Há nítidamente um sem número de assuntos sobre os quais a minha opinião é necessária. Desde o maravilhoso livro que eu estou a ler (Cosmopolis de Stephen Toulmin), à problemática da literatura enquanto forma de poder, até à metanarrativa do moderno, passando pela mcdonaldização da miséria em Slumdog Millionaire e culminando na incapacidade de verter em forma de palavras a beleza do ser humano que se chama Freida Pinto. Há também a questão da M.I.A. estar grávida de um pequeno tigre tamil, mas sobre essa eu estou a escrever um artigo para uma revista científica.
E já que se fala de ciência, eu gostava de falar de meteorologia, que é precisamente o tema da pequena crónica semanal do António Guerreiro no Expresso. Contudo, antes de escrever o que quer que seja sobre a crónica desta semana, impõe-se um pequeno encómio, em jeito de agradecimento, ao crítico literário. O AG é um ser maravilhoso que merece uma página inteira de escrita livre no suplemento onde escreve. Já a teve e deixou de a ter. É obrigatório, para o estatuto do país, que se reverta à situação anterior. O AG é também a única pessoa que escreve sobre filosofia de forma consistente num jornal português (o Desidério Murcho escreve sobre uma espécie de filosofia cujo único objectivo é subtraír à filosofia tudo o que esta tem de filosófico). É tão sublime AG que, nos melhores livros de 2008, escolheu apenas autores portugueses, a maior parte dos quais poetas, pelos quais eu não tenho interesse nenhum mas que sei que devem ser absolutamente indispensáveis para a continua edificação desta massa heterógenea a que chamamos país.
Indo à crónica. AG escreve que a Meteorologia é uma forma de poder, afirmação com a qual eu não posso discordar. Contudo, para o autor, a Meteorologia é uma forma de poder em virtude dos pârametros pelos quais define o estado do tempo. Isto é, o sujeito da Meteo, o sujeito com o qual esta comunica, é, conclui AG, o homem urbano médio, que considera 'bom' tempo solarengo e 'mau' o tempo chuvoso. É nesta subjectivização, que impõe um juízo valorativo, que reside uma forma de poder.
A abordagem é interessante, mas falha o ponto central. O ponto central é que a Meteo promoveu-se a uma categoria pseudo-científica e influi, de forma sobejamente exagerada, no nosso quotidiano. Todos os dias somos bombardeados com previsões sobre o estado do tempo nos próximos dias, vagas de calor, de frio, de chuva, que condicionam a nossa maneira de viver e acabam por influenciar o nosso livre-arbítrio. Deixamos de fazer porque pode ser impossível de o fazer e, assim, nem nunca o tentamos. Não dá porque, hoje, o tempo de depois de amanhã não o permitirá. A Meteo, enquanto forma de poder, aposta mais nesse jogo do que na subjectificação do homem urbano médio, embora seja para esse que fala. As análises não se excluem mutuamente. Talvez até se completem. E são capazes até de dizer mais sobre as ideias centrais em que o mundo em que vivemos assenta, do que a maioria concederá.
Retornando ao parágrafo inicial, e deixando entreaberto o meu Hegelianismo não dogmático, vou exercer poder sobre vocês, caras leitoras, precisamente através da negação desse poder. À la Bartleby, eu tenho imensa coisa para dizer sobre imensa coisa interessante, mas prefiro não fazer nada. Como me explicou António Guerreiro em tempos, aproveitando a ideia central de Agamben, existe uma forma de potência (potere, de poder) que passa exactamente pela rejeição desse mesmo poder. É isso que eu prefiro fazer.
E já que se fala de ciência, eu gostava de falar de meteorologia, que é precisamente o tema da pequena crónica semanal do António Guerreiro no Expresso. Contudo, antes de escrever o que quer que seja sobre a crónica desta semana, impõe-se um pequeno encómio, em jeito de agradecimento, ao crítico literário. O AG é um ser maravilhoso que merece uma página inteira de escrita livre no suplemento onde escreve. Já a teve e deixou de a ter. É obrigatório, para o estatuto do país, que se reverta à situação anterior. O AG é também a única pessoa que escreve sobre filosofia de forma consistente num jornal português (o Desidério Murcho escreve sobre uma espécie de filosofia cujo único objectivo é subtraír à filosofia tudo o que esta tem de filosófico). É tão sublime AG que, nos melhores livros de 2008, escolheu apenas autores portugueses, a maior parte dos quais poetas, pelos quais eu não tenho interesse nenhum mas que sei que devem ser absolutamente indispensáveis para a continua edificação desta massa heterógenea a que chamamos país.
Indo à crónica. AG escreve que a Meteorologia é uma forma de poder, afirmação com a qual eu não posso discordar. Contudo, para o autor, a Meteorologia é uma forma de poder em virtude dos pârametros pelos quais define o estado do tempo. Isto é, o sujeito da Meteo, o sujeito com o qual esta comunica, é, conclui AG, o homem urbano médio, que considera 'bom' tempo solarengo e 'mau' o tempo chuvoso. É nesta subjectivização, que impõe um juízo valorativo, que reside uma forma de poder.
A abordagem é interessante, mas falha o ponto central. O ponto central é que a Meteo promoveu-se a uma categoria pseudo-científica e influi, de forma sobejamente exagerada, no nosso quotidiano. Todos os dias somos bombardeados com previsões sobre o estado do tempo nos próximos dias, vagas de calor, de frio, de chuva, que condicionam a nossa maneira de viver e acabam por influenciar o nosso livre-arbítrio. Deixamos de fazer porque pode ser impossível de o fazer e, assim, nem nunca o tentamos. Não dá porque, hoje, o tempo de depois de amanhã não o permitirá. A Meteo, enquanto forma de poder, aposta mais nesse jogo do que na subjectificação do homem urbano médio, embora seja para esse que fala. As análises não se excluem mutuamente. Talvez até se completem. E são capazes até de dizer mais sobre as ideias centrais em que o mundo em que vivemos assenta, do que a maioria concederá.
Retornando ao parágrafo inicial, e deixando entreaberto o meu Hegelianismo não dogmático, vou exercer poder sobre vocês, caras leitoras, precisamente através da negação desse poder. À la Bartleby, eu tenho imensa coisa para dizer sobre imensa coisa interessante, mas prefiro não fazer nada. Como me explicou António Guerreiro em tempos, aproveitando a ideia central de Agamben, existe uma forma de potência (potere, de poder) que passa exactamente pela rejeição desse mesmo poder. É isso que eu prefiro fazer.
2 comentários:
so conhecia o cantor brasileiro antonio guerreiro!!!
existe mesmo um AG que escreve sobre metereologia???
manda me links sff
deve ser um Ser soberbo
concordo mt com o ultimo paragrafo.
quanto a previsao do tempo, nunca vejo, precisamente para nao ser influenciado por ela. nesse sentido, AG acaba por por em palavras o que eu tb sinto, ha muito.
bom post.
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