quarta-feira, junho 24, 2009

comer bivalves até cair para o lado

Juntar o meu comentário à catadupa de comentários que já foram escritos sobre o manifesto dos vinte e oito economistas é um contributo para que cada escrito sobre esse assunto valha cada vez menos (segundo as regras do mercado) e isso é uma luta na qual eu me costumo meter. A desvalorização é um dos meus mantras (e este espaço é disso exemplo). Confesso que não tenho qualquer problema com o manifesto enquanto manifesto: acho óptimo que um grupo de seres humanos (até podia ser a federação portuguesa de wrestling) se junte e opine em comum. Se tiverem capacidade para pôr isso num ou mais jornais, tanto melhor. Mais, eu até acho que eles são capazes de ter alguma razão. Existe a possibilidade, segundo me dizem, de o país contrair empréstimos que não poderá pagar no futuro, o que é razão suficiente para dedicar redobrada atenção ao investimento público. Tudo bem. Agora, o que me lixa mesmo, mas mesmo, no manifesto dos vinte e oito é os gajos acharem que é "imperativo que exista um largo debate e um largo consenso nacional antes das decisões políticas e antes destes investimentos avançarem". Há, desde logo, uma contradição clara. Parece que estes mesmos economistas achavam que havia um consenso (pró-obras) e agiram no sentido de desfazer esse mesmo consenso. Em segundo lugar, cheira-me (tresanda mesmo) que por 'largo debate' estes tipos entendam que eles, os vinte e oito e mais uns amigos conceituados (Júdice comes to mind), tenham que ser ouvidos. Não há largo debate sem a presença destas eminências pardas. É preciso uma lata do camandro vir falar de "largo debate" nesta altura do defeso. Não tenho qualquer dado estatístico em minha posse, mas posso-vos garantir que mais de sessenta e cinco por cento dos tipos que foram ao prós e contras durante o último ano eram engenheiros e falavam de obras públicas, sistemas integrados, caudais variáveis, redes viárias, transportes, bacias de todos os rios do mundo, etc. Mais, consigo assim de cabeça dizer o nome do presidente da ordem dos engenheiros e já sonhei mais que uma vez com o tipo de barbicha que é professor no Instituto Superior Técnico e que se chama Fernando e que é contra quase tudo o que não seja feito à maneira dele. Bem, a minha questão é: se nem sequer há consenso entre gente que dá aulas na melhor universidade do país (como nem deverá haver nas universidades onde um décimo dos vinte e oito leccionam), que é gente que dedica os seus fins de semana a fazer estudos que apoiem as suas posições (houve um que disse que tinha feito um estudo para pôr o aeroporto noutro sítio qualquer num fim de semana) carregados de números e caudais, com modelos específicos de vigas e até com o impacte nos mergansos-de-popa da região, como é que estes tipos esperam, mesmo remotamente, que haja um "largo consenso nacional" antes que estas obras avancem?

1 comentário:

Anónimo disse...

O que é facto é que o Governo canta muito e depois recua. Não estou a dizer que está certo ou errado - fá-lo é em muitas áreas. O Sócrates pós europeias está "a guterrarizar-se", mas sinceramente acha que não ganha nada com isso - a esquerda já lhe fugiu e o centrão que lhe deu a maioria absoluta começa a achar que o PSD pode mesmo ganhar as legislativas. HCS