quinta-feira, março 22, 2007

Não percebo

Eu acho sempre, à partida, que não percebo nada de nada.

É uma técnica que uso.

Está relacionado em parte com a minha falta de confiança e com a noção de que há muito para aprender e muitíssimo que ainda não sei e que nem sequer vou saber.

Claro que já reflecti, e tento reflectir diariamente, sobre muitas coisas que não percebo. Penso nas coisas, dou voltas e voltas.

Percebê-las, não explicá-las.

Faço isto muitas vezes com pessoas.

O que é que faz este gajo que acena ás pessoas no meio da rua?

Na verdade não sei, mas parece, pelo enorme sorriso com que ele presenteia qualquer transeunte que buzine, parece-me estar feliz e isso basta-me. Não tenho grande explicação, mas percebo que o faça feliz.

Faço isso também quando vejo pessoas que parecem estar totalmente deslocadas. Como por exemplo os tão mal tratados (vergonhosamente diga-se) vendedores de flores à noite. Imaginem vocês o que deve ser estar a milhares de quilómetros do Bangladesh, da Índia ou do Paquistão a vender flores a putos bêbados no meio do bairro alto?

De certeza que muitos têm uma família, uma mulher, filhos em Islamabad, Lahore, Bombaim, mas estão ali durante a noite. O que move uma pessoa assim? Não sei.

Posso especular. Diria especialmente necessidade e amor àqueles que deixou em casa, a milhares de quilómetros.

E percebo. Percebo que assim tenha de ser. É uma espécie de felicidade. É o preenchimento de uma vida. Uma vida em prol daqueles que se ama.

Tenho no entanto muitas dificuldades em perceber Góticos.

Estava ontem a pensar neles. Especialmente góticos que vivem num país tropical.

É que eles não parecem felizes e não parecem querer ter qualquer coisa a ver com esse sentimento. Deve causar-lhes uma certa repugna ser felizes. Andam sempre com um ar enfadado, lixados com a vida, em constante fuga do sol.

Não percebo mesmo.

Ajudem-me.
Vai na volta trabalham todos em call-centers.

4 comentários:

Leididi disse...

Eh pá, grande volta que foste dar para acabar nos call centers.

filipe canas disse...

Foi não foi.

Gigante.

El-Gee disse...

A tua sorte é que eu, outra mente perturbada, para essas tuas perguntas desta vez tenho respostas.

1)Bom, a questao do gajo que acena pode ser resolvida aqui, no post "O nosso tio joao":

http://on-how-i-fought-in-the-easter-rising.blogspot.com/2007_02_01_archive.html

2) Os vendedores de flores e outros seres humanos que emigram, fazem-no porque, como todos os outros, querem ter o melhor emprego dentro das suas possibilidades, para se ajudar a si proprios e as suas familias. Emigrar e vir ganhar dinheiro é a melhor forma de construir um futuro melhor. Quem pode, como eu, emigra para grandes instituicoes. Quem nao pode, emigra para algo ao seu nivel. Vender flores, por exemplo. Nao para viver o momento, mas para construir um futuro melhor. E ha que olha-los como seres humanos que sao. Nunca gozei com um vendedor de flores. (E ate podia ser vendedor de estrume).

3) Os goticos, como outros, sao pessoas inconformadas com a realidade social actual. nao sao amargurados com a vida, mas sim com o rumo que ela leva. alguns tem tb debates internos e o peso da vida em cima. geralmente, sao pessoas perturbadas com o sentido da vida e da carne. nao se e infeliz por ser gotico. e-se gotico porque se e infeliz.

Rita disse...

agora q falas, conheço um ou dois goticos q trabalham em call centers... m-e-d-o................