sexta-feira, junho 19, 2009

nó na montanha de puré

Não há nada pior que palavras fora do seu contexto, textos partidos, frases ou parágrafos inteiros sem ligação aparente. Contudo, permitam-me que relaxe a afirmação anterior para casos onde o texto é, na sua originalidade, descontextualizado, partido, desconexo, dificilmente inteligível e não linear. Nesse caso, a citação por partes acaba por não ser lesiva do próprio texto. Claro que o é, em certa medida, mas não é tão grave como desmontar uma construção que tenha uma ordem que nos é familiar.

Nos tempos que correm, a busca pelos confins mais obscuros da informação passou do papel para a internet. Todos os dias descobrimos mais um pouco de informação, mais um cantinho, mais um local onde nunca tínhamos ido e onde gostaríamos de ir. Mas esquecemo-lo, quando surge um novo sítio onde sentimos que podemos aprender algo e, mais até, onde nos podemos surpreender e surpreender aqueles com quem nos damos, off e online.

Ora, a descoberta de uma recensão de Rui Reininho (que não se converteu à escrita na rede, pelo que sei) na Revista do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Abril do ano corrente não pode deixar de ser um desses momentos em que sentimos o conforto de (provavelmente) nos encontrarmos quase sós no nosso cantinho de informação. A recensão é ao livro Letra e Música de Paulo Castilho, editado pela Oceanos em 2008. Alguns pedaços:

"Nada nem ninguém pode ser tão ou mais refrescante do que uma memória; estendida, bem ou de males passados ela é forçosamente a origem de um romance, já que a matéria sintética de que se servem os poemas não se estende o suficiente até aos finos rebordos de uma pizza média, familiar."

(...)

"As décadas, eras prodigiosas que se contêm em ciclos mais ou menos menstruais arrumam-se em estantes, com os discos, os álbuns de fotografias e os outrora livros de razão: reconhecemos aqui e ali uma brecha da cultura de cada um mas, sobretudo a civilização."

(...)

"A linha IMaginot de Cascais e do Estoril de príncipes exilados, a Granja Fozeira com os seus aristocratas arruinados, a Figueira mai-los do Putsch Coimbrão summer 69, ei-los a bordo do trem expresso Marrakech, Stones, yardbirds e outros pássaros exóticos do terreiro."

(...)

"Confusão de sentimentos, diria Somerset Maugham mas também Óscar de realização para Wilde (e Waugh, no seu BridesHead, visitado pelos Vingadores de guarda-chuva, chapéu de coco e as minis op-arte de Miss Peel)."

(...)

"O conde Drácula nunca entraria no sistema circulatório de uma casa (na Matilde) sem ser convidado: a Isabel é o Filipe mais o Pat menos o Chaz mais a mãe menos o arquitecto."

(...)

"Mas este livro dava um filme (outra Letra e Música, com Hugh Grant e a Drew dos Barrimore)."

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