segunda-feira, agosto 27, 2007

Seta

Balbadiou era l'uomo che vent'anni prima era entrato in paese, aveva puntato diritto all'ufficio del sindaco, era entrato senza farsi annunciare, gli aveva appoggiato sulla scrivania una sciarpa di seta color tramonto, e gli aveva chiesto
- Sapete cos'è questa?
- Roba da donna.
- Sbagliato. Roba da uomini: denaro.
Il sindaco lo fece sbattere fuori. Lui costruí una filanda, giù al fiume, un capannone per l'allevamento di bachi, a ridosso del bosco, e una chiesetta dedicata a Sant'Agnese, all'incrocio della strada per Vivier. Assunse una trentina di lavoranti, fece arrivare dall'Italia una misteriosa macchina di legno, tutta ruote e ingranaggi, e non disse piú nulla per sette mesi. Poi tornò dal sindaco, appoggiandogli sulla scrivania, ben ordinati, trentamila franchi in banconote di grosso taglio.
- Sapete che cosa sono questi?
- Soldi.
- Sbagliato. Sono la prova che voi siete un coglione.
Poi li riprese, li infilò nella borsa e fece per andarsene.
Il sindaco lo fermò.
- Cosa diavolo dovrei fare?
- Niente: e sarete il sindaco di un paese ricco.


Alessandro Baricco, Seta

quinta-feira, agosto 23, 2007

Aquecimento Global

De há uns anos a esta parte a Silly Season parece que dura 12 meses.

segunda-feira, agosto 20, 2007

"Longe dos olhos, longe do coração"

Os filmes enganam-nos tanto.

Corre tudo sempre tão bem nos filmes.

Os reencontros são sempre tão bonitos. Passam dias, meses, anos e o sentimento dos amantes é sempre o mesmo. Quando se vêem, correm imediatamente um para o outro. Trancam-se num abraço inseparável, beijam-se, primeiro de olhos fechados para sentirem bem o toque e o cheiro, depois com os olhos abertos para se olharem, para verem as labaredas da paixão que arde, por detrás dos olhos castanhos dela, por detrás dos olhos verdes dele.

As mãos apertam-se e finalmente dizem-se as primeiras palavras. Parece que nunca estiveram separados. Falam de tudo como se aquele fosse o primeiro beijo, mas um primeiro beijo diferente. Um primeiro beijo perfeito, onde os lábios e a língua já se encontram automaticamente, onde ambos já sabem o compasso um do outro. Onde não existem incertezas. É o reeditar de uma experiência única.

As mãos tocam-se. Deslizam uma pela outra lentamente. Os dedos entrelaçam-se. As testas continuam encostadas, os narizes tocam-se ao de leve, os olhos húmidos sorriem. Abraçam-se novamente, desta vez com mais força.

Estão felizes. É tudo como sempre. Conhecem-se. Nunca deixaram de se amar. Nenhum pensou por minutos que o outro pudesse ter mudado, que pudesse estar inseguro, que estranhasse.

Nos filmes não se estranha. Os amantes separados ou desavindos nunca se estranham num filme.

Na realidade não é nada assim, e é pena.

Na realidade estranha-se. O amor é hábito. Amar é hábito. Conhecer é conviver. Conhecer a intimidade é viver a intimidade diariamente. É partilhar espaços.

À distância não se conhece, não se partilha. Perde-se o hábito.

Os beijos de reencontro não são beijos bons. Sabemos isso depois do primeiro. Depois de estranharmos. A partir daí nenhum reencontro é tão bom como nos filmes.

As bocas não se encontram. Os abraços são estranhos, desalinhados, quase falsos. Não sabemos porque é que gostamos. Nos olhos pouco vemos que não a cor. Os sorrisos são sempre novos. As fotografias que temos, tanto mentais como reais, não passam de um frame de um determinado momento da vida. Não há edição na vida. Não há montagem. Não se colam frames.

Aquele sorriso da foto que nos achamos ser o verdadeiro não é o que encontramos quando estamos diante de alguém que não vemos há tempos.

Os reencontros são difíceis. Muito difíceis. Quanto mais o tempo passa, mais difíceis se tornam. Mais somos consumidos pelo horrível estranhar.

Mesmo que tenhamos a certeza que amamos, a distância e a ausência fazem-nos esquecer os porquês. Temos porquês, mas esses são sempre baseados no passado, e o passado não acontece outra vez.

Deixei de confiar nos amores dos filmes.

quinta-feira, agosto 09, 2007

diálogos

Uma pessoa afeiçoa-se mesmo aos piores hábitos dos outros.
É um bocado a isso que tenho apego sabes.
Eu gostava muito dela mas havia coisas tramadas.
E as pessoas mudam quando estão com outras.
E eu lembro-me que não era ao início como era no fim.
Precisei de ser eu outra vez.
Agora já não sou o eu do principio mas sim uma besta.
É complicado.

segunda-feira, agosto 06, 2007

The Streets

Eu gostei bastante da prestação dos The Streets na edição deste ano do festival Sudoeste.

Liderados por um Mike Skinner que canta/recita tão bem ao vivo como nos álbuns e que não parece ligar a qualquer código de vestir que esteja na moda, eu achei o concerto bastante bom. Fartei-me de dançar. Dancei bastante mais do que achei que seria possível pelo registo dos cds.

Achei a banda bastante boa e a presença em palco forte. Gostei particularmente das vozes que o acompanhavam, especialmente da forma como se entrosavam (especialmente no Has It Come to This).

As críticas são o que são. No fundo são artigos de opinião, escritos por pessoas mais ou menos especializadas. Valem por isso o que valem.

Fiquei um bocado surpreendido por tanto o Público como o DN classificarem o concerto dos The Streets como a grande desilusão do Sudoeste. O Público chama-lhes "uns M. People azeiteiros", dizendo ainda não perceber "porque raio anda a tocar Let’s Push Things Forward, Has It Come To This? ou Fit But You Know It com uma banda e uma atitude que destituem a sua obra de qualquer profundidade". O DN diz que, embora bons em palco, "foi bastante notória a falta de adesão do público perante um som com o qual não sente muitas afinidades", corolário que justifica a afirmação inicial, segundo a qual a "estreia dos The Streets não foi, afinal, tão brilhante quanto a sua estreia em solo português poderia pressupor".

Na minha opinião (que vai ser inusitadamente pífia), isto não corresponde à verdade. Mike Skinner gosta de tocar com uma banda, em vez de ter um gajo com um computador atrás dele a carregar no play e no stop. O Sam the Kid também gosta de tocar com banda e o facto é muito celebrado pelo autor do artigo do Público. Se a banda era boa ou má não sei. Eu achei bastante coesa e consistente, como já disse, de resto. Chamar-lhes uns M. People azeiteiros é obviamente insultuoso, nem tanto pelos M. People (que não têm nada a ver) como pelo adjectivo azeiteiro, de óbvio mau gosto. Será que o autor chama azeiteiro a toda a gente de quem não gosta? (parte pífia)

Puro mau senso.

A crónica do DN tem mais nível, sem dúvida. É mais comedida nas palavras, o que é de louvar. Não deixo no entanto de achar muito estranho, vindo especialmente de um suposto crítico, a lógica do artigo. A equação que resume o artigo é "pouca adesão do público = a mau concerto".

Parece-me uma lógica insatisfatória, especialmente para um crítico que, no decorrer da sua actividade profissional, já deve ter, com certeza, assistido a concertos excelentes sem adesão do grande público.

Tem lá culpa o Mike Skinner que a maioria daquela gente ache mais piada a ouvir 5 horas seguidas de 3 acordes de guitarra de ritmo e pull-outs consecutivos com um sotaque falsamente jamaicano(um pull-out do alemão Martin Jondo ou dos portugueses Sounds Portugueses vale o que vale) (parte muito pífia, quase reles).

Como dizia, com razão, um artista francês (o nome não me lembro) à CNN, a democracia tem mau gosto. A falta de público nos The Streets é exemplo (mais um) disso.

Estas críticas são a prova que o mau gosto está por toda a parte, mesmo (ou especialmente) nos jornais mais lidos do país (parte extremamente pífia, quase reles, a tocar o vil, o grosseiro e o ordinário).

sexta-feira, agosto 03, 2007

Soil & 'Pimp' Sessions


Esta banda genial, responsável por um dos melhores discos dos últimos anos, Pimpmaster*, está de volta. O novo disco chama-se Pimpoint. Ainda não ouvi, mas se for tão bom como o outro é maravilhoso.

Os Soil & 'Pimp' Sessions têm uma caracteristica óptima para quem, como eu, não sabe tocar nenhum instrumento mas que sonha subir a um palco com milhares de pessoas em delírio. O terceiro elemento a contar da esquerda, aquele mais gordo, chama-se Shacho a.k.a the President, e a sua função é, segundo o profile disponível no site da banda, ser o agitator/spirit.

O Shacho não toca absolutamente nada. Limita-se a dançar e a berrar umas coisas imperceptíveis quando a música começa ou em momentos em que está mais calma.

O Shacho é um sonho de qualquer pessoa que sonha fazer parte de uma banda sem saber tocar nada**.

Como eu.

*Os videos da banda são geniais. Podem vê-los no youtube.

**Isto trata-se de pura especulação. O mais provável é que o Shacho seja um multi-instrumentalista genial , com 25 anos de hot club japonês.