Tudo o que me apetecia fazer neste momento está nesse vídeo. A canção é soberba e foi encontrada aqui, num espaço não menos soberbo (e cujo proprietário vai dar música à Crew Hassan no dia 3 de Outubro). Não sei ainda como é que vou equilibrar a sonoridade destes gajos com o meu desdém pelos Vampire Weekend, mas a coerência está sobrevalorizada, como já disseram Marx, Freud, Lacan e, muito recentemente, Aníbal Cavaco Silva e Ferreira Leite.
Queria ainda partilhar convosco que, desde que imiscui no violento mundo do grande capital, consigo ler cinco páginas por dia. Ando a ler uma colecção interessante de textos do Keynes, mas a tradução é esquisita. No que a actividade cultural respeita, fui ao lançamento do 2666 de Roberto Bolaño. Foi um evento e pêras. Estava por lá imensa gente gira, cheia de estilo e que adora o Bolaño, a Quetzal, o Francisco José Viegas, a Soraia Chaves, as traduções do João Barrento e do Salvato Telles de Menezes. Eu era o único que adora o António Guerreiro que escreve no Actual, mas não ia estragar a festa por causa disso.
Ando também a ler um livro que comprei no dia do lançamento do 2666 chamado Neoliberalism as Exception: Mutations in Citizenship and Sovereignty de um ser humano chamado Aiwha Ong. O livro chamou-me a atenção porque contém a palavra Neoliberalismo e a palavra excepção. Excepção, como decerto saberão (António Guerreiro é o meu benchmark em termos de leitor), é um interessante conceito desenvolvido pelo jurista alemão Carl Schmitt. Por excepção entedemos (numa interpretação mais restritiva) a suspensão de um ordenamento jurídico. Aquele(s) que suspendem o ordenamento jurídico são aqueles que detem a soberania. Ora Ong, que é um ser elogiado pelo Michael Hardt, pelo Manuel Castells e pela Saskia Sassen, utiliza o conceito de excepção como se usa o conceito de discriminação, retirando a normatividade negativa a este segundo. Uma excepção é portanto tudo o que não seja a norma. Passo a exemplificar: os chineses criam uma zona administrativa especial, com impostos mais baixos e com benefícios para as empresas e para os trabalhadores de uma única etnia (quem diz China, diz Malásia ou Singapura) e ela chama a isto uma excepção. É como se em Portugal um eminente sociólogo escrevesse um panfleto sobre a regionalização intitulado Carl Schmitt's Portugal. Não era muito mais cool? Ong liga excepção ao conceito de 'soberania graduada', de acordo com o qual estas excepções servem para integrar áreas periféricas na economia global. A economia global é neoliberal. Bem, nada que não se pudesse dizer com outras palavras, mas as palavras normais não nos remetem para coisas eruditas como Carl Schmitt, a República de Weimar, palavrões em Malaio e discursos de Aníbal Cavaco Silva.
E pronto, foi o país e o mundo.
3 comentários:
Tentando deixar um contributo útil, devo dizer que partilho do mesmo desdém pelos Vampire Weekend sem que isso me impeça de considerar soberbos os Fool's Gold.
Fool's Gold é muito bom.
calheiros
tu tas em grande forma.
"No que a actividade cultural respeita, fui ao lançamento do 2666 de Roberto Bolaño. Foi um evento e pêras. Estava por lá imensa gente gira, cheia de estilo e que adora o Bolaño, a Quetzal, o Francisco José Viegas, a Soraia Chaves, as traduções do João Barrento e do Salvato Telles de Menezes. Eu era o único que adora o António Guerreiro que escreve no Actual, mas não ia estragar a festa por causa disso."
O que eu me ri com este paragrafo
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