quinta-feira, novembro 27, 2008

change?

"Mr. Summers has spent much of his career tweaking fellow liberals with arguments he considers unpleasant truths — on the dangers of budget deficits, the benefits of capitalism and other subjects. But he seems to have decided that conservative orthodoxies have become a vastly bigger threat to good economic policy than liberal ones. His favorite argument today is one that instead drives some conservatives nuts.
It goes like this: To undo the rise in income inequality since the late ’70s, every household in the top 1 percent of the distribution, which makes $1.7 million on average, would need to write a check for $800,000. This money could then be pooled and used to send out a $10,000 check to every household in the bottom 80 percent of the distribution, those making less than $120,000. Only then would the country be as economically equal as it was three decades ago".

David Leonhardt, "The Return of Larry Summers", New York Times, 25.11.08.

É este o plano de combate à desigualdade que defende o principal conselheiro económico de Barack Obama, Larry Summers. Segundo o próprio, a desigualdade de rendimento entre ricos e pobres é o assunto principal do nosso tempo (na América claro, a nível global é um assunto secundário). Embora tenha as vias nasais totalmente obstruídas, isto tresanda a mudança (se bem que Summers é um personagem com piada, nada ortodoxo mesmo).

quarta-feira, novembro 26, 2008

Beauty in Distortion


segunda-feira, novembro 24, 2008

funkmosphere




Embora o vídeo promocional possa enganar - a mim quase me enganou - este club, chamado Funkmosphere, acontece no ano do Senhor de 2008, todas as segunda-feiras, em Culver City, Califórnia. A LA-Weekly considera-o o local com o melhor Boogie Funk. O disc jokey de serviço é o Dam Funk, personagem que descobri esta semana no catálogo da Stones Throw. Para ilustrar o quão cool a festa é basta ver a cara de pura felicidade do Joaquin Phoenix, que não tem quaisquer problemas em: (1) ir lá sem tomar banho há duas semanas; (2) com o irmão do Ben Affleck.


sábado, novembro 22, 2008

the rest of us

"When I read Robert Ferguson's biography of Hamsun to prepare this essay, I must admit that I became so disgusted by the great writer that his excellence as an artist suddenly seemed trivial, even irrelevant. His history poses the same problem as the cases of Louis-Ferdinand Céline and Ezra Pound. People who are indifferent to art have no problem dismissing them out of hand. Aesthetes without a conscience enjoy them without a second thought. The rest of us have to face the unresolvable paradox that these key figures in twentieth-century literature are morally intolerable and artistically indispensable".

Edmund White, "Knut Hamsun", Review of Contemporary Fiction, vol. 16 (Fall, 1996).

sexta-feira, novembro 21, 2008

Just Ain't Gonna Work Out

Não há qualquer respeito. Isto é tão bom que estou com pontadas no diafragma e ainda só ouvi uma vez. Uma única vez. E é (pasmem-se) de 2008. Mayer Hawthorne, senhoras e senhores. Música para bons break-ups.

o cão

fui mordido pelo cão de kafka à saída do hotel. arrancou-me carne e um dedo, não sei qual. decidi que vou para leste porque no leste não se usam os dedos todos para escrever, disse-me um sábio. eu não quero escrever. o cão mordeu-me e agora dói.

quinta-feira, novembro 20, 2008

Byblos





Vendo as coisas pelo lado positivo, com o fecho da byblos a Esperança, no Funchal, torna-se de novo a maior livraria do país. Três andares, carregados de livros, todos com a capa à vista. Não há bela sem senão; os livros estão todos presos por umas molas que os amolgam. O andar de baixo cheira a humidade e, estranhamente, os livros estão organizados por ordem alfabética, não pelos apelidos dos autores mas pelos nomes próprios. Saí da Esperança com apenas uma obra: A minha Mulher de Anton Tchekov, editado pela Quasi.

quarta-feira, novembro 19, 2008

prop 8

"The antis argued that churches could be forced to perform same-sex unions, when any divorced Roman Catholic can tell you that the clergy refuse to officiate whenever they see fit. They argued that the purpose of same-sex marriage was the indoctrination of children, a popular talking point that has no basis in reality. As Ellen DeGeneres, who was married several months ago to the lovely Portia de Rossi (great dress, girl), said about being shaped by the orientation of those around you, "I was raised by two heterosexuals. I was surrounded by heterosexuals. Just everywhere I looked: heterosexuals. They did not influence me." As for the notion that allowing gay men and lesbians to marry will destroy conventional marriage, I have found heterosexuals perfectly willing to do that themselves".

Anna Quindlen, Newsweek, 24 de Novembro 2008.

Continuo a ter imensa dificuldade em descortinar algum argumento verdadeiramente forte contra o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Casamento, com todas as letras (não falo sequer das coisas com outros nomes). A história do 'eles também terem estraga o meu' lembra aqueles putos parvos que não deixavam os outros brincar com o que era deles (com a diferença de que uma boneca não é a contratualização perante todos do amor que duas pessoas nutrem uma pela outra).

too polite to ask

domingo, novembro 16, 2008

notas para uma teoria global do coitadinho

"Modern sovereignty is anthropocentric, constituted and organized by reference to human beings alone. Although a metaphysical assumption, anthropocentrism is of immense practical import, enabling modern states to command loyalty and resources from their subjects in pursuit of political projects. It has limits, however, which are brought clearly into view by the authoritative taboo on taking UFOs seriously. UFOs have never been systematically investigated by science or the state, because it is assumed to be known that none are extraterrestrial. Yet in fact this is not known, which makes the UFO taboo puzzling given the ET possibility. Drawing on the work of Giorgio Agamben, Michel Foucault, and Jacques Derrida, the puzzle is explained by the functional imperatives of anthropocentric sovereignty, which cannot decide a UFO exception to anthropocentrism while preserving the ability to make such a decision. The UFO can be "known" only by not asking what it is".

Abstract de um artigo publicado na Political Theory de Agosto de 2008 por Bud Duvall e Alexander Wendt.

Isto é o meu campo de estudo. Wendt é o teórico de Relações Internacionais mais famoso dos últimos dez anos. Um dos mais brilhantes também. Duvall é o seu pai intelectual e fundador da escola de Relações Internacionais da Universidade do Minnesota. Agradecia alguma compreensão cada vez que me chamam frito.

sexta-feira, novembro 14, 2008

o jovem

À porta da escola, com um duplo piercing no lábio, diz, num português arrastado, a seguinte frase a um jornalista: "a ministra quer-nos impôr deveres que são mais direitos".

quinta-feira, novembro 13, 2008

literatura, pt.1

O meu excelso amigo, ser humano soberbo de estirpe única no universo, pergunta-me por e-mail se eu ando a ler literatura mais por formação do que por prazer. Esta pergunta serve de rastilho para uma série de pensamentos que andavam a matutar neste ananás que prolonga do meu pescoço. É uma espécie de assassínio do Arquiduque Francisco Fernando em termos da minha experiência enquanto indivíduo literato. Utilizando o quadro interpretativo do cientista político Joseph Nye, poderíamos dizer que esta pergunta é a causa precipitante do eclodir deste conjunto de ideias, sendo a causa profunda o meu interesse gémeo por literatura, filosofia e política e a causa intermédia o meu estatuto de desempregado e a minha estrepitosa estupidez.

Ora, e isto é autobiográfico (não poupem lágrimas) a verdade e que tenho procurado manter, dentro da desorganização total, algum tipo de ordem nas minhas leituras. Não que tenha deixado de incorrer em desastrosas incursões (como o último livro do Zakaaria), mas tento ler de forma minimamente organizada, até porque comecei a perceber um pouco de história da literatura de há uns tempos a esta parte.

A causa principal do interesse em ler literatura um pouco ‘por formação’ reside na crença que a literatura tem certo papel na história das ideias e na descrição dos ambientes sociais da época. No outro dia o André Moura e Cunha pôs no seu blog um teste que o Nabokov costumava fazer às pessoas para averiguar se eram bons leitores. Entre as respostas possíveis, umas das incorrectas era ‘o leitor deve-se concentrar no aspecto socioeconómico’. Talvez a utilização do verbo ‘concentrar’ seja forte de mais, até porque, como o exemplo que o André dá esclarece, a representação da sociedade que o autor faz pode não ser de todo fidedigna. Contudo, pode também ser. Mais, não poderá a literatura (mesmo a ficção) capturar aspectos únicos da psique e do Zeitgeist de certas épocas? Formulada de forma mais clássica, a pergunta será: não poderá a literatura ser um meio privilegiado de acesso ao mundo?

Existem vários problemas com qualquer resposta a esta pergunta, postos em parte, na minha opinião, pela utilização da palavra ‘privilegiado’. Se retirarmos o privilegiado, porque não poderá a literatura ser um meio de acesso a uma determinada realidade temporal? O filósofo americano Richard Rorty acredita que a filosofia, por exemplo, não é ‘a’ forma principal de aceder ao mundo e de o compreender mas ‘mais uma’ forma, que em pouco se distingue das outras – como a literatura (eu acho que o Rorty ate iria mais longe; parece-me que para ele uma novela da Danielle Steel representa tão bem o mundo como um Dostoievsky, mas não é necessário concordarmos com o ponto radical para tentar perceber se há alguma verdade numa versão moderada disto). Eu não iria tão longe, até porque sempre houve um pressuposto ‘científico’ quer na filosofia, quer na grande maioria das ditas ciências sociais (nalgumas em excesso até), do qual a literatura nunca partilhou. Mas porque não poderá o autor, com a sua paleta de vocábulos, com a sua apreensão do que o rodeia, com a sua capacidade de representação, ainda que ficcionada, ter a capacidade de nos fornecer um quadro verosímil do espírito de uma certa época?

(eu vou continuar isto, dando como exemplo a obra e vida do Knut Hamsun)

terça-feira, novembro 11, 2008

When it came to what they actually did, however, the nerds of New Media were cold realists. "We never do something just because it's cool," the campaign's official blogger, Sam Graham-Felsen, told a NEWSWEEK reporter. "We're always nerdily getting something out of it." He showed off the Obama '08 iPhone application. With its deep Obama blues, correct fonts and glassy graphics, it looked like an electronic bauble for the well-heeled voter. Closer inspection revealed a sophisticated data-mining operation. Tap the top button, "call friends," and the software would take a peek at your phonebook and rearrange it in the order that the campaign was targeting states, so that friends who had, say, Colorado or Virginia area codes would appear at the top. With another tap, the Obama supporter could report back essential data for a voter canvass ("left message," "not interested," "already voted," etc.). It all went into a giant database for Election Day.

Early that summer, the campaign made the unorthodox decision to announce its vice presidential pick via text messages sent directly to supporters. It wasn't just a trick to do something flashy with technology and attract media attention. The point was to collect voters' cell-phone numbers for later contact during voter registration and get-out-the-vote efforts. Thanks to the promotion, the campaign's list of cell-phone numbers increased several-fold to more than 1 million. (Among the registrees: one Beau Biden, son of Joe.)


Para quem ainda dita a um amanuense o que quer ver escrito num blogue , isto não pode deixar de ser preocupante. Aconselho vivamente a leitura dos sete capítulos, publicados pela Newsweek, sobre os bastidores da campanha McCain e Obama. São cerca de sessenta páginas com uma boa mistura de fofoca e coisas interessantes, que se lêem com enorme prazer, embora nem sempre estejam particularmente bem escritas.

sexta-feira, novembro 07, 2008

Mais um para me foder a vida toda. Estava tudo tão controlado.

"Mr. Leonard’s prose was known not only for its erudition, but also for its sheer revelry in the sounds and sentences of English. Stylistic hallmarks included wit, wordplay, a carefully constructed acerbity and a syntax so unabashedly baroque that some readers found it overwhelming. The comma seemed to have been invented expressly for him".

quarta-feira, novembro 05, 2008

Gaye


Eu continuo a alimentar as minhas reservas em relação a Obama, simplesmente porque ele decidiu aceitar como música da campanha (acho que era a música da campanha) aquela trapalhada de canção do Will I Am, que faz uma pena desgraçada. O meu problema é simples: eu gosto de canções políticas. Um dos meus cantores preferidos, o Gil Scott-Heron (que deve odiar tanto o Obama como o Bush - o gajo odeia toda a gente que possa sequer pôr em causa a inutilidade de uma central nuclear*) é o cantor político por excelência; só fala de injustiças sociais, armas, ambiente, bebés inocentes que vão nascer neste mundo satânico, etc. No entanto, para as canções políticas serem boas canções políticas, estas precisam de ser, antes de tudo, boas canções, coisa que a supracitada não é. É uma péssima canção. Confesso nunca ter perdoado ao Obama não ter escolhido o You're The Man do Marvin Gaye. É tão boa a canção, tem tudo. É tão completa que até tem duas versões. Continuo a ter dificuldade em perceber como é que ele não a escolheu. Eu votava imediatamente em qualquer candidato português que dizesse que o cantor preferido é da Motown. Qualquer.

*Enganei-me. Gil Scott-Heron sobre o Obama e a política em geral:

“I have to admit,” said Scott-Heron, “Obama is making some amazing strides for black people everywhere, and it appears that not only will the revolution will be televised, it’ll be highly televised. Shit is everywhere!”
“That brotha’s on ABC, CBS, NBC, PBS, CNN, MSNBC, FoxNews… You can’t get Obama off the television. It’s freakin’ ridiculous!”
Heron took the opportunity to try and explain himself. “I seriously thought by now there’d be some new technology or something, like a hologram machine or whatever, that would cover all this shit. It was the 1970s and I was shooting a lot of skag, watching Jetsons reruns. I guess I didn’t know what the hell I was talking about. Live and learn.”