sexta-feira, maio 29, 2009

é impossível não gostar deste ser humano

Para aquela minoria silenciosa e descriminada, que entende que os Vampire Weekend e as restantes bandas com ar de betinhos que nunca apanharam um coma alcoólico pelo simples prazer de estar a espumar da boca deitado no chão não merecem existir, minoria essa que coincide bastantes vezes com aquela cujos sentimentos são vandalizados com acusações de insensibilidade porque não conseguem ver no Before Sunset nada mais que uma colagem de fait divers, de clichés e de preconceitos (com os quais metade das tipas deste mundo amavam ser paleadas, e isso dói) estas pérolas, escritas em menos de vinte e quatro horas, não podem deixar de trazer alguma paz:

O Lost in Translation, filme que costuma passar na ligação Faro-Lisboa da Mundial Turismo da Rede Expresso, é um dos objectos mais sobrevalorizados desde o Kmet e, posso já dize-lo com segurança, só vai ser ultrapassado nessa infeliz condição pelo Ramirez.

E, não de somenos relevância:

Os The National, como fica provado por mais estes dois exemplos disponibilizados pelo Lourenço com o intuito de nos aterrorizar e destruir o dia, são a banda mais irritante desde os Tindersticks(...) Filhos da puta, se um barrilzenho de napalm ali não era uma coisa bonitinha de se ver. Aposto que têm vidas "normais" por trás e o caralho (...) Estes gajos são a típica banda que escolhe um tom e depois investe tudo em expandi-lo através de cuidadoso arranjo de sinais exteriores de até-lemos-o-new-york-review-of-books. Estou em crer que os The National são a banda com o rácio mais favorável entre o sucesso e o nível de imaginação que lhes é exigida.

terça-feira, maio 26, 2009

o mercado das flores também tem muitas especificidades

o gestor

Auguste Comte, que influenciou mais o pensamento moderno do que a maioria das pessoas suspeita, decidiu, a certa altura na sua vida, inventar o mito de que os problemas do mundo desapareceriam se os humanos tivessem o conhecimento técnico e científico adequado. Alguns economistas pegaram nesta ideia, inventaram campo isolado para testar hipóteses (a economia), testaram-nas e tentaram aplicar o que encontraram nesse campo à sociedade, campo que de isolado não tem nada.

Ora, no meio deste processo todo, surgiu o pobre gestor. O gestor consegue estar sempre ali equilibrado num limbo confortável: a economia não é com ele, logo não responde perante os desmandos desta. Embora até perceba disso, não está muito confortável em falar disso. Ele é mesmo bom é em pegar em empresas e pô-las a funcionar. O gestor obedece bem àquela famosa frase de Keynes que ouvimos hoje em dia um pouco por toda a parte: "Practical men, who believe themselves to be quite exempt from any intellectual influence, are usually the slaves of some defunct economist".

Como disse a propósito da concentração do mercado editorial, a crença na universalidade da gestão profissional é uma espécie de feitiço moderno. O bom gestor é um bom gestor, e transita do hospital para editora e da editora para os correios. Mais, existe na chegada do gestor uma teleologia Comteana implícita. Isto é, com a chegada da gestão (no caso do sector do livro pela Leya, a Porto editora é um caso esquisito que não percebo bem) existe um progresso no mercado. Abre-se uma nova fase.

Para Comte, a civilização passava por três fases, cada uma melhor que a anterior: a fase teológica, onde "todas as ideias teóricas, quer gerais quer particulares, são de ordem puramente sobrenatural"; a fase metafísica, uma fase intermédia; e finalmente o estado mais elevado da civilização, a fase científica e industrial, onde "a sociedade, tomada colectivamente, tende a organizar-se da mesma maneira, dando-se como objectivo, único e permanente da actividade, a produção". O mercado livreiro chegaria assim, com advento da gestão moderna, a esta última fase, mais avançada que a anterior (Comte criou uma igreja para pregar as ideias dele).

Parece-me claro que a capacidade da gestão de aspirar a uma universalidade está intimamente relacionada com os critérios quantitativos que balizam a realidade do gestor. Ou seja, a imagem do mercado é numérica e os seus resultados, não o sendo por inteiro, são principalmente quantitativos. Ora, se este critério dificulta bastante qualquer interrogação quanto ao propósito de uma actividade de gestão que não o lucro (ou prejuízo) mensurável, facilita bastante que se eliminem as especificidades de cada área pela homogeneidade que as mesmas exibem .

Parece-me importante perceber que limites devemos estabelecer e de que especificidades ou homogeneidades estamos dispostos a abdicar. Tratar todos os mercados como se fossem a mesma coisa não faz grande sentido (mercadorizar quase tudo é também problemático, veja-se, até certo ponto, o caso das hipotecas de alto-risco para que os desfavorecidos pudessem comprar casa própria). Num livro sobre o sistema de saúde americano, Michael Porter e Elizabeth Teisberg afirmam (ao início, não li o resto) que é preciso mudar o paradigma de competitividade do sistema, porque este falhou; a satisfação das exigências da saúde implicam uma competitividade diferente e adaptada às necessidades.

Salvaguardando as devidas diferenças, parece-me que o mesmo se poderá dizer do mercado livreiro. É indiscutível que o mercado livreiro fornece bens dificilmente mensuráveis em critérios exclusivamente quantitativos, porque que têm um valor cultural indispensável. Os receios em relação ao aparecimento dos critérios universais da gestão 'profissional' no mercado do livro são legítimos porque alteram as regras, podendo prejudicar a generalidade dos intervenientes. Não é claro que isso venha acontecer, e muito menos inevitável. Contudo, parece-me importante que estejamos atentos a essa possibilidade.

ps.

Eu tinha escrito este texto há uns dias e estava indeciso se o publicaria ou não, até porque corro o risco de ofender a maior parte dos meus amigos, que são gestores. O texto é, em parte, influenciado por um livrinho muito interessante de John Gray que comprei na feira do livro chamado Al Qaeda e o Significado de Ser Moderno, editado pela Relógio de Água. A decisão de publicar veio depois de ler isto.

prospect

Na edição de Maio da revista Prospect, que acabei de visionar depois de carregar no link para a página web que tenho na minha barra de favoritos, 20 dias depois de ser publicada (ando há anos e tentar arranjar um método de saber quando sai o quê) ficamos a saber uma série de coisas, que eu gostava de partilhar com vocês. Algumas eu já sabia: Dead Aid de Dambisa Moyo é uma bela bosta. Não serve de muito acabar com a Ajuda Pública ao Desenvolvimento e dizer que os países africanos podem emitir títulos de dívida para que obtenham crédito nos mercados internacionais. No estado que esta merda está hoje é a mesma coisa que eu achar que o Marques Mendes tem hipótese de ganhar um heat ao Guilherme Tâmega na praia do CDS. Contudo, continuamos a gostar de Moyo e temos imensa fé que ela nos compense com uma visita ao IPAD para dar uma palestra. Como todos saberão, o IPAD anda há anos a defender que não se dê mais Ajuda Pública ao Desenvolvimento para que todos os funcionários possam passar o tempo naquele centro comercial super engraçado que há na avenida da liberdade, cujo nome me escapa. Bem, adiante. Na Prospect aprendemos também que alguém teve tempo de filmar uma entrevista ao Martin Amis a propósito não sei bem do quê, mas mete Joseph Conrad e Al-Qaeda, por isso é capaz de ser uma espécie de editorial do i. Ficamos também a saber que AS Byatt tem um problema, para além do problema de ninguém conseguir pronunciar o seu nome correctamente (o título do artigo é In possession of all the facts, e mesmo sem ler posso afiançar que se trata de um argumento que o James Wood usou não sei para quem há uns tempos). Outra informação interessante provém de haver mais um Skidelsky a escrever para a revista, para além do Robert e do Edward. E finalmente, a cereja no topo do bolo é haver um tipo português chamado Pedro Ferreira, professor de astrofísica na Universidade de Oxford, que escreve um artigo intitulado Videotaping the universe, onde aprendemos informação extremamente importante sobre telescópios que podem analisar imensa coisa. Ide ler e depois informem-me do que se passa que eu ando extremamente fatigado.

sábado, maio 23, 2009

quinta-feira, maio 21, 2009

putas

"Once when Henry was away for a few days at a conference at Bournemouth, I picked up a girl and brought her back. It wasn't any good. I knew it at once, I was impotent, and to save her feelings I told her that I had promised a woman I loved never to do this with anyone else. She was very sweet and understanding about it: prostitutes have a great respect for sentiment."

Graham Greene, The End of the Affair, Vintage Classics, p. 142.

quarta-feira, maio 20, 2009

a escola

Via Ana Cristina Leonardo, chego a este excelente texto de Ferreira Fernandes sobre a professora de História que tentou dar uma aula de educação sexual aos alunos (nem sei bem se a história é essa e já vi umas vinte reportagens sobre isso na Sic Notícias). Assim, sem pensar muito, lembro-me dos professores que apalpavam alunas nas aulas de educação física (havia um, o Lino, que tinha tanta classe que as apalpava no preciso momento em que elas tocavam com as mãos no boque depois de saltarem no trampolim), daqueles que berravam até os olhos saltarem das órbitas (e que nos enchiam de perdigotos), de uma que estava com a vagina sempre encostada ao bico da mesa (isto é capaz de ser imaginação minha), e da professora que fechou a braguilha ao aluno no nono ano (a mesma que chamou paneleiro a um gajo por ter furado a orelha). A escola sempre foi um sítio maravilhoso. Não é por nada que, há medida que os anos passam, cada vez mais queremos voltar para lá.

segunda-feira, maio 18, 2009

Graham Greene (2)


Nos últimos dias aprendi que este gajo também se chama Graham Greene, informação que nunca vou esquecer até ao fim da vida, embora não me importasse de o fazer.

Graham Greene

Tenho tido alguma dificuldade em encontrar nas páginas amarelas um pelotão de fuzilamento que me trate do pêlo. Queria uma coisa limpa, com pólvora de qualidade e uma baioneta, pelo sim pelo não, só para me dar a estocada final (não confio em pelotões de fuzilamento portugueses, mas os russos são careiros). Estou a ler o The End of the Affair pela primeira vez aos vinte e seis anos. Vinte e seis anos sem ler o The End of the Affair. Até à página quarenta e seis sublinhei, assim por baixo, sessenta e cinco por cento do livro.

quarta-feira, maio 13, 2009

menomale che Silvio c'è

Isto é absolutamente hilariante. Tirado daqui, um dos bons espaços que a internet oferece. Já conheci tanta gente inteligente que vota Berlusconi. Em Roma, onde vivi, não conheci nenhum. Verdade que não me esforcei muito. Em Inglaterra conheci uns quantos, gente inteligente, que estudava filosofia e tudo (pareço José Sócrates a falar de Vital Moreira). Não me lembro bem porque razão o faziam, mas sempre me pareceu ser por desespero pelas alternativas. O sistema político italiano não é propriamente estável.

segunda-feira, maio 11, 2009

a feyra

A feira do livro de lisboa tem, este ano (dizem-me que já tinha no ano passado), o magnífico pavilhão Leya (uma feira dentro da feira). O magnífico pavilhão Leya tem pouffes, um pequeno auditório e vitrinas. Dizem-me que tem muitas novidades e poucos fundos. Tem também, em respeito do espírito de qualquer feira, alarmes em ambas as entradas. É simpático. Não consigo concluir nada sobre isto. Acho triste. Alguns dirão que são sinais do tempo. O mercado livreiro vai (está?) mudar e mais novidades virão. Vai-se profissionalizar, vai adoptar as melhores técnicas de gestão (a universalidade da gestão é uma espécie de feitiço moderno; o bom gestor gere qualquer coisa. Salta do banco para o hospital e do hospital para a editora). Era demasiado fragmentado. Haviam poucas economias de escala, poucas sinergias, custos demasiado elevados. Tive uma vez numa conversa com o director da Leya, um Isaías qualquer coisa, onde ele disse que tinha lido os Irmão Karamazov e que gostava muito. Também disse que tinha despedido pessoas, o que lhe custava muito mas que tinha tratado todos um por um. Alguém lhe perguntou quantas pessoas é que ele tinha despedido mas ele não soube responder. Há um espaço entre os alarmes e as bancas que os ladeiam. Passem por aí, nem que seja para dar trabalho ao segurança.

a feira

Reparem bem, caras leitoras, no que se passa entre nos dez primeiros segundos do primeiro minuto. É maravilhoso. Se fosse aceite em tribunal, aquilo ilibava qualquer acusação. Numa perspectiva mais política e social, parece-me que o impacte das manifestações do dia do trabalhador seria bastante maior se toda a gente se vestisse como os Jackson 5 e se fizessem o que o Michael Jackson faz nesses dez segundos ao longo de toda a Avenida Almirante Reis. Eu, como qualquer gajo que se preze, gosta de sindicatos (os economistas não gostam, porque, em grande medida, também não gostam de economia). Considero-os importantes para o bom funcionamento de qualquer país. Agora, a minha outra metade de pessoa com extremo bom gosto não pode deixar de ficar preocupado sempre que vê um qualquer sindicalista a bramar na televisão. O sindicalista tem que ser um gajo inteligente e flexível, com boa preparação. Não pode ser um aparatchik ou alguém ideologicamente cego. A péssima ideia que as pessoas têm dos sindicatos parte exactamente desse problema. Não admira portanto que confundam forma com substância, quando não viram outra forma que não a presente.

quarta-feira, maio 06, 2009

esta capa é deslumbrante


Nicolson


Convenhamos que não é qualquer homem que se casa com uma pessoa chamada Vita Sackville-West, senhora que, vejo agora, manteve um romance com Virginia Woolf. Mais, Orlando de Woolf é inspirado em Vita. Citando do diário de Woolf, a 5 de Outubro de 1927: "And instantly the usual exciting devices enter my mind: a biography beginning in the year 1500 and continuing to the present day, called Orlando: Vita; only with a change about from one sex to the other".

quem é amigo, quem é?

Aconselho vivamente a leitura de tudo o que o Harold Nicolson escreveu. É um dos meus seres humanos preferidos. Reparem só neste detalhe biográfico:

"Nicolson and his wife practiced what today would be called an open marriage. They each had a number of same-sex affairs, and once Harold had to follow Vita to France, where she had "eloped" with Violet Trefusis, to try to win her back. However, they remained happy together – in fact, they were famously devoted to each other, writing almost every day when they were separated, for example, because of long diplomatic postings abroad. Eventually, he gave up diplomacy, partly so they could live together in England."

terça-feira, maio 05, 2009

"Research is providing support for the idea that creative people are more likely to have traits associated with mental illness. One study found that the incidence of mood disorders, suicide and institutionalisation to be 20 times higher among major British and Irish poets in the 200 years up to 1800. Other studies have shown that psychiatric patients perform better in tests of abstract thinking. Another study, based on 291 eminent and creative men in different fields, found that 69 per cent had a mental disorder of some kind. Scientists were the least affected, while artists and writers had increased diagnoses of psychosis."

No The Independent de hoje. Acho que era um pouco nítido para todos. Eu tive perfeita noção disso quando li que o Brian Wilson tinha aversão à água. O Beach Boy, esse mesmo.

sexta-feira, maio 01, 2009

magalhães

A turba acéfala, que busca de forma quase ensandecida 'a verdade' no caso do vídeo de propaganda do Partido Socialista, nunca deve ter visto o dito vídeo. Tão esfaimados estão por averiguar quem ordenou e quem cumpriu a ordem (se veio do Rato, se do Ministério, de Maria de Lurdes ou de José, quem gravou, quem autorizou a gravação) que não lhes li uma única linha sobre o vídeo em si. Ora, caso não tenham estado atentos, no vídeo ouve-se, em voz off, uma criança a dizer 'o Magalhães é o meu melhor amigo'. Existem quatro planos de actuação face a isto. O primeiro, mais urgente, requer que se encontre a criança que disse que o melhor amigo é um computador. A segunda, é averiguar se a criança não foi sujeita a waterboarding para dizer que um computador é o seu melhor amigo. A terceira, é saber quem é que é o gajo que decidiu que aquilo é boa publicidade. A quarta, é perceber como é que tanta gente discute o tema sem tomar atenção a isto. Armas de arremesso há muitas e a sua utilização não é exclusivamente dos políticos. É bom que a turba entenda isso.