sexta-feira, março 30, 2007

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Terão as mulheres sonhos molhados?

quarta-feira, março 28, 2007

Zé Fernandes e a Cidade

"Mas o que a Cidade mais deteriora no homem é a inteligência, porque ou lha arregimenta dentro da banalidade ou lha empurra para a extravagância. Nesta densa a pairante camada de Ideias e Fórmulas que constitui a atmosfera mental das Cidades, o homem que a respira, nela envolto, só pensa todos os pensamentos já pensados, só exprime todas as expressões já exprimidas - ou então, para se destacar na pardacenta e chata rotina e trepar ao frágil andaime da gloríola, inventa num gemente esforço, inchando o crânio, uma novidade disforme que espante e que detenha a multidão como um monstrengo numa feira. Todos, intelectualmente, são carneiros, trilhando o mesmo trilho, balando o mesmo balido, com o focinho pendido para a poeira onde pisam, em fila, as pegadas pisadas; - e alguns são macacos, saltando do topo de mastros vistosos, com esgares e cabriolas. Assim, meu Jacinto, na Cidade, nesta criação tão antinatural onde o solo é de pau e feltro e alcatrão, e o carvão tapa o céu, e a gente vive acamada nos prédios como o paninho nas lojas, e a claridade vem pelos canos, e as mentiras se murmuram através de arames - o homem aparece como uma criatura anti-humana, sem beleza, sem força, sem liberdade, sem riso, sem sentimento, e trazendo em si um espírito que é passivo como um escravo ou impudente como um histrião... E aqui tem o belo Jacinto o que é a bela Cidade!"

Eça de Queiroz, A Cidade e as Serras, Edição Livros do Brasil, Lisboa, 1901, pp. 87-88.

quinta-feira, março 22, 2007

Não percebo

Eu acho sempre, à partida, que não percebo nada de nada.

É uma técnica que uso.

Está relacionado em parte com a minha falta de confiança e com a noção de que há muito para aprender e muitíssimo que ainda não sei e que nem sequer vou saber.

Claro que já reflecti, e tento reflectir diariamente, sobre muitas coisas que não percebo. Penso nas coisas, dou voltas e voltas.

Percebê-las, não explicá-las.

Faço isto muitas vezes com pessoas.

O que é que faz este gajo que acena ás pessoas no meio da rua?

Na verdade não sei, mas parece, pelo enorme sorriso com que ele presenteia qualquer transeunte que buzine, parece-me estar feliz e isso basta-me. Não tenho grande explicação, mas percebo que o faça feliz.

Faço isso também quando vejo pessoas que parecem estar totalmente deslocadas. Como por exemplo os tão mal tratados (vergonhosamente diga-se) vendedores de flores à noite. Imaginem vocês o que deve ser estar a milhares de quilómetros do Bangladesh, da Índia ou do Paquistão a vender flores a putos bêbados no meio do bairro alto?

De certeza que muitos têm uma família, uma mulher, filhos em Islamabad, Lahore, Bombaim, mas estão ali durante a noite. O que move uma pessoa assim? Não sei.

Posso especular. Diria especialmente necessidade e amor àqueles que deixou em casa, a milhares de quilómetros.

E percebo. Percebo que assim tenha de ser. É uma espécie de felicidade. É o preenchimento de uma vida. Uma vida em prol daqueles que se ama.

Tenho no entanto muitas dificuldades em perceber Góticos.

Estava ontem a pensar neles. Especialmente góticos que vivem num país tropical.

É que eles não parecem felizes e não parecem querer ter qualquer coisa a ver com esse sentimento. Deve causar-lhes uma certa repugna ser felizes. Andam sempre com um ar enfadado, lixados com a vida, em constante fuga do sol.

Não percebo mesmo.

Ajudem-me.
Vai na volta trabalham todos em call-centers.

segunda-feira, março 19, 2007

Telefonistas

Quando eu tiver uma empresa minha, ou seja, lá para quando todos os sonhos/pesadelos do Aldous Huxley e do George Orwell se concretizarem, a primeira coisa que eu vou instituir vai ser um call center.

Um bom call center é provavelmente o melhor instrumento de desresponsabilização que existe numa empresa.

As pobres coitadas das funcionárias não têm culpa nenhuma e não têm cara. Assim sendo não têm nada a temer.

Têm sim ordem estritas que têm que cumprir sob pena de serem despedidas (acham elas).
Assim sendo, é-lhes por isso, totalmente proibido importunar qualquer pessoa que seja que possa ter tomado uma decisão.

Aliás, o critério deve ser mesmo esse. Quem decide não fala. Para falar estamos cá nós que não percebemos nada de como é que se passou o que se passou.

Claro que não percebem porque acham que a empresa funciona efectivamente. São indoctrinadas nesse sentido.

Lêem vezes sem conta o que tem que dizer em cada situação. E quando se apropria (muitas vezes por aproximação) debitam aquilo que têm na cabeça decorado (quase sempre com vozes irritantes).

Pior ainda é que, só param de debitar quando berram com elas. Mesmo quando berramos, por vezes, elas teimam em acabar aquelas linhas estranhas cheias de vocabulário insosso.

É tão importante ter um call center. Apoio ao cliente como elas, orgulhosamente, chamam ao que fazem.

Elas apoiam no entanto é a empresa, especialmente os incompetentes que tomam decisões erradas e com quem ninguém vai alguma vez falar.

E eu, pelo menos, não tenho lata para gritar com elas.

Porque na verdade, a única culpa que elas têm, é de não conseguirem pensar por elas próprias.

sexta-feira, março 16, 2007

do que eu me fui lembrar...




Que clássico que era ver os jogos olimpicos quando se era puto.

Era maravilhoso aquilo. Atletas na melhor forma a darem o tudo por tudo para obterem a medalha de ouro.

Eu sabia o nome de quase todos, especialmente dos gajos da ginástica e dos gajos da velocidade.

Haviam muitos mitos. Muitos.

E eu nunca mais me tinha lembrado deles.

Que não se lembra do Carl Lewis, do Mike Powell e o Michael Johnson?

E dos eternos duelos no salto em comprimento entre o Carl Lewis e o Mike Powell?

Sapatos

Será possível que os mocassinos (adoro em Português) se tenham reduzido um pouco durante a noite.

É que durante a semana toda estavam óptimos. Parecia que andava de ténis.

Hoje estão a destruir-me os pés. A uma velocidade alarmante diga-se.

Minutos depois de sair de casa já andava coxo (mas consegui dançar no metro).

Concluo, para grande tristeza minha, que estou com os pés inchados, gordos, anafados.

É mesmo coisa de velho ter os pés inchados.

Que velho que eu estou.

da amizade e do aspecto físico

Algumas pessoas parecem ver uma estranha relação entre a forma como uma pessoa é fisicamente e as amizades que tem.

Ontem estava a falar com uma amiga de uma amiga minha e ela disse que gostava muito dessa minha a amiga, que já se conheciam há algum tempo, que se davam muita bem e que o nome dela era igual ao nome do da minha amiga ao contrário e que eram as duas pequeninas, com caras queridas e redondinhas, uma loira a outra morena.

Nunca percebi bem esta estranha relação entre o aspecto físico e amizades.

quinta-feira, março 15, 2007

Café

Hoje de manhã acordei mesmo bem disposto.

A minha boa disposição matinal está directamente ligada ao estado do tempo obviamente. Como tenho por hábito dormir com os estores totalmente abertos (e com a janela quando a temperatura ssim o permite) mal o despertador toca, ainda de olhos entreabertos, consigo discernir qual vai ser a minha disposição. Como vou encarar o dia.

Ora o dia de hoje estava radioso e compensou as poucas horas de sono que tinha tido.

Tomei o meu longo pequeno almoço enquanto falava por messenger com um amigo meu em Shanghai e depois dirigi-me à (hã - com acento) casa de banho para tratar da minha elaboradissima toillete.

Passado uns tempos, depois de umas tentativas para fazer o nó de gravata - é sempre complicado com gravatas novas - lá estava eu pronto para me por á estrada.

Peguei nos items todos a fiz menção no último post (esqueci-me de mecionar o Brave New World do Aldous Huxley que ando a ler nos transportes públicos. Que bom livro é. Tenho que escrever qualquer coisa sobre ele) e desci no elevador.

Cheguei ao café, que é a menos de 10 metros da minha casa, só para comprar uma água e mandar umas bocas ao Sr. Augusto, o maior benfiquista do mundo ( e provavelmente o único que acredita na inocência do Vale e Azevedo).

Como estava bem disposto disse-lhe (só para o fazer feliz):

- Então Sr. Augusto, quanto é que fica hoje?

E ele lá me disse um resultado qualquer.
Em resposta em perguntei-lhe a que hora era o jogo. Ele disse-me que era ás 9.
Eu disse:

- Pq tão tarde?

Ao que ele responde:

- Porque o Sporting joga ás 7. Ainda estão na Taça Uefa não é?

E pronto. Toda o meu fair play de apoiante de qualquer equipa Portuguesa contra uma estrangeira, coisa com a qual eu nem pactuo particularmente, por água abaixo.

Eu devia saber. Não se pode confiar.

Mas o dia estava lindo de qualquer forma.

segunda-feira, março 12, 2007

O pente

Que bom que foi hoje.

Estava a sair de casa com um fato antigo do meu pai.

É bem giro o fato. Cinzento mas o tecido tem umas minúsculas, quase imperceptíveis, pintinhas brancas.

O corte é bem clássico. As calças são tão apertadas junto aos sapatos que, para meter as meias outra vez no joelho, quase que rasgo o fato.

Chego ao metro e, paranóico como sou, estou sempre a verificar se não me esqueci de nada. Por acaso, agora pensando (e já tinha pensado nisto), sou capaz de ter uma paranóia grave. Sempre que alguém se encosta a mim temo ser roubado.

Deve ser ainda reflexo de viver numa cidade cheia de carteiristas (não é Lisboa - os carteiristas são mais românticos que os assaltantes. Pelo menos não intimidam. É quase como uma arte).

Bem, voltando ao fato.

Estava a ver se não me esquecia de nada, a ver se tinha os bilhetes, o telemóvel, o i-pod, a carteira, o telemóvel, as chaves, quando, ao apalpar o bolso do peito descubro um pente.

Sim.

Um pente pequeno de um hotel de Braga que fechou em 1982.

Que bem que me senti com toda a gente no metro a olhar para mim enquanto em penteava o meu cabelo ainda molhado. Que imagem clássica era o meu reflexo no vidro da porta.

Parecia que estava de volta aqueles tempos dos filmes. Parecia que ia para um encontro. Que estava a sair do eléctrico em Chicago.

A partir de hoje só me penteio em público.