"De certa maneira, esta concepção do 'poema contínuo', da obra como poema único que pode ser ampliado sem quebras, responde à exigência de caminhar para um ponto onde só a linguagem age, com todo o seu poder, suprimindo a pessoalidade e, de certa maneira (não como Mallarmé, mas também não o ignorando), erradicando o autor. Na poesia de Herberto Helder não há psicologia, nem confidencialidade, nem biografia - estamos num outro mundo, mais difícil de reconhecer e habitar. O que nela emerge é uma paixão puramente literária.
Ora, em 'tempos de redundância', o grande 'escândalo' de Herberto Helder é o de se furtar à esfera mundana da 'vida literária', deixando que apenas a sua obra exista e siga o seu curso sem quaisquer interferências do exterior. Repare-se que a única entrevista que se lhe conhece é uma 'auto-entrevista'.
Esta atitude, que não devemos reconduzir a uma mera 'idiossincrasia', ganha hoje um sentido fundamental. O que é que se acelerou nas últimas décadas? Acelerou-se a perda de autonomia dos escritores e do campo literário em geral, um campo que deixou de reivindicar o direito a ser ele próprio a definir os princípios que o legitimam. A legitimidade passou a ser outorgada pela instância do mercado e por factores mundanos, que ditam as regras da consagração. E a literatura de entretenimento ganhou um poder desmesurado, quase deixou de ser reconhecível como tal, como se só ela existisse. Por isso é que a obra de Herberto Helder é intempestiva: conduz-nos para um espaço e um tempo que lançam um forte desafio a todo o contexto, não apenas o literário; fala um 'idioma' que é cada vez mais difícil escutar".
António Guerreiro in Actual, 11.10.2008
Ora, em 'tempos de redundância', o grande 'escândalo' de Herberto Helder é o de se furtar à esfera mundana da 'vida literária', deixando que apenas a sua obra exista e siga o seu curso sem quaisquer interferências do exterior. Repare-se que a única entrevista que se lhe conhece é uma 'auto-entrevista'.
Esta atitude, que não devemos reconduzir a uma mera 'idiossincrasia', ganha hoje um sentido fundamental. O que é que se acelerou nas últimas décadas? Acelerou-se a perda de autonomia dos escritores e do campo literário em geral, um campo que deixou de reivindicar o direito a ser ele próprio a definir os princípios que o legitimam. A legitimidade passou a ser outorgada pela instância do mercado e por factores mundanos, que ditam as regras da consagração. E a literatura de entretenimento ganhou um poder desmesurado, quase deixou de ser reconhecível como tal, como se só ela existisse. Por isso é que a obra de Herberto Helder é intempestiva: conduz-nos para um espaço e um tempo que lançam um forte desafio a todo o contexto, não apenas o literário; fala um 'idioma' que é cada vez mais difícil escutar".
António Guerreiro in Actual, 11.10.2008
3 comentários:
Tambem acho mt bom
Nunca li foi o Herberto Helder, mas a seu tempo será lido.
Ha muita gente na fila de espera. Por alto, diria cerca de 100.000 paginas.
(A sorte é que um poema se le rapido e pode ser que compre um HH para ler no comboio. Mandas-me?)
Mando sim.
Diz-me qual queres.
pa um qualquer, fininho. uma opera.
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