quinta-feira, outubro 01, 2009

Ong Kong

Tudo o que me apetecia fazer neste momento está nesse vídeo. A canção é soberba e foi encontrada aqui, num espaço não menos soberbo (e cujo proprietário vai dar música à Crew Hassan no dia 3 de Outubro). Não sei ainda como é que vou equilibrar a sonoridade destes gajos com o meu desdém pelos Vampire Weekend, mas a coerência está sobrevalorizada, como já disseram Marx, Freud, Lacan e, muito recentemente, Aníbal Cavaco Silva e Ferreira Leite.

Queria ainda partilhar convosco que, desde que imiscui no violento mundo do grande capital, consigo ler cinco páginas por dia. Ando a ler uma colecção interessante de textos do Keynes, mas a tradução é esquisita. No que a actividade cultural respeita, fui ao lançamento do 2666 de Roberto Bolaño. Foi um evento e pêras. Estava por lá imensa gente gira, cheia de estilo e que adora o Bolaño, a Quetzal, o Francisco José Viegas, a Soraia Chaves, as traduções do João Barrento e do Salvato Telles de Menezes. Eu era o único que adora o António Guerreiro que escreve no Actual, mas não ia estragar a festa por causa disso.

Ando também a ler um livro que comprei no dia do lançamento do 2666 chamado Neoliberalism as Exception: Mutations in Citizenship and Sovereignty de um ser humano chamado Aiwha Ong. O livro chamou-me a atenção porque contém a palavra Neoliberalismo e a palavra excepção. Excepção, como decerto saberão (António Guerreiro é o meu benchmark em termos de leitor), é um interessante conceito desenvolvido pelo jurista alemão Carl Schmitt. Por excepção entedemos (numa interpretação mais restritiva) a suspensão de um ordenamento jurídico. Aquele(s) que suspendem o ordenamento jurídico são aqueles que detem a soberania. Ora Ong, que é um ser elogiado pelo Michael Hardt, pelo Manuel Castells e pela Saskia Sassen, utiliza o conceito de excepção como se usa o conceito de discriminação, retirando a normatividade negativa a este segundo. Uma excepção é portanto tudo o que não seja a norma. Passo a exemplificar: os chineses criam uma zona administrativa especial, com impostos mais baixos e com benefícios para as empresas e para os trabalhadores de uma única etnia (quem diz China, diz Malásia ou Singapura) e ela chama a isto uma excepção. É como se em Portugal um eminente sociólogo escrevesse um panfleto sobre a regionalização intitulado Carl Schmitt's Portugal. Não era muito mais cool? Ong liga excepção ao conceito de 'soberania graduada', de acordo com o qual estas excepções servem para integrar áreas periféricas na economia global. A economia global é neoliberal. Bem, nada que não se pudesse dizer com outras palavras, mas as palavras normais não nos remetem para coisas eruditas como Carl Schmitt, a República de Weimar, palavrões em Malaio e discursos de Aníbal Cavaco Silva.

E pronto, foi o país e o mundo.

3 comentários:

Pedro Jordão disse...

Tentando deixar um contributo útil, devo dizer que partilho do mesmo desdém pelos Vampire Weekend sem que isso me impeça de considerar soberbos os Fool's Gold.

Anónimo disse...

Fool's Gold é muito bom.
calheiros

El-Gee disse...

tu tas em grande forma.

"No que a actividade cultural respeita, fui ao lançamento do 2666 de Roberto Bolaño. Foi um evento e pêras. Estava por lá imensa gente gira, cheia de estilo e que adora o Bolaño, a Quetzal, o Francisco José Viegas, a Soraia Chaves, as traduções do João Barrento e do Salvato Telles de Menezes. Eu era o único que adora o António Guerreiro que escreve no Actual, mas não ia estragar a festa por causa disso."

O que eu me ri com este paragrafo