sexta-feira, dezembro 25, 2009

Afirma Pereira

Custa-me muito, imenso, compreender como é que o Sporting decidiu contratar o João Pereira. Eu esperava que, mais cedo ou mais tarde, o Sporting cometesse uma asneira deste tamanho. No entanto, confesso que uma golden share de mim achava que nunca seria sob o reinado de Bettencourt, our very own Chicago Boy. Contratar o João Pereira é, antes de mais, e como diz, cheio de razão, o António Figueira, um claro ataque ao valor simbólico de ser Sportinguista. O verdadeiro Sportinguista não se importa de perder, desde que ache que fez um bom trabalho. É um ser que lida mal com ganhar à trafulhice, em privado, naturalmente. Um benfiquista, em privado, acha que o benfica está no caminho certo depois de ter sido escandalosamente beneficiado numa partida. O sportinguista não liga demasiado àquilo e não considera o clube uma parte essencial da sua personalidade - não ser sportinguista não lhe causaria um défice identitário (como causaria a um benfiquista). Esta postura, distante e respeitosa, muito mais racional do que é normal na clubite, torna o sportinguista um ser que carrega uma perene dor na consciência. Com a presença de João Pereira no balneário, essa cruz torna-se insuportável. Mais ainda quando João Pereira, horas depois de ter assinado, diz que será do Sporting até à morte ladeado por ilustres membros da facção neo-nazi da Juve Leo. 'Ser do Sporting até à morte' é uma frase que não deixa nada por dizer. Nenhum Sportinguista é do Sporting até à morte, por reconhecer, exactamente, que o Sporting é um clube de futebol e outros desportos e que existem coisas muito mais importantes que isso. É bom conviver com o Sporting, mas ele não faz parte de quem somos. Nesse sentido está no lugar certo. Para mim, enquanto o João Pereira por lá andar, eu prefiro fingir que o Sporting não existe. Sem mágoa, continua tudo bem.

quarta-feira, dezembro 16, 2009

Ok. Antecipando qualquer crítica, eu concedo que a passagem anterior do Martin Amis está ao alcance do Roth. É uma boa passagem, que merece ser lida e relida com enorme prazer por uma pessoa que acha imensa piada ao cliché da suposta leviandade da traição sexual feminina, mas não constítui pedaço inesquecível de prosa. Todavia, tendo em conta que ainda só estou na página quinze do meu primeiro romance do Martin Amis, atentem bem a esta passagem absolutamente sublime:

"Fear walks tall on this planet. Fear walks big and fat and fine. Fear has really got the whammy on all of us down here. Oh it's true, man. Sister, don't kid yourself...One of these days I'm going to walk right up to fear. I'm going to walk right up. Someone's got to do it. I'm going to walk right up and say,
Okay, hard-on. No more of this. You've pushed us around for long enough. Here is someone who would not take it. It's over. Outside. Bullies, I'm told, are all cowards deep down. Fear is a bully, but something tells me that fear is no funker. Fear, I suspect, is really incredibly brave. Fear will lead me straight through the door, will prop me up in the alley among the crates and the empties, and show me who's the boss...I might loose a tooth or two, I suppose, or he could even break my arm - or fuck up my eye! Fear might get carried away, like I've seen them do, pure damage, with nothing mattering. Maybe I'd need a crew, or a tool, or an equalizer. Now I come to think about it, maybe I'd better let fear be. When it comes to fighting, I'm brave - or reckless or indifferent our just unjust. But fear really scares me. He's too good at fighting, and I'm just too frightened anyway."

Martin Amis (1984), Money, London: Vintge Books, p. 4.

Roth is dead, long live Martin Amis


"In my experience, the thing about girls is - you never know. No, you never do. Even if you actually catch them, redhanded - bent triple upside down in mid-air over the headboard, say, and brushing their teeth with your best friend's dick - you never know. She'll deny it, indignantly. She'll believe it, too. She'll hold the dick there, like a mike, and tell you that it isn't so."

Martin Amis (1984) Money, London: Vintage Books, p. 15.

Na terra de Saramago

No meu local de trabalho, entre os nomes das várias senhoras da limpeza, conta-se uma Umbelina, uma Vivelinda e uma Gurmesinda.

domingo, dezembro 13, 2009

os portugueses

"Existe um impasse na vida política portuguesa? Existe. E não adianta andar numa chuva de acusações aos “políticos” pela sua “irresponsabilidade”, porque bem vistas as coisas, ninguém vota nos políticos que podiam fazer a diferença, a comunicação social abate-os para gaúdio dos piores, e ninguém, a começar pelos portugueses, está disposto a votar em soluções que impliquem risco e dificuldades. A situação actual é um bom espelho disso mesmo: os portugueses quiseram um PS sem maioria, dois partidos tribunícios a crescer e a única alternativa do governo enfraquecida. Ou seja, os portugueses quiseram protestar mesmo que isso significasse a ingovernabilidade. E quiseram-no muito conscientemente, porque a situação actual foi desejada pelo eleitorado, até muito racionalmente. Querem um Estado que continue a dar-lhes o que tem e o que não tem (votaram no PS), querem palco para as críticas demagógicas e populistas em que se reconhecem (votaram no PP e no BE) e não querem ninguém a mandar muito, porque, se querem estado máximo, querem governo mínimo (e por isso retiraram a maioria ao PS)."

Esse excerto foi retirado de um texto de José Pacheco Pereira, que podem ver na íntegra aqui. Mesmo se ignorarmos o ressaibo que condimenta cada palavra, o que é muito difícil, não posso deixar de achar absolutamente irónico que este texto tenha sido escrito pelo (segundo dizem) grande arquitecto do desaire eleitoral do PSD. Que alguma alma caridosa lhe compre um bilhete para Lanzarote.