, claro, não no recto}.
Recomeçando: foi soberba a crónica do JPC na última Única sobre o programa “A Liga dos Últimos”, na qual ele afirmava que aquilo já só fazia pena. Que os gajos só iam buscar o mais podre e analfabeto, o velho doente e bêbedo da terra mais esconsa, para nós, os da urbe, nos rirmos. É verdade. Sempre gostámos de nos rir da desgraça alheia, mais ainda quando mediada pela televisão. O capitão Moura é um alcoólico, que deve ter espancado mais que uma mulher na vida até chegar aos ecrãs das nossas salas. Pensai nisso antes de vos rirdes, disse-me o JPT directamente do Inferno. Quando o abismo fala comigo eu tendo a ouvi-lo (recomendo a leitura do livro de crónicas brasileiras do JPC. Li-o um pouco ao calhas no Verão e é muito engraçado, em especial a primeira parte. Bastante melhor do que aquilo com que ele nos brinda no suplemento supracitado).

crise

Isto vai para aqui uma crise que nem vos quero dizer nada para não vos magoar involuntariamente – coisa que faço desde que escrevi as minhas primeiras palavras por aqui. Mas isto está muito mau. No momento em que vos escrevo, depois da ingestão de um iogurte natural com pêra, já li o equivalente literário ao Plano Paulson sobre o Knut Hamsun. Sensivelmente setecentos mil milhões de linhas sobre a infância – fases oral e anal abarcadas –, adolescência, puberdade, maioridade (atingi a maioridade antes da puberdade, ele não), vida adulta, vida geriátrica e vida paliativa do escritor Norueguês, Nazi nos tempos livres, Nobel em 1920, e ser humano execrável todos os restantes seiscentos e oitenta mil milhões (Plano Merkel) de minutos da sua vida terrena. Isto significa mormente que estou com um nível de paciência para ler o livro (Fome de Knut Hamsun, editado pela Cavalo de Ferro) equivalente à taxa de poupança da família média portuguesa. O que é um rude golpe auto-infligido (coberto no entanto pelo plano de saúde do Obama).

sábado, outubro 11, 2008

et Justice pour tous

quinta-feira, outubro 09, 2008

Roth, o insaciável punheteiro

"...atribuir o Nobel da Literatura a Philip Roth seria - mais ou menos, vá - o equivalente a eu ganhar os Super Blog Awards na Categoria de Melhor Blog Pessoal e dropinar, desse modo, o Pedro Mexia. É que Roth, meus amigos, apesar de grande escritor, eremita, septuagenário, judeu não-praticante, misógino, proto-esquerdalha, malandro como o melhor arroz de tomate e todas essas coisinhas que deveriam também ser equacionadas e tidas em linha de conta enquanto critérios avaliativos pela própria Academia, é - e antes que qualquer vozeirão insurgente se manifeste - um inveterado e insaciável punheteiro".

Soberbo texto do Miguel no Mal Menor.

quarta-feira, outubro 08, 2008

MEC

O Miguel Esteves Cardoso não gosta de caracóis fodasse. Finalmente! Anos a ser discriminado por não gostar daquelas merdas nojentas que vêm numa água que sabe a terra. O MEC, gourmet reconhecido, diz que tem boa boca e que a única coisa que não gosta são caracóis. Claro, naturalmente. Mais, tão gourmet, inteligente, ser-de-bom-gosto, fogoso, sexy e inteligente, diz que apenas provou uma vez e que não gostou. Óbvio. Caracóis provam-se uma vez e sabe-se que nunca se vai poder gostar daquela merda até ao fim da vida. Mais, a época de comer caracóis é particularmente dura para o homem que não gosta de caracóis, porque, normalmente, não se comem caracóis em sítios onde se come mais qualquer coisa decente. Fosse eu mais filosoficamente informado, escrevia um ensaio sobre a relação entre o nosso atraso relativamente à Europa e o facto de comermos caracóis.

Verbage

"The most revealing moment happened earlier, when she was asked about Obama’s attack on McCain’s claim that the fundamentals of the economy are sound. “Well,” Palin said, “it was an unfair attack on the verbage that Senator McCain chose to use, because the fundamentals, as he was having to explain afterwards, he means our workforce, he means the ingenuity of the American people. And of course that is strong, and that is the foundation of our economy. So that was an unfair attack there, again, based on verbage that John McCain used.” This is certainly doing rather than mere talking, and what is being done is the coinage of “verbage.” It would be hard to find a better example of the Republican disdain for words than that remarkable term, so close to garbage, so far from language".

James Wood, "Verbage: the Republican War on Words", The New Yorker, 13.10.2008.

domingo, outubro 05, 2008

One Pure Thought

quinta-feira, outubro 02, 2008

Badu


(esta senhora põe em dúvida o lugar da Roisin Murphy no meu Weltanschauung)