domingo, julho 20, 2008

serviço público

Nitidamente o momento mais erótico de sempre da televisão portuguesa deu-se hoje, às sete e pouco da tarde. Os ingredientes eram: José Bento dos Santos, Marta Crawford, Trufas Negras, Trufas Brancas. O resto deixo à vossa imaginação.

quinta-feira, julho 10, 2008

Pó dos Livros (2)

A livraria Pó dos Livros é das boas livrarias que a grande alface tem para oferecer. Essa, a Buchholz e a Quadrante, esta última que já não frequento há uns tempos (é na Filipe Folque, perto do mítico restaurante 'A Colina' onde eu vi pela primeira vez na minha vida uma senhora a jantar sozinha porque o seu par não se dignou a aparecer e onde o meu avô, em 2006, naquilo a que se pode considerar uma réplica do sismo registado a 25 de Abril de mil novecentos e setenta e quatro, ameaçou matar toda a gente que lhe tentasse expropriar o que lhe pertencia, nomeadamente membros do Bloco de Esquerda). O atendimento é cortez e solícito. A madeira das estantes é bonita, tem café e é muito perto dos jardins da Gulbenkian, onde penso um dia vir a escrever o meu magnum opus enquanto uma ninfeta me espalha manteiga de karité pelo corpo.

Pó dos Livros

segunda-feira, julho 07, 2008

para um amigo

"É uma característica das pessoas que primeiro são doidas e por fim qualificadas de dementes o facto de deitarem pela janela fora (da sua cabeça) cada vez mais e sempre de forma contínua a sua riqueza mental e simultaneamente na sua cabeça essa sua riqueza mental se multiplicar com a mesma velocidade com que elas a deitam pela janela fora (da sua cabeça). Elas deitam cada vez mais riqueza mental pela janela fora (da sua cabeça) e ela vai sendo, na sua cabeça, cada vez mais e tornando-se naturalmente cada vez mais ameaçadora e por fim já não é suficiente o deitar fora (da sua cabeça) a sua riqueza mental e a cabeça já não consegue aguentar a riqueza mental que nela se vai incessantemente multiplicando e acumulando, acabando por explodir".

Thomas Bernhard, O Sobrinho de Wittgenstein (trad. José A. Palma Caetano). Assírio e Alvim, 2000.

terça-feira, julho 01, 2008

flâneur

(o meu avô já não se lembra de mim). Cheguei e prestei visita. (a minha avó, com os olhos à altura dos dele, curvada por causa da cadeira de rodas, pede-lhe que me reconheça). Dá o programa da tarde na televisão. Coitados dos velhos que ficam em casa à tarde. Sair também não é fácil. Não há passeios para cadeiras de rodas e a calçada está cheia de buracos. E os buracos estão cheios de beatas. Porcos de merda. (jorge, quem é que está aqui? quem é ele? já não te lembras? é filho de quem?). Vou beber um café e um bronco grita para uma gaja "há-des cá vir, há-des cá vir". Pensei no acordo ortográfico; há-des dá um ar grego à coisa. (jorge, é filho da isinha. é o filipe. não se lembra diz-me ela. a voz treme-lhe por saber que provavelmente, um dia, nem dela se lembrará. ela que está fechada naquela casa há 10 anos). Três obesos pedem minis pretas e riem. A empregada fala com um deles. Tem um Maserati diz ela. É dinheiro do petróleo diz ele. (ela resigna-se. eu digo que ele está a fingir. põe os olhos na televisão. falam do ronaldo). O arco do cego é um jardim com um parque de estacionamento coberto ao lado. Filhos da puta. Puseram um parque de estacionamento coberto ali. Ao lado de um jardim. O jardim não tem nada. Há um drogado deitado a apanhar sol. (vai comer batatas fritas seu sortudo! ele gosta muito de batatas fritas. é o que ele mais gosta. dê-lhe todos os dias, digo. faz-lhe mal à saúde diz-me ela). Procuro um Remarque para esquecer. Só há a edição de bolso da Europa-América. Uma merda de edição. A página nem é centrada. A Oeste nada de novo.