domingo, setembro 30, 2007

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Lendo com mais atenção, "acabei de pensar em ti" não é uma coisa muito simpática de se dizer.

quarta-feira, setembro 26, 2007

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Aos 84 anos, André Gorz escolheu partir com Dorine, 83 anos, a sua mulher. “Nenhum de nós gostaria de sobreviver à morte do outro. Dissemo-nos que se, mesmo impossível, tivéssemos uma segunda vida, gostaríamos de a passar juntos.” Era o fim do livro. Na segunda-feira, na porta da sua casa de Vosnon (Nordeste de França), para onde o casal se tinha retirado há quase vinte anos, uma simples mensagem:“Prevenir a polícia.” Uma amiga encarregou-se disso. Repousavam os dois lado a lado.

in P2, 26.09.2007

Caninos

Há alguns anos o Pedro Mexia escreveu que só Kirsten Dunst é linda por causa dos dentes caninos, tendo depois adicionado que ela afinal era bonita "nem só por causa dos dentes caninos". Três anos depois subscrevo inteiramente mas em relação à Vanessa Oliveira.

sexta-feira, setembro 21, 2007

through time (3)

Pessoas com quem falo e que têm o desprazer de ler o que escrevo, disseram não compreender porque é que considero a Roisin Murphy a mulher mais bonita do mundo.

Não tenho que explicar nada a essa gente. Mas apetece-me. Masoquismos.

Ora, eu gosto da Roisin Murphy, primeiro de tudo, porque ela é cantora. Ser cantora é meio caminho andado para ser bonita, como qualquer ser iluminado me concederá (vocês não, como deu para entender).

Como se não bastasse ser cantora, a Roisin Murphy canta muito bem. Muito bem mesmo. Junte-se a isto o facto de escrever umas letras bem bonitas, das quais aquela estrofe que transcrevi é um claro exemplo.

Para aqueles menos informados, a Roisin Murphy - nome delicioso, ao contrário do que se diz por aí - no último disco dos Moloko, estava já em pleno processo de separação de outro membro da banda. Isso não a impediu de escrever letras maravilhosas, que postas nesse contexto, fazem todo o sentido.

Assim sendo, na primeira canção do disco, Familiar Feeling, Murphy canta:

Nothing can come close
To this familiar feeling
We say it all without
Ever speaking

Para na canção seguinte, abandonar a nostalgia e cantar:

Do you remember the way we danced
I wish I could forget it
Said I’d give you the one last chance
I wish I’d never said it
Took a chance and I can’t turn back
And I’m living to regret it
Come on, come on to me

Apenas para depois voltar atrás na sua fúria e tentar aceitar o inevitável:

Don’t put yourself down
Don’t be hard on yourself
You didn’t do wrong, baby don’t
Blame yourself

I know how you feel
I’ve been there myself
It’s what the devil my fare
What do you care
Can you control yourself?

I won’t stick around
To watch you get colder
I know I couldn’t be told,
Don’t suppose
Now I’m a little older

The fault was all mine
I don’t blame you if you blame me
I know I was wrong
I just cannot contain this


Aprofundando depois o seu estado emocional em Statues, canção que dá o nome ao album, com uma frase que considero linda:

If all the statues in the world
Would turn to flesh with teeth of pearl
Would they be kind enough to comfort me

E isto são as primeiras quatro canções do disco. Um disco feito depois do fim de uma relação com um membro da banda. Um disco com as emoções em estúdio. Não imagino como terá sido gravá-lo. Não consigo. Como terá sido escrever estas letras. Ouvi-las vezes sem conta. Repeti-las. Cantá-las com emoção em frente a quem elas dizem respeito.

Deve ter sido um exercício brutal. O disco é brutal.

Roisin Murphy é a mulher mais bonita do mundo.

terça-feira, setembro 18, 2007

through time (2)

Num registo mais pessimista, e dado não ter grande capacidade auditiva, em vez de "Life is the art of learning to live with it", sempre entendi "Life is the art of learning to live with thee".

Isto daria um twist enorme ao significado da linha e, consequentemente, da restante estrofe. Torná-la-ia bastante mais deprimente. A ideia de não conseguir abandonar um amor, resignando-se a vivê-lo, through time, numa angústia constante, é bastante mais violenta do que a ideia de aprender a viver com os desgostos dos amores ocasionais.

É a diferença entre acreditar, ou não, em regeneração.

PS. Ajuda bastante estes versos serem cantados pela mulher mais bonita do planeta. E se ela acredita em regeneração, eu, correndo o risco de hipotecar a improvável hipótese de me cruzar com ela, tenho que acreditar também.

segunda-feira, setembro 17, 2007

Through Time


Could there be such a thing
How could there be such a thing
As beautifully flawed
We’ll make mistakes and then
Life is the art of learning to live with it
Through time

quarta-feira, setembro 05, 2007

Avulso #3

Eles gostam um do outro mas consideram-se más pessoas. Nunca conheci ninguém que dissesse que a sua cara-metade é boa pessoa. As boas pessoas só são boas pessoas quando passamos pouco tempo com elas. Quando passamos mais tempo, quando entramos em conflito, quando experimentamos situações limite, nunca podemos concluir que a pessoa é boa pessoa. Quanto muito até não é má pessoa. Isto leva-me a pensar que aqueles pessimistas antropológicos podem estar certos. O que me leva a pensar que aqueles gajos da maximização dos desejos e impulsos egoístas – vulgo neo-liberais – podem estar certos. O que, por sua vez, me leva a pensar que não quero pensar mais nisto.

Avulso #2

Alguns estereótipos, cujo essencialismo me envergonha, embora não os hesite em partilhar: a representante francesa é, como todas as francesas, magrinha, bonita e tem o sotaque mais sexy do mundo - está totalmente perdoada por não perceber nada do que diz; o americano deve ter jogado futebol americano a julgar pelo tronco, usa suspensórios coloridos e uns óculos dignos de mardi gras; a checa, como todas elas, usa os vestidos mais provocativos que eu já tive o prazer de conhecer; acho que o finlandês, nos tempos livres, caça salmão com as mãos (curiosa a maneira de falar dos finlandeses - e eu já conheci uns quantos. A julgar pela articulação das suas ideias quando falam inglês, ou italiano, parece-me que a sua língua não tem quaisquer conjunções, artigos ou elementos de ligação lógica. Assim sendo, os seus pensamentos, e consequentemente as palavras que os transmitem, em vez de se estruturarem tal e qual uma espiral, uma árvore, ou alguma construção mais complicada, parecem cubos de betão dispostos uns em cima dos outros); os portugueses falam efectivamente mal inglês para quem tem a televisão nessa língua e uma produção musical medíocre, para não dizer má, que é totalmente esmagada pela do mundo saxónico; o canadiano parece mais um jogador de futebol americano que o americano - devem ser complexos; por fim os ingleses que, para reconhecidos eurocépticos, são excepcionalmente competentes e trabalhadores.

Avulso #1

Com o devido respeito ao Boris Vian, não resisto em afirmar que os seus aforismos são infinitamente inferiores aos do Pedro Mexia. Ao lado dos Diários de Vida, o Boris Vian por Boris Vian é uma obra inferior e pouco engraçada.