quarta-feira, fevereiro 24, 2010

New Left Review

"New Left Review at 50: no balloons, of course, and definitely no party games. The very idea of "celebration" smacks of consumerist pseudo-optimism. Mere chronology is, after all, an untheorised concept. We should see it as not so much an ­anniversary, more an over-determined conjuncture".

(...)

"When so much of even the so-called "serious" media is given over to celebrity-fuelled ephemera and the recycling of press releases and in-house gossip; and when the academic world is struggling to mitigate the worst effects of funding-driven overproduction and careerist modishness; and when national and international politics seem to consist of bowing to the imperatives of "the market" while avoiding public relations gaffes; then we need more than ever a "forum" like NLR. It is up to date without being merely journalistic; it is scholarly but unscarred by citation-compulsion; and it is analytical about the long-term forces at work in politics rather than obsessed by the spume of the latest wavelet of manoeuvring and posturing. Despite its self-description in its guidelines for contributors, the journal is not in any obvious sense "lively". It is downright difficult (but none the worse for that), because what it tries to analyse is complex and its preferred intellectual tools are often conceptually sophisticated. It is difficult where being easy would be no virtue, difficult where aiming to be "accessible" would mean patronising its readers, difficult where ideas need to be chewed rather than simply swallowed. That's what I admire above all about NLR: its intellectual seriousness – its magnificently strenuous attempt to understand, to analyse, to theorise."

Transcritos estão o primeiro e o último parágrafo de um muito interessante texto, publicado no Guardian, sobre os 50 anos da New Left Review. A New Left Review é um daqueles journals (não sei como se diz em português, mas aquilo não é uma revista científica) que toda a gente, da direita à esquerda, deveria ler. Aliás, constatar que muita direita e muita esquerda apenas conhece os autores que formaram o pensamento oposto por interposta pessoa é meio caminho andado para terem uma conversa de surdos.

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

blogues

Este espaço bonito onde eu debito as minhas barbaridades, mais emocionais que racionais, quase acéfalas, tem-se tornado um lamaçal nojento nos últimos tempos. O combate político, diz-me quem cá anda há tempos (e sei porque li muito para trás) sempre fez parte deste tipo de escrita na internet.

O único blogue que pesquisei a fundo foi a Coluna Infame, do Pedro Mexia, do Pedro Lomba e do João Pereira Coutinho. Pesquisei porque sempre me disseram que tinha sido a génese dos blogues políticos e porque respeito intelectualmente todos os autores. Gostei de muito de muito do que li e confesso que não percebi tudo o que por lá se passou. Muitas ligações são para locais que já não existem há muito tempo.

Reconheço o perigo de estar a romantizar a coisa e não estou aqui assim há tanto tempo. Durante bastante tempo, vi nos blogues um espaço que nasceu contra a política e contra a informação disponível pelos canais tradicionais. Era um espaço livre, pouco influenciável, onde pessoas, nem sempre educadas mas com gosto pela discussão elevada, trocavam ideias sobre muita coisa. Misturavam-se com prazer, arte, cultura, aspectos pessoais e aspectos emocionais. A política era matéria do desabafo. Os blogues eram espaços cheios de si próprios. Transbordavam as pessoas que neles escreviam - os seus intelectos, o seu quotidiano e os seus sentimentos - com uma naiveté de quem nunca tinha partilhado com cuidado muitas das suas ideias, dos seus pensamentos, dos seus interesses, hábitos, paixões, desgostos e, como não o fazer?, ideais políticos.

No entanto, sinto que hoje os blogues políticos, com raras excepções, apanharam todos os vícios da política em geral. Não falo dos blogues criados para o efeito de eleições ou combates ideológicos. São bons, legítimos, abertamente políticos e interessantes. Uma parte substancial da forma como eu entendo, politicamente, o mundo provém daí. Muita da informação com que construo e reformulo as minhas convicções vem daí. Os blogues são uma das minhas maiores fontes de food for thought.

Hoje, mais que ideias, leio nos blogues insultos e insinuações. Histórias mal contadas. Vejo, com mais regularidade que gostaria, situações que se pontuam por um aberto desrespeito. Chamar mentiroso a outrem é regra. Reagir a quente é o mais comum.

Isto tornou-se um terreno podre e sujo, onde se jogam os nomes de muita gente com valor e muito inteligentes. Um amigo que vive fora perguntava-me hoje, entre e-mails, se eu achava que Portugal estava a entrar em 'território moral bastante escorregadio'. A julgar pela evolução dos blogues, temo que terei que responder que sim.

PSD

Um rompe, um muda, outro unifica.

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

RPS

Acho maravilhoso o rebuliço em torno da providência cautelar pedida por Rui Pedro Soares e emitida por um qualquer tribunal lisboeta. Que raio de gajo, tendo ao seu dispor tal mecanismo, e entendendo que dele deve fazer uso, porque a situação assim o exige, optaria por não o utilizar? Censura, tentativa de condicionar a imprensa, ofensa ao espaço público dizem. Deixem-me rir e de boca aberta. Claro que o 'espaço público' é importante. A democracia também. O Estado de Direito idem. Só não sei o que esperavam de qualquer outra pessoa. Se acham que estão rodeados de Estadistas exemplares, ou de pessoas que valorizam o 'espaço público' mais do que a sua própria liberdade, estão profundamente enganados.

Dâm-Funk II



Ao cuidado deste ser humano e da crew do Panda Bear. Por mim mandamos umas cabeçadas uns aos outros logo à noite lá para os lados de Santa Apolónia.

terça-feira, fevereiro 09, 2010

Dâm-Funk


O Dâm-Funk vai tocar no bar do Lux esta sexta-feira. Estou extremamente feliz. Sou aliás um dos poucos deste lado do Atlântico que coloca as mãos nos bolsos como o Dâm-Funk.

sábado, fevereiro 06, 2010

o bes tem um feeling


Tem havido muita celeuma em relação ao mais recente filme de Eastwood e eu, um notório conhecedor de tudo o que se relaciona com gemadas com vinho do porto, ainda que esteja em posição de dar uma opinião extremamente bem fundamentada sobre o que apoquenta a populaça, prefiro, pura e simplesmente, atacar este artigo profundamente estapafúrdio que saiu no jornal cujo director foi saneado pela melhor dupla de centros do mundo da comunicação social: Belmiro de Azevedo, tremendo no contacto físico inútil e José Sócrates, fortíssimo a fugir ao contacto físico útil.

Portanto, e tentando colocar isto de uma forma extremamente simples (o que não é nada fácil), aquilo a que o Aníbal Rodrigues e o David Andrade se opõem de forma veemente no filme em questão são no fundo três coisas: aparecer um carro que em 1995 ainda não existia numa das cenas, um pontapé de saída mal conseguido e uma série de erros de casting.

Começando pelo final, claro que o casting não é o melhor. O Lomu não é igual ao Lomu. No entanto, dá para perceber que é o Lomu e isso chega. O Stransky idem. O Pienaar idem. Queriam o quê? Que o Eastwood ligasse aos gajos que clonaram a dolly? Desafio desde já o Aníbal Rodrigues e o David Andrade a arranjarem um gajo cuja fronha se assemelhe à do Glen Osbourne.

Passando ao primeiro ponto, só me apetece mandar-vos à merda, coisa que não farei. Então ocupam meia página de um magazine cultural para dizer que aparece um Hyundai numa cena do filme. Poupem-me. Dois gajos escreverem um artigo a denunciar que num filme do Clint Eastwood aparece um Hyundai Getz faz imensa pena. Ainda assim, faz bastante menos pena do que esta frase, que se pode ler no mesmo artigo:

" O "intruso" anacrónico é um pequeno Hyundai Getz, lançado em 2002, remodelado em 2005 e que deixou de ser comercializado em 2009 para dar lugar ao actual i20. O exemplar que se vê junto a uma esquina corresponde ao modelo remodelado, pelo que será datado de 2005 ou de um ano posterior."

Isto é cena de gajos que não podem perceber nada de Rugby. Lamento imenso Maria João Pires.

Quanto ao pontapé de saída, queria antes do mais dizer-vos que se o Andrew Mehrtens era um gajo carismático o Jorge Jesus é um gajo que domina perfeitamente a língua portuguesa. O Andrew Mehrtens um gajo carismático. Nem sei por onde começar. Não vou começar, é melhor. Acho que basta dizer que o Andrew Mehrtens é um gajo que fez menos placagens na vida profissional que o Hélder Postiga fez golos pelo Sporting.

No que respeita ao pontapé de saída, concedo que é efectivamente fraco. No entanto, não me lembro de como foram os pontapés de saída nessa final do campeonato do mundo de rugby. Os do filme fazem pena e podem não se conformar com a realidade, mas são verosímeis o que chega perfeitamente.

(na foto, Glen Osborne, um gajo nascido em Wanganui em 1971)

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

ao mesmo tempo

"Creio que o Daniel está enganado. Andamos mesmo a debater o défice, o endividamento, o peso do Estado na economia e o papel dos privados no combate ao desemprego. Mas também temos debatido o garrote anti-democrático em que este primeiro-ministro gosta de meter a imprensa e todos os seus opositores. Os problemas do país não passam só pelo défice que o governo escondeu antes das eleições."

A bem da justiça, o Pedro Lomba pertence a uma direita inteligente, culta, cordata e honesta que nunca alinhou pelo argumento de que existem coisas mais importantes em que pensar do que debater o casamento entre pessoas do mesmo sexo. É bom saber que há uma direita que consegue pensar em mais que uma coisa ao mesmo tempo.

barbie e sindi

A caminho de casa ouvi as declarações de uma jovem representante dos estudantes do ensino secundário e básico. Presumo que a menina não tivesse mais de 17 anos. E mesmo se os tivesse passado, deve ter sido por pouco. Tão novinha e já lá estava tudo: 'direitos constitucionalmente garantidos, 'pressupostos democráticos' metidos entre direito 'à educação sexual', 'fim das aulas de substituição' e não sei mais o quê. Gostava imenso de perceber que raio de conversas têm estas pessoas em casa. E quem lhes dá ouvidos numa escola, claro.