sexta-feira, junho 26, 2009

estereótipo

"Jackson is still enormously popular in the Middle East. Here is a Gulf tribute to the King of Pop. Given the stereotyping of Gulf Arabs as medieval and fanatical, and given the hurtful prejudice against their very form of clothing in the West, it is only right that they should have the last word here on Michael Jackson's universal appeal"

Vídeo encontrado no espaço de Juan Cole, um dos grandes estudiosos do Médio Oriente e um tipo cheio de piada. Se querem boa informação e boas análises sobre o Médio Oriente, vão lá.

I thought he fancied me


"Traditionally a Lions team could expect to be softened up by a physical going-over in the early stages of a tour. Times have changed, however, and in the age of the metrosexual more subtle intimidation is being employed.
Today the Lions scrum-half, Mike Phillips, lifted the lid on the devious tactics being employed by the South African Springboks as they eased their way to a first Test victory last Saturday and in particular their self-proclaimed enforcer, Bakkies Botha.
'There was a lot of talk on the pitch and Bakkies Botha paid me so much attention that I thought he fancied me,' said Phillips, who had been identified by the Springboks as one of the Lions' danger men. 'He went on about my sexy blue eyes and I was too stunned to respond initially'."

*Na foto, Bakkies Botha. Antes de saber deste método, o Bakkies Botha já era a principal razão para eu ter medo de ir à África do Sul. Ao pé deste gajo o Chabal é amoroso. Bakkies Botha confirma ainda que os Sul-Africanos são os gajos com mais gosto para pôr nomes e petit-noms. Basta ver que nos Springboks há um tipo chamado Bismarck Du Plessis, outro chamado Fourie du Preez, um Gurthrö Steenkamp, um Morné Steyn e, numa onda já mais post apartheid, um Chiliboy Ralepelle.

quarta-feira, junho 24, 2009

comer bivalves até cair para o lado

Juntar o meu comentário à catadupa de comentários que já foram escritos sobre o manifesto dos vinte e oito economistas é um contributo para que cada escrito sobre esse assunto valha cada vez menos (segundo as regras do mercado) e isso é uma luta na qual eu me costumo meter. A desvalorização é um dos meus mantras (e este espaço é disso exemplo). Confesso que não tenho qualquer problema com o manifesto enquanto manifesto: acho óptimo que um grupo de seres humanos (até podia ser a federação portuguesa de wrestling) se junte e opine em comum. Se tiverem capacidade para pôr isso num ou mais jornais, tanto melhor. Mais, eu até acho que eles são capazes de ter alguma razão. Existe a possibilidade, segundo me dizem, de o país contrair empréstimos que não poderá pagar no futuro, o que é razão suficiente para dedicar redobrada atenção ao investimento público. Tudo bem. Agora, o que me lixa mesmo, mas mesmo, no manifesto dos vinte e oito é os gajos acharem que é "imperativo que exista um largo debate e um largo consenso nacional antes das decisões políticas e antes destes investimentos avançarem". Há, desde logo, uma contradição clara. Parece que estes mesmos economistas achavam que havia um consenso (pró-obras) e agiram no sentido de desfazer esse mesmo consenso. Em segundo lugar, cheira-me (tresanda mesmo) que por 'largo debate' estes tipos entendam que eles, os vinte e oito e mais uns amigos conceituados (Júdice comes to mind), tenham que ser ouvidos. Não há largo debate sem a presença destas eminências pardas. É preciso uma lata do camandro vir falar de "largo debate" nesta altura do defeso. Não tenho qualquer dado estatístico em minha posse, mas posso-vos garantir que mais de sessenta e cinco por cento dos tipos que foram ao prós e contras durante o último ano eram engenheiros e falavam de obras públicas, sistemas integrados, caudais variáveis, redes viárias, transportes, bacias de todos os rios do mundo, etc. Mais, consigo assim de cabeça dizer o nome do presidente da ordem dos engenheiros e já sonhei mais que uma vez com o tipo de barbicha que é professor no Instituto Superior Técnico e que se chama Fernando e que é contra quase tudo o que não seja feito à maneira dele. Bem, a minha questão é: se nem sequer há consenso entre gente que dá aulas na melhor universidade do país (como nem deverá haver nas universidades onde um décimo dos vinte e oito leccionam), que é gente que dedica os seus fins de semana a fazer estudos que apoiem as suas posições (houve um que disse que tinha feito um estudo para pôr o aeroporto noutro sítio qualquer num fim de semana) carregados de números e caudais, com modelos específicos de vigas e até com o impacte nos mergansos-de-popa da região, como é que estes tipos esperam, mesmo remotamente, que haja um "largo consenso nacional" antes que estas obras avancem?

segunda-feira, junho 22, 2009

passado

"A vida é um prêt-à-porter se pret for uma abreviatura de pretérito."

Guillermo Cabrera Infante, A Ninfa Inconstante, Quetzal Editores, 2009 (tradução Salvato Telles de Menezes).

ps.

A utilização da palavra 'celebérrimo' na nota biográfica ("É autor de uma obra vasta que se desenvolve em muitos géneros: ensaios, crónicas, guiões, romances, de entre os quais o celebérrimo Três Tristes Tigres") é de gosto duvidoso.

sexta-feira, junho 19, 2009

nó na montanha de puré

Não há nada pior que palavras fora do seu contexto, textos partidos, frases ou parágrafos inteiros sem ligação aparente. Contudo, permitam-me que relaxe a afirmação anterior para casos onde o texto é, na sua originalidade, descontextualizado, partido, desconexo, dificilmente inteligível e não linear. Nesse caso, a citação por partes acaba por não ser lesiva do próprio texto. Claro que o é, em certa medida, mas não é tão grave como desmontar uma construção que tenha uma ordem que nos é familiar.

Nos tempos que correm, a busca pelos confins mais obscuros da informação passou do papel para a internet. Todos os dias descobrimos mais um pouco de informação, mais um cantinho, mais um local onde nunca tínhamos ido e onde gostaríamos de ir. Mas esquecemo-lo, quando surge um novo sítio onde sentimos que podemos aprender algo e, mais até, onde nos podemos surpreender e surpreender aqueles com quem nos damos, off e online.

Ora, a descoberta de uma recensão de Rui Reininho (que não se converteu à escrita na rede, pelo que sei) na Revista do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Abril do ano corrente não pode deixar de ser um desses momentos em que sentimos o conforto de (provavelmente) nos encontrarmos quase sós no nosso cantinho de informação. A recensão é ao livro Letra e Música de Paulo Castilho, editado pela Oceanos em 2008. Alguns pedaços:

"Nada nem ninguém pode ser tão ou mais refrescante do que uma memória; estendida, bem ou de males passados ela é forçosamente a origem de um romance, já que a matéria sintética de que se servem os poemas não se estende o suficiente até aos finos rebordos de uma pizza média, familiar."

(...)

"As décadas, eras prodigiosas que se contêm em ciclos mais ou menos menstruais arrumam-se em estantes, com os discos, os álbuns de fotografias e os outrora livros de razão: reconhecemos aqui e ali uma brecha da cultura de cada um mas, sobretudo a civilização."

(...)

"A linha IMaginot de Cascais e do Estoril de príncipes exilados, a Granja Fozeira com os seus aristocratas arruinados, a Figueira mai-los do Putsch Coimbrão summer 69, ei-los a bordo do trem expresso Marrakech, Stones, yardbirds e outros pássaros exóticos do terreiro."

(...)

"Confusão de sentimentos, diria Somerset Maugham mas também Óscar de realização para Wilde (e Waugh, no seu BridesHead, visitado pelos Vingadores de guarda-chuva, chapéu de coco e as minis op-arte de Miss Peel)."

(...)

"O conde Drácula nunca entraria no sistema circulatório de uma casa (na Matilde) sem ser convidado: a Isabel é o Filipe mais o Pat menos o Chaz mais a mãe menos o arquitecto."

(...)

"Mas este livro dava um filme (outra Letra e Música, com Hugh Grant e a Drew dos Barrimore)."

quinta-feira, junho 18, 2009

fotocópias

Ontem estudava alegremente na universidade quando me deparei com uma jovem que tinha em cima da mesa o que parecia ser uma sebenta de direito. Reparei na sebenta porque tinha umas sardinhas impressas nos limites superior e inferior. Nem há coisa de cinco minutos, a minha irmã mostrou-me as sebentas dela (de outra universidade), onde cada página tem também esses desenhos, que descobri tratarem-se de publicidade às festas de Lisboa. Ora, é um sistema de fazer publicidade interessante. Aparentemente, trata-se de um novo esquema de fotocópias que deve estar disponível nas universidades (a minha irmã tem direito até duzentas e cinquenta cópias grátis por dia, num máximo de sete mil por ano). É simpático e dá jeito. No entanto, para dele beneficiarem, os alunos devem assentir a que as folhas sejam impressas apenas de um lado (o lado que tem a publicidade). Ou seja, em vez de incentivar a redução do número de folhas ao mínimo (eu cheguei a utilizar esquemas de leitura apenas comparáveis ao Códice de Leicester, com quatro páginas impressas em cada face da folha) obriga a que se use o máximo, a bem da publicidade. Pior ainda é que o patrocínio das festas de Lisboa é da iniciativa da EGEAC - Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural - que é uma empresa municipal. A bem do ambiente, gostava de ver os estudantes a boicotarem a iniciativa até poderem imprimir nas duas faces da folha, no mínimo.

(mais info sobre a iniciativa, aqui)

terça-feira, junho 02, 2009

healthy man


"There are only two things that can destroy a healthy man: love trouble, ambition, and financial catastrophe. And that's already three things, and there are a lot more."

Peter Altenberg, Fechsung, citado em Clive James, Cultural Amnesia, Picador (Londres: 2007). Peter Altenberg, um homem que ninguém sabia bem onde vivia, nem o próprio, mas que toda a gente sabia que podia encontrar no café central de Viena. Haver cada vez menos gente que vive em cafés é um sinal claro de declínio civilizacional.

segunda-feira, junho 01, 2009

realismo

"Um dos domínios onde se recusou mais intensamente a instrusão da filosofia é o domínio político: o realismo político não tem, diz-se, de se deixar enredar por considerações abstractas. Mas, se olharmos mais de perto, rapidamente nos apercebemos de que os problemas políticos e morais estão indissoluvelmente ligados: trata-se, de qualquer forma, de fazer a história humana, de fazer o homem; e, dado que o homem está por fazer, está em questão: é essa a questão que está na origem, ao mesmo tempo, da acção e da sua verdade. Por detrás da política mais crua, mais linear, há sempre uma ética que se dissimula."

Simone de Beauvoir, O existencialismo e a sabedoria das nações, esfera do caos (2008), p. 18.

o debate

Um dos temas importantes e relevantes que divide alguma 'esquerda' de alguma 'direita' é a politização de determinadas esferas (o género e a identidade sexual, por exemplo). Um dos temas que une alguma 'esquerda' e alguma 'direita' é o pendor conservador (não na concepção filosófica do termo). Em ambos os aspectos, o que une os espectros está intimamente ligado ao que os divide. Todavia, as diferenças que existem manifestam-se essencialmente ao nível da prática política (reflexo talvez de certos compromissos epistemológicos e metodológicos). Com regularidade, a esquerda exibe um determinado conservadorismo em relação à mudança, especialmente quando esta invoca mudanças (mais ou menos radicais) causadas por processos económicos (como eu por exemplo fiz quando falei sobre a feira do livro, e isto é o mais próximo que me apanham de uma confissão política, por isso não se habituem). A direita, por sua vez, manifesta um certo conservadorismo quando confrontada com assuntos eminentemente sociais - aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo, etc - temas que a esquerda tem tendência a defender. Se as semelhanças estão na utilização díspar no campo do social e do económico, as diferenças estão em que enquanto muita esquerda entende a disputa pelo social como um tema eminentemente político, alguma direita continua a tratar os processos económicos como algo técnico e despolitizado (o que nem sempre aconteceu). A bem do debate, era bom que se estabelecesse alguma justiça neste aspecto.