quinta-feira, março 31, 2011

memória

Um dos grandes problemas de recordar uma parte substancial da cara das pessoas com quem não trocámos mais que duas palavras na vida é o quão insignificante uma pessoa acaba por se sentir. Ter boa memória é bom para muita coisa, mas devia vir com uma dose reforçada de autoconfiança.

Mason, Perry

Ainda no outro dia, numa festa de anos, tive a oportunidade de referir, numa conversa sobre a condição do jornalismo nacional, a quase inexistência no nosso território de peças jornalísticas profundamente elaboradas e onde é aparente a cada palavra um conhecimento profundo. Bem, mesmo que o conhecimento não seja profundo, nota-se que houve um esforço de ir além do aparente.

O exemplo que citei, por essa ocasião, foi um dos vários artigos do Perry Anderson que já vi publicados em diversas revistas, mas especialmente na London Review of Books.

O Perry Anderson tem a capacidade notável (bem como o tempo, presumo) para conseguir escrever sobre uma realidade que não vive (acho que ele não vivia em Itália quando escreveu um dos artigos que li sobre o estado da política italiana, como não deve viver no Brasil quando escreve sobre Lula da Silva). Mas, para além de escrever como espectador atento, Anderson tem a capacidade de estar a par da discussão para além do soundbyte diário dos media. Mais a mais, conhece bem o que faz pensar os principais decisores dos países sobre os quais escreve. Mais do que parecer que lá vive, parece que priva com toda a gente que constitui a cena política, literária, económica e intelectual.

Na mais recente edição da London Review of Books somos presenteados com mais um exemplo desse tipo de ensaio que tanta falta faz, na minha opinião, ao periodismo luso. Começa assim:

"Contrary to a well-known English dictum, stoical if self-exonerating, all political lives do not end in failure. In postwar Europe, it is enough to think of Adenauer or De Gasperi, or perhaps even more impressively, Franco. But it is true that, in democratic conditions, to be more popular at the close than at the outset of a prolonged period in office is rare. Rarer still – indeed, virtually unheard of – is for such popularity to reflect, not appeasement or moderation, but a radicalisation in government. Today, there is only one ruler in the world who can claim this achievement, the former worker who in January stepped down as president of Brazil, enjoying the approval of 80 per cent of its citizens. By any criterion, Luiz Inácio da Silva is the most successful politician of his time."

Podem encontrar o resto aqui. E depois digam se não parece que ele passou a vida toda ou lá ou a pensar naquilo.

quarta-feira, março 23, 2011

o país

Portuguesas e Portugueses, numa fase reconhecidamente complicada como a presente, em que a incerteza nos rodeia, em que as fundações mais básicas das nossas vidas estão a ser abaladas por uma crise política e partidária, orquestrada por gente que coloca os seus interesses individuais à frente dos interesses do país, é importante, nuclear diria, não esquecer o essencial: decorrem eleições para o Sporting Club de Portugal.

De resto, é isto.