sábado, fevereiro 28, 2009

Ulrich 'Uli' Sequeira

Apresento-vos Uli Sequeira que depois de Canetas e do anormal do Filipe Canas, se torna o fiel guardião desta banheira de guaxinis virtual. Uli é um amante da Bundesliga, militante do partido da Terra checo e reservista do exército suíço. Escreveu durante anos no Morgebladett sob o nome artístico de Hansel Maurice. Tem 30 anos. Lê bastante e gosta de beber amaretto antes de ir para o berço.

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

A comprovar que pedir continua a ser a melhor solução para obter o que se pretende (uma economia socialista é de novo possível), leia-se com atenção a seguinte frase feita a meu pedido e para mim (isto pertence a quem?):

"Não estou a falar de darmos um toque electrónico aqui e ali nas músicas, como fizemos com o 'Flux'. Não. O que ficava mesmo brutal era bombarmos mesmo á séria com os sintetizadores, ao ponto de não se ouvir nada do que fizemos até agora. No fundo, era fazer deste álbum uma espécie de discussão acalorada entre dois golfinhos".

Eu retribuo a gentileza com uma informação profundamente central para um entendimento neo-cartesiano das dinâmicas globais existentes antes da revolução racionalista, tempos em que a prostitutas da corte de França liam os ensaios do Montaigne sobre o prazer a interação sexual entre seres humanos: a personagem do agente do Entourage (que é uma série de merda da qual apenas se safa esse gajo que faz de agente) é baseada em Ariel Rahm que é, nada mais nada menos, irmão do Chefe de Gabinete de Obama, Emanuel Rahm, sobre quem a New Yorker publicou um artigo relativamente interessante.

Há claro todo um problema com estes artigos da New Yorker sobre malta influente que me preocupam na medida que não entendo como eles o fazem, isto é, a única opção possível que me ocorre - excluindo a hipótese dos gajos inventarem esta merda toda para que gente como eu não se dedique àquilo que tem realmente de fazer - é muito complicada em termos logísticos e passaria por ter uma ideia relativa sobre quem vai ser influente e ter alguém sempre no encalço dessa pessoa, mas não me apetece nada escrever sobre isso (e esse artigo sobre o Rahm não é o melhor para ilustrar o que eu quero dizer).

terça-feira, fevereiro 24, 2009

As Benevolentes

Au contraire de grande parte da crítica nacional e europeia, que recebeu o livro com enorme apreço e admiração, Michiko Kakutani, crítica literária do New York Times, arrasa As Benevolentes de Jonathan Littell. Parágrafos nada meigos:

"No doubt the author intends such remarks to convey the horrors of the Holocaust, but “The Kindly Ones” instead reads like a pointless compilation of atrocities and anti-Semitic remarks, pointlessly combined with a gross collection of sexual fantasies. That such a novel should win two of France’s top literary prizes is not only an example of the occasional perversity of French taste, but also a measure of how drastically literary attitudes toward the Holocaust have changed in the last few decades.

Whereas the philosopher Theodor Adorno warned, not long after the war, of the dangers of making art out of the Holocaust (“through aesthetic principles or stylization,” he contended, “the unimaginable ordeal” is “transfigured and stripped of some of its horror and with this, injustice is already done to the victims”), whereas George Steiner once wrote of Auschwitz that “in the presence of certain realities art is trivial or impertinent,” we have now reached the point where a 900-plus page portrait of a psychopathic Nazi, dwelling in histrionic detail on the barbarities of the camps, should be acclaimed by Le Monde as “a staggering triumph".

Ou muito me engano, ou isto vai dar bordoada entre os dois lados do Atlântico. Não li ainda As Benevolentes porque gostava de saber um pouco mais sobre o Holocausto antes de me dedicar às novecentas páginas do romance de Littell. Ainda assim, os temas da crítica de Kakutani (a estilização do Holocausto e os perigos da utilização de eventos histórios desprezíveis na ficção) devem suscitar reflexão.

a thing for me

Muito giro. Encontrado por aqui e colocado aqui, com vénia devida ali. Queria ainda afirmar que "amar é um elo entre o azul e o amarelo" é uma das grandes frases da história da poesia mundial e que abre o livro de Adriana Lisboa, que é uma das escritoras bonitas da prosa mundial.

quinta-feira, fevereiro 12, 2009


terça-feira, fevereiro 10, 2009

I'd rather not

Há nítidamente um sem número de assuntos sobre os quais a minha opinião é necessária. Desde o maravilhoso livro que eu estou a ler (Cosmopolis de Stephen Toulmin), à problemática da literatura enquanto forma de poder, até à metanarrativa do moderno, passando pela mcdonaldização da miséria em Slumdog Millionaire e culminando na incapacidade de verter em forma de palavras a beleza do ser humano que se chama Freida Pinto. Há também a questão da M.I.A. estar grávida de um pequeno tigre tamil, mas sobre essa eu estou a escrever um artigo para uma revista científica.

E já que se fala de ciência, eu gostava de falar de meteorologia, que é precisamente o tema da pequena crónica semanal do António Guerreiro no Expresso. Contudo, antes de escrever o que quer que seja sobre a crónica desta semana, impõe-se um pequeno encómio, em jeito de agradecimento, ao crítico literário. O AG é um ser maravilhoso que merece uma página inteira de escrita livre no suplemento onde escreve. Já a teve e deixou de a ter. É obrigatório, para o estatuto do país, que se reverta à situação anterior. O AG é também a única pessoa que escreve sobre filosofia de forma consistente num jornal português (o Desidério Murcho escreve sobre uma espécie de filosofia cujo único objectivo é subtraír à filosofia tudo o que esta tem de filosófico). É tão sublime AG que, nos melhores livros de 2008, escolheu apenas autores portugueses, a maior parte dos quais poetas, pelos quais eu não tenho interesse nenhum mas que sei que devem ser absolutamente indispensáveis para a continua edificação desta massa heterógenea a que chamamos país.

Indo à crónica. AG escreve que a Meteorologia é uma forma de poder, afirmação com a qual eu não posso discordar. Contudo, para o autor, a Meteorologia é uma forma de poder em virtude dos pârametros pelos quais define o estado do tempo. Isto é, o sujeito da Meteo, o sujeito com o qual esta comunica, é, conclui AG, o homem urbano médio, que considera 'bom' tempo solarengo e 'mau' o tempo chuvoso. É nesta subjectivização, que impõe um juízo valorativo, que reside uma forma de poder.

A abordagem é interessante, mas falha o ponto central. O ponto central é que a Meteo promoveu-se a uma categoria pseudo-científica e influi, de forma sobejamente exagerada, no nosso quotidiano. Todos os dias somos bombardeados com previsões sobre o estado do tempo nos próximos dias, vagas de calor, de frio, de chuva, que condicionam a nossa maneira de viver e acabam por influenciar o nosso livre-arbítrio. Deixamos de fazer porque pode ser impossível de o fazer e, assim, nem nunca o tentamos. Não dá porque, hoje, o tempo de depois de amanhã não o permitirá. A Meteo, enquanto forma de poder, aposta mais nesse jogo do que na subjectificação do homem urbano médio, embora seja para esse que fala. As análises não se excluem mutuamente. Talvez até se completem. E são capazes até de dizer mais sobre as ideias centrais em que o mundo em que vivemos assenta, do que a maioria concederá.

Retornando ao parágrafo inicial, e deixando entreaberto o meu Hegelianismo não dogmático, vou exercer poder sobre vocês, caras leitoras, precisamente através da negação desse poder. À la Bartleby, eu tenho imensa coisa para dizer sobre imensa coisa interessante, mas prefiro não fazer nada. Como me explicou António Guerreiro em tempos, aproveitando a ideia central de Agamben, existe uma forma de potência (potere, de poder) que passa exactamente pela rejeição desse mesmo poder. É isso que eu prefiro fazer.

o q-tip é nitidamente um ser muito atraente


sábado, fevereiro 07, 2009

John Martyn

O John Martyn morreu a semana passada e eu nunca tinha ouvido nada dele até ontem. E é maravilhoso. Essa canção, chamada I Don't Want To Know é do álbum Solid Air de 1973.

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Dambisa


Vejam bem como é um ser humano capacitado para dar aulas na New School. Depois de destruir totalmente uma teoria, é magnânimo ao ponto de não se importar de se reunir com Dambisa Moyo num qualquer hotel de charme mundial para a ajudar a pobre jovem a aclarar as suas ideias.

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Dead Aid?


Deparei-me com este artigo de Dambisa Moyo no The Independent e tenho uma série de objecções a fazer em relação à tese apresentada. Moyo argumenta que Ajuda Oficial ao Desenvolvimento tem sido o principal obstáculo ao desenvolvimento de África. São três as razões apontadas pela autora: que a ODA (Official Development Assistance) incentiva a corrupção; que alimenta a dependência; e, porque burocrática, inibe os nascimento de uma classe empreendedora. Desta premissa central, Moyo conclui que a crise económica global é afinal uma boa notícia para África, porque dela vai efectivamente resultar uma redução da ODA - a Itália já cortou em cinquenta por cento a sua ajuda ao desenvolvimento. O artigo não é uma crítica destrutiva do presente arranjo da ajuda ao desenvolvimento para África; para Moyo a solução para o desenvolvimento passa por aumentar o comércio, aumentar o Investimento Directo Estrangeiro, por mais microfinanciamento e por maior acesso aos mercados internacionais de capital. Finalmente, África deverá privilegiar as suas relações com a China, o Médio Oriente e restantes países emergentes.

Existem sérios problemas com todo este raciocínio. Em primeiro lugar, parece-me importante referir que este artigo promove o livro de Moyo que sairá esta quinta-feira. A crise tem sido especialmente problemática para quem vive de livros de análise económica, sendo João Rendeiro o caso paradigmático em Portugal. Esta é única explicação para Moyo achar que o futuro de parte substancial do financiamento para o desenvolvimento africano passará pelas economias emergentes. Não digo que estas não são importantes, mas a crise também as colocou numa situação extremamente delicada, porventura mais até que aos países desenvolvidos. Parece-me também ingénuo no mínimo, que Moyo considere que toda a história de relações entre os países europeus - ex-coloniais - e África seja facilmente substituível pelao recente namoro entre África e os BRICs. Da crise resultou ainda a falta de liquidez do mercado internacional de capitais, o que faz com que os países tenham que pagar mais para se endividarem no estrangeiro. Ora, se mesmo para países desenvolvimento, o acesso ao crédito é cada vez mais complicado, que dizer do acesso ao crédito dos países africanos com economias mais frágeis? Dúvido que venham a ser muito solicitados pelo mercado de capitais - especialmente com as matérias-primas a preços baixos.

A relação do Ajuda Oficial ao Desenvolvimento com a corrupção, a dependência e com a inibição do aparecimento de uma classe de empreendedores é também duvidosa. Dúvido que a corrupção acabe com o fim da ODA. A corrupção não é um exclusivo da ajuda bilateral ou multilateral. A ajuda ao desenvolvimento levada a cabo por privados é também corruptível. O argumento que a ODA inibe a emergência de uma classe de empreendedores é complicado e o ponto não é desenvolvido por Moyo - talvez o livro seja mais elucidativo neste ponto. A crítica da dependência é efectivamente falaciosa porque, como a necessidade de Investimento Directo Estrangeiro e a necessidade de procurar crédito no mercado internacional de capitais indicam, seria substituir uma dependência por outra: da dependência do Estado passa-se a depender do mercado internacional. Este dualismo Estado-Mercado é o ponto que subjaz a toda o raciocínio de Moyo e é um dualismo que já estava datado, mesmo antes da crise reexaminar a forma como a teoria económica funciona

Sem entrar muito nas políticas de desenvolvimento que têm pautado os últimos vinte anos, parece-me que a visão de Moyo adopta parte substancial da estrutura teórica que sustentou o Consenso de Washington. Para Moyo, o motor mais promissor para o desenvolvimento de África é a integração nos mercados internacionais e Moyo tem razão. Contudo, África não pode entrar nos mercados internacionais e seguir imediatamente as regras que estes ditam, simplesmente porque não está capacitada - quer em termos humanos, quer em termos económicos e sociais, quer em termos institucionais. Veja-se a panacea que Moyo apresenta: o acesso ao mercado internacional de capitais. O acesso a este mercado é complicado para países com pouco peso na economia internacional. Na grande maioria dos casos, para garantirem o acesso os países têm que ceder em aspectos fundamentais. Tal aconteceu durante os anos 90. Sob as políticas do Consenso de Washington, os países procuraram adoptar os critérios definidos para serem considerados economias saudáveis (redução do peso do Estado na economia, défices controlados, redução da dívida externa), critérios que acabaram por determinar um forte desinvestimento em políticas sociais em áreas tão importantes como a educação e a segurança social. Para além disso, existe uma diferença substancial entre o mercado internacional de capitais, o investimento directo estrangeiro e a ODA: é que a ODA é bastante mais estável e orientada por considerações de longo-prazo. A volatilidade dos fluxos internacionais de capitais tem sido apontada como uma das causas para a falência de inúmeros esforços de desenvolvimento e mesmo até de crises financeiras graves, como a Crise Asiática de 1997.

Não há uma solução para o desenvolvimento de África. Não existem soluções fáceis nem infalíveis. Contudo, Moyo não dá razões fortes para apoiar a redução do ODA. Especialmente hoje, que os países menos desenvolvidos têm mais a perder com a crise que os desenvolvidos, parece-me uma mensagem importante que se cumpram as obrigações internacionais. Estamos todos no mesmo barco.

Animal Moribundo

Sem querer de forma alguma menorizar o trabalho de tradução de Fernanda Pinto Rodrigues, acho que traduzir "this is an astonishing generation of fellators" para "esta é uma geração de surpreendentes adeptos do felácio" é um claro favorecimento de uma tradução "à letra" em detrimento de uma tradução que dê primazia ao "espírito". Não sei qual a regra: se se deve privilegiar uma tradução directa ou se se deverá adoptar uma tradução mais subjectiva. Tivesse sido eu o tradutor de Dying Animal, teria traduzido para "esta é uma geração de maravilhosas brochistas". E antes que possam dizer algo (como que esta versão diz mais sobre o tradutor do que sobre o protagonista do livro), parece-me claro que o sexo do felador é determinado, não fosse David Kepesh um ser humano determinado em "foder" (cá está o espírito outra vez) o máximo de mulheres que lhe passam à frente.