quarta-feira, outubro 07, 2009

Summers pt. II

Como este espaço é disso exemplo, existe um sem número de pessoas que adoram escrever sobre assuntos que não dominam. É a um exercício desse género que eu me proporei nas próximas linhas. Recapitulando tudo o que faz sentido no texto anterior (para vos poupar trabalho): New Yorker, Summers, Nobel, Asiáticas, Geometria, Prima, Luís Fazenda, Molho de Tomate. Bem, acontece que o maravilhoso texto da New Yorker sobre a equipa económica do Obama e o Larry Summers, tem uma passagem que, por si só, explica parte substancial do abismo que existe entre a academia portuguesa e a academia anglo-saxónica e alguma academia europeia.

Claro que o Summers é um ser especial. Existe imensa gente especial que começou a fazer coisas muito interessantes quando eram muito novos. Já tive a oportunidade de vos contar que o Saussure escreveu, ainda nem vinte anos tinha, um tratado sobre todas as línguas do mundo. Mas, em nenhum lugar do mundo, é a 'especialidade' tão potenciada como na academia anglo-saxónica. Isto para vos mostrar a primeira frase do ensaio através do qual Summers se propôs como aluno do curso de Economia na Universidade de Harvard em 1975: "Many children are thaught to believe in god. I came to believe in the power of systems analysis". Como a minha leitora poderá imaginar, um gajo que escrevesse esta baboseira no ínicio de um trabalho para admissão a um curso de economia em território nacional, era imediatamente posto de parte.

Bem, estou bastante cheio da massa com tomate e por isso vou-vos poupar a historietas sobre categorias pseudo-científicas, currículos académicos, ideologias, verdades parciais e outros problemas perenes (e silenciosos) que apoquentam grande parte da academia portuguesa. Ainda assim, eu gostava mesmo era que a academia portuguesa se risse mais. Do mundo e de si própria.

No ano passado passei um fim de semana enfiado na Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da UNL num Colóquio sobre Marx (para colóquio Marxista havia demasiada oferta para a procura existente, no Socialismo Real era ao contrário). Retive muita coisa, mas nunca me vou esquecer de um ser humano inglês, de vinte e poucos anos, que esteve a falar durante cinquenta minutos sobre um alemão que tentou, num passado distante, cravar umas pilhas alcalinas nas costas para poder trabalhar durante mais tempo. No fim, depois de cinquenta minutos a rir, o tipo ofereceu uns bilhetes a cada pessoa com o seu e-mail, para lhe mandarmos comentários.

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