sexta-feira, fevereiro 19, 2010

blogues

Este espaço bonito onde eu debito as minhas barbaridades, mais emocionais que racionais, quase acéfalas, tem-se tornado um lamaçal nojento nos últimos tempos. O combate político, diz-me quem cá anda há tempos (e sei porque li muito para trás) sempre fez parte deste tipo de escrita na internet.

O único blogue que pesquisei a fundo foi a Coluna Infame, do Pedro Mexia, do Pedro Lomba e do João Pereira Coutinho. Pesquisei porque sempre me disseram que tinha sido a génese dos blogues políticos e porque respeito intelectualmente todos os autores. Gostei de muito de muito do que li e confesso que não percebi tudo o que por lá se passou. Muitas ligações são para locais que já não existem há muito tempo.

Reconheço o perigo de estar a romantizar a coisa e não estou aqui assim há tanto tempo. Durante bastante tempo, vi nos blogues um espaço que nasceu contra a política e contra a informação disponível pelos canais tradicionais. Era um espaço livre, pouco influenciável, onde pessoas, nem sempre educadas mas com gosto pela discussão elevada, trocavam ideias sobre muita coisa. Misturavam-se com prazer, arte, cultura, aspectos pessoais e aspectos emocionais. A política era matéria do desabafo. Os blogues eram espaços cheios de si próprios. Transbordavam as pessoas que neles escreviam - os seus intelectos, o seu quotidiano e os seus sentimentos - com uma naiveté de quem nunca tinha partilhado com cuidado muitas das suas ideias, dos seus pensamentos, dos seus interesses, hábitos, paixões, desgostos e, como não o fazer?, ideais políticos.

No entanto, sinto que hoje os blogues políticos, com raras excepções, apanharam todos os vícios da política em geral. Não falo dos blogues criados para o efeito de eleições ou combates ideológicos. São bons, legítimos, abertamente políticos e interessantes. Uma parte substancial da forma como eu entendo, politicamente, o mundo provém daí. Muita da informação com que construo e reformulo as minhas convicções vem daí. Os blogues são uma das minhas maiores fontes de food for thought.

Hoje, mais que ideias, leio nos blogues insultos e insinuações. Histórias mal contadas. Vejo, com mais regularidade que gostaria, situações que se pontuam por um aberto desrespeito. Chamar mentiroso a outrem é regra. Reagir a quente é o mais comum.

Isto tornou-se um terreno podre e sujo, onde se jogam os nomes de muita gente com valor e muito inteligentes. Um amigo que vive fora perguntava-me hoje, entre e-mails, se eu achava que Portugal estava a entrar em 'território moral bastante escorregadio'. A julgar pela evolução dos blogues, temo que terei que responder que sim.

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