segunda-feira, maio 11, 2009

a feyra

A feira do livro de lisboa tem, este ano (dizem-me que já tinha no ano passado), o magnífico pavilhão Leya (uma feira dentro da feira). O magnífico pavilhão Leya tem pouffes, um pequeno auditório e vitrinas. Dizem-me que tem muitas novidades e poucos fundos. Tem também, em respeito do espírito de qualquer feira, alarmes em ambas as entradas. É simpático. Não consigo concluir nada sobre isto. Acho triste. Alguns dirão que são sinais do tempo. O mercado livreiro vai (está?) mudar e mais novidades virão. Vai-se profissionalizar, vai adoptar as melhores técnicas de gestão (a universalidade da gestão é uma espécie de feitiço moderno; o bom gestor gere qualquer coisa. Salta do banco para o hospital e do hospital para a editora). Era demasiado fragmentado. Haviam poucas economias de escala, poucas sinergias, custos demasiado elevados. Tive uma vez numa conversa com o director da Leya, um Isaías qualquer coisa, onde ele disse que tinha lido os Irmão Karamazov e que gostava muito. Também disse que tinha despedido pessoas, o que lhe custava muito mas que tinha tratado todos um por um. Alguém lhe perguntou quantas pessoas é que ele tinha despedido mas ele não soube responder. Há um espaço entre os alarmes e as bancas que os ladeiam. Passem por aí, nem que seja para dar trabalho ao segurança.

14 comentários:

El-Gee disse...

neste caso em particular, nao compreendo o que estás a querer dizer. estás a criticar a cultura empresarial aplicada ao mercado dos livros?

eu, como apaixonado pelos livros, tambem nao os gosto de ver tratados apenas como mercadoria, mas voltamos ao tema de sempre - alguem tem de investir, senao nao se publica.

Ou publicam os autores, arriscando o seu proprio dinheiro, mas isso os autores nao querem ou nao podem.

O dinheiro - o tomar de risco - tem de vir de algures, nomeadamente de investidores, que precisam de ver um retorno

O mercado dos livros, nesse aspecto, até é relativamente simples de compreender: autor --> editor --> distribuidor (livraria).

ps: ja viste aquela nova maquineta que ha no UK, que é meio base de dados, meio impressora, e que imprime e encaderna imediatamente qualquer livro que esteja na sua base dados? é incrivel.

basicamente, acaba com os custos de stock e pode bem ser o fim das editoras: basta haver autores que negoceiam directamente com os canais de distribuicao, canais este que possuem maquinas apenas, em vez de estantes de livros.

filipe canas disse...

Não conheço a maquineta.

Eu não percebo o suficiente do mercado dos livros para o criticar de forma convicente, mas, pelo que leio, tem havido um descréscimo de oferta literária de qualidade (por muito lata que seja a definição) e há uma preponderância de novos livros em detrimento de fundos.

E no dia em que tivermos as livrarias cheias de novidades, não vai ser nada bom. O problema não é tanto tratar os livros como mercadoria, mas sim apenas tratar os livros como mercadoria porque o mercado assim o exige.

A ver se peço à Rita que te arranje um bom texto sobre isso.

(para mim é sempre estranho ouvir falar do mercado como algo exterior a tudo)

R. disse...

Luis,

Sempre se publicou. O problema destes investidores é que querem apenas ganhar dinheiro e não só não percebem nada de livros, como não têm amor aos mesmos.

Ou seja, se antes os editores publicavam aquilo que acreditavam ser literatura, e de que gostavam, hoje essas empresas publicam apenas aquilo que acreditam lhes vá dar dinheiro, de forma simples e rápida. O tal investimento de que falas não tem vindo a melhorar o mercado editorial, mas sim a piorá-lo.

A literatura ocupa cada vez menos espaço nas livrarias, e nos catálogos desses mesmos 'editores'. Está em voga uma cultura de novidade que não permite aos livros respirarem, e publica-se em série textos que são quase sempre os mesmos, com pequenas variações.

E, se antes iamos à feira para encontrar esses mesmos livros que desaparecem das livrarias em poucos meses, mas que são eternos porque são efectivamente literatura, hoje, no Stand da Leya, encontramos apenas novidades, como se estivessemos numa Bertrand. O problema disto é que se perde o acesso ao catálogo de editoras como a Dom Quixote e a Caminho, que publicaram livros que nunca perdem a actualidade e a beleza que lhes são inerentes.

É pena.

Graças a Deus pela Relógio d'Agua, ou pela Assirio, que nos dão Literatura a preço de saldo. E que nos mostram que um livro publicado nos idos anos 80, pode ser muito mais empolgante que um acabado de dar à estampa.

(não sei se tenho um bom texto sobre isto algures no meu PC, mas se fores para Londres de certeza que poderemos ter imensas boas conversas, regadas conveninentemente por alguns belos tintos, sobre o assunto.)

Mr B disse...

nao percebi a critica aos alarmes?

nao percebi o post diria mesmo!

tas a mandar vir com o que?

um espaco onde podes ler de graca mas de onde nao podes tirar livros?

filipe canas disse...

Poder ler os livros de graça, mas isso podes ler em toda a feira.

A crítica aos alarmes é que não têm nada que ver com o espírito de uma feira. É tudo banquinhas com pessoas lá dentro e depois chegas a um 'espaço' com alarmes, vitrinas e etc.

El-Gee disse...

a critica aos alarmes é irrelevante.

em relacao ao tema discutido acima pela Rita e pelo Uli, compreendo e concordo. No entanto, nao é por editoras como a Leya massificarem a oferta de nao-literatura que a boa literatura deixa de existir.

percebo que se enervem com o poder da Leya (ou de tudo o que seja nao-literatura no Mundo dos livros), mas atacar a propagacao da nao-literatura nao é a solucao para a propagacao da literatura. Se calhar interessaria uma solucao intermedia, onde grandes grupos editoriais tivesse a obrigacao legal de publicar 1 premio nobel por ano traduzido, mais um booker mais um nao sei que.

El-Gee disse...

(mesmo que perdesse dinheiro nessas edicoes em particular)

R. disse...

O problema é que, de certa forma, põem mesmo em causa o resto. Ou seja, é certo que as outras editoras podem publicar os 'bons livros'. O problema é, efectivamente, de mercado. Um grupo como o Leya tem um poder negocial que uma pequena editora não tem. Ou seja, os livros da Leya vão ocupar, nas livrarias, o espaço que poderia ser ocupado pelos livros, por exemplo, da Relógio d'Àgua. Assim sendo, as editoras pequenas não só não conseguem escoar a sua produção, como os leitores não conseguem ter acesso ao livro.

Além disso, um dia vão mesmo deixar de publicar, por não conseguirem vender. A menos que o público exija mais qualidade junto ao seu livreiro. O grande problema é que, há execpção de umas quantas pessoas (basta olhares o teu grupo de amigos) quem vai comprar um livro, passeia-se pela Fnac ou bertrand até que alguma capa lhe prenda a atenção. Não é que queira, especificamente, um livro mau. O problema é que não quer nenhum livro em especifico. Logo não exige nada do seu livreiro, porque não sabe o que exigir.

É tudo muito complicado. Muito, muito complicado.

O que ´´e tudo uma verdadeira estupidez porque, por exemplo, o Tigre Branco, está nos tops das livrarias há meses. O que significa que as pessoas também leêm os Bookers, e que estes não dão necessariamente prejuízo. Teve a sorte de ter sido publicado por uma grande editora, a Presença, o que lhe dá espaço e destaque numa livraria. Só isso.

Quanto aos alarmes, desculpem lá que vos diga, mas concordo perfeitamente com o Uli. Não é, de todo, o espirito da Feira. É uma coisa horrivel. Uma pequena Fnac no Parque Eduardo VII. Mais nenhum editor tem alarme, nem um 'espaço' em vez de um ou mais pavilhões. Ridiculo. Enfim...Dito isto, se a Leya me convidar para integrar os seus quadros, eu aceito.

Mr B disse...

eu continuo sem perceber muito bem.

estas a dizer-me que as editoras devem ter quotas de livros que devem publicar, e que nao podem decidir o que querem ou nao querem publicar? e inclusive que as vais obrigar a publicar livros que irao dar prejuizo?

Vender livros nao e facil e ainda decidem o que eu devo vender? (se eu fosse uma editora)

porque?

nao me parece mal, acho inclusive que todos os grupos empresariais de venda ao publico (brisa, edp, galp,sr. Alves da esquina) deveriam passar a incluir a venda de premios nobel.

ou as editoras e' que sao os culpados de tudo o que estaa mal?

publicar 1 nobel por ano?ao memso tempo entrara em vigor a lei que OBRIGA o luis a fazer uma boa accao por ano...

isto e para livros, mas sera aplicado tambem a discos, arte, danca... (uma boa accao do luis por cada "arte")

deixa o mercado desenvolver-se.
quem se interessa procura, quem e bom sobressai.

para os restantes ha lojas de especialidade, 2a mao, net

se vivesses em tras os montes se calhar interessa te ter um grupo leya capaz de ter uma distribuicao mais eficiente e que coloca algum livro da d. quixote, quando a d. quixote nunca la tinha chegado antes.

sim as novidades, sim aos grandes grupos, sim as raridades, sim as lojas/editoras especializados e que trabalham por "amor" aos livros...ha espaco para todos sem ser necessario por mais regras.

acho mesmo muito interessante que aceitemos regras para as empresas e para nos nao.

Luis quando a lei da publicacao de um nobel por ano entrar em vigor, entrara tambem em vigor a lei em que OBRIGA o luis a fazer uma boa accao por ano.


nos queremos ter opcao de escolha, mas nao queremos dar opcao de escolha as editoras!

e sobre os alarmes a mm coisa...se a editora lhe roubam os livros, por consequencia iram-se vender menos livros, logo os autores recebem menos pelas suas obras.

mas desta vez esquecamos artistas, manter a feira do livro cool e sem alarmes ou vitrines

Noa me parece que os alarmes sejam gratis por isso alguma razao deve haver para la estarem a nao ser que em Portugal ninguem roube.

(Premio nobel nao tem Iva e outras inciiativas que nao prejudiquem as editoras e se possivel ate incentivem...mais razoavel, se ha alguma intervencao a fazer e estimular e nao decidir o que deve ou nao deve ser lido)

filipe canas disse...

Tony,

Há aí uma série de confusões e, por vezes, não percebo bem a quem te diriges.

Eu não falei em quotas, nem em regras, nem nada.

Quanto aos alarmes (que não interessam nada), acho só parvo. A Bertrand, que pertence ao Bertelsmann, um grupo umas quinhentas vezes maior que a Leya, tem banquinhas como toda a gente, sem alarmes.

Quanto ao mercado livreiro, a Rita tem razão. A 'profissionalização' do mercado cria condições que anteriormente não se verificavam e que deixam as editoras tradicionais em maus lençóis porque não conseguem competir nos pontos de venda.

Claro que elas se podem reinventar e que existe a net e a especialidade. Mas a distância dos bons livros do grande público - o que não vai à especialidade nem à net - é negativa e pode, efectivamente, acabar com a literatura pois seca muitas dessas editoras.

Quanto a obrigações, eu gostava de saber se o Luís não é obrigado a uma série de coisas.

É que a mim parece-me que sim. Ele, tu e todos nós - é a condição de vivermos em sociedade.

Mr B disse...

Nao e uma questao de me dirigir a alguem, pelo que percebi somos 4 neste forum.

quotas e quando se fala em que as editoras teem que publicar um nobel ou um qualquer outro titulo por obrigacao, porque alguem decide que esses sim sao os livros que devem ser lidos.

sobre as pequenas editoras, nao conseguem competir no local de venda?
tu que ate estas agora na Central, nao consigo perceber esse argumento.

parece que para musica e cinema tudo bem se copiar e piratear ou distribuir gratis, mas os livros nao.
nao seria preferivel esses pequenos se reinventarem (a maquina UK que o luis falou, lojas proprias, net..." parece que os livros ou os pequenos sao sempre vistos como coitadinhos e que devem ser protegidos.

concordo com a proteccao mas nao para atrasar o desenvolvimento de um mercado que ja sofreu "ataques" muito mais fortes.

Sobre as obrigacoes, existem para respeitar os outros, nao me parece razoavel exigir que uma editora/ pessoa tenha que ser uma especialmente civica por obrigacao.

ha os deveres e direitos, ja as obrigacoes, custa-me um bocado aceitar!

Anónimo disse...

Olá!

Não tenho por hábito ir à feira do livro, lembro-me que antigamente era costume, mas os costumes já não são os mesmos.

E como do mercado livreiro percebo pouco, apenas queria colocar-vos uma pergunta, será que a Leya não paga e bem à organização para ter esse tal espaço com puffes e etc?!?

Será que os hábitos de leitura dos portugueses não são diferentes hoje em dia?

Será que não há espaço para todos os tipos de livrarias e editoras?

bjs,

Duarte

filipe canas disse...

Duarte,

Não faço ideia que quanto a Leya paga à organização da feira. Acho que a Feira é organizada em conjunto, com apoio da Câmara, mas não estou certo.

Não sei nada sobre os hábitos.

Há espaço, o problema é mais as regras do jogo. É que a jogar as regras ditadas pelas grandes, não vai haver grande espaço, acho eu.

É um mercado com muitas específicidades.

Anónimo disse...

Canas, compreendo o que dizes. Mas parece-me que em quase todos os mercados as "regras são flexíveis".

O que acho é que as Editoras mais pequenas se se queixam deviam era agir com criatividade, eficiência e tentar marcar claramente a diferença.