Confesso que não sou particular fã de Christopher Hitchens. Não defendo muitas das suas ideias e não aprecio o estilo provocador, por vezes tão frontal que ronda o insensível. Nunca li nenhum dos seus livros, embora tenha algum interesse naqueles em que ele se dedica a destruir a ideia que Deus existe. Mas Hitchens, para o bem e para o mal, é um homem dedicado, inteligente, interessado, opinativo, bem preparado para defender as suas ideias até ao fim e com um apurado sentido de humor (lembro-me que há uns anos, numa entrevista televisiva, o público o começou a vaiar por algo que ele disse. Hitchens, sem mais, virou-se na direcção da plateia e presenteou-os com um bem extendido dedo médio). E, se há coisa em que se notam algumas dessas qualidades, é nos parágrafos iniciais de alguns dos seus textos. Este, por exemplo:
"I was once introduced, in the Cosmos Club in Washington, to Willis Carto of the Liberty Lobby, a group frequently accused of being insufficiently philo-Semitic. Mr Carto unburdened himself of quite a long burst about the power of finance capital, whereupon our host, to lighten the atmosphere, said, “Come on Willis, you’re sounding like Ezra Pound”. “Ezra Pound!” exclaimed Mr Carto. “Why, I love that man’s work. Except for all that goddam poetry!” I thought then that if one ever needed a working definition of an anti-Semite, it might perhaps be an individual who esteemed everything about Ezra Pound except his Cantos".
Ou este:
"At a dinner party that will forever be green in the memory of those who attended it, somebody was complaining not just about the epic badness of the novels of Robert Ludlum but also about the badness of their titles. (You know the sort of pretentiousness: The Bourne Supremacy, The Aquitaine Progression, The Ludlum Impersonation, and so forth.) Then it happily occurred to another guest to wonder aloud what a Shakespeare play might be called if named in the Ludlum manner. At which point Salman Rushdie perked up and started to sniff the air like a retriever. “O.K. then, Salman, what would Hamlet’s title be if submitted to the Ludlum treatment?” “The Elsinore Vacillation,” he replied—and I find I must stress this—in no more time than I have given you. Think it was a fluke? Macbeth? “The Dunsinane Reforestation.” To persist and to come up with The Rialto Sanction and The Kerchief Implication was the work of not too many more moments".
Repararam como em meia dúzia de linhas o gajo nos deixa irremediavelmente ansiosos para saber o diz o resto do texto? Serei só eu que acha isto soberbo (estou com uma dose cavalar de anti-histamínicos nos cornos, até injecções intramusculares levei)? Até podia nem dizer nada de jeito nas páginas seguintes (diz) que, com parágrafos iniciais destes, só estamos a ler para podermos voltar ao início com sentido de missão cumprida e reler o primeiro parágrafo mais cinco vezes.
"I was once introduced, in the Cosmos Club in Washington, to Willis Carto of the Liberty Lobby, a group frequently accused of being insufficiently philo-Semitic. Mr Carto unburdened himself of quite a long burst about the power of finance capital, whereupon our host, to lighten the atmosphere, said, “Come on Willis, you’re sounding like Ezra Pound”. “Ezra Pound!” exclaimed Mr Carto. “Why, I love that man’s work. Except for all that goddam poetry!” I thought then that if one ever needed a working definition of an anti-Semite, it might perhaps be an individual who esteemed everything about Ezra Pound except his Cantos".
Ou este:
"At a dinner party that will forever be green in the memory of those who attended it, somebody was complaining not just about the epic badness of the novels of Robert Ludlum but also about the badness of their titles. (You know the sort of pretentiousness: The Bourne Supremacy, The Aquitaine Progression, The Ludlum Impersonation, and so forth.) Then it happily occurred to another guest to wonder aloud what a Shakespeare play might be called if named in the Ludlum manner. At which point Salman Rushdie perked up and started to sniff the air like a retriever. “O.K. then, Salman, what would Hamlet’s title be if submitted to the Ludlum treatment?” “The Elsinore Vacillation,” he replied—and I find I must stress this—in no more time than I have given you. Think it was a fluke? Macbeth? “The Dunsinane Reforestation.” To persist and to come up with The Rialto Sanction and The Kerchief Implication was the work of not too many more moments".
Repararam como em meia dúzia de linhas o gajo nos deixa irremediavelmente ansiosos para saber o diz o resto do texto? Serei só eu que acha isto soberbo (estou com uma dose cavalar de anti-histamínicos nos cornos, até injecções intramusculares levei)? Até podia nem dizer nada de jeito nas páginas seguintes (diz) que, com parágrafos iniciais destes, só estamos a ler para podermos voltar ao início com sentido de missão cumprida e reler o primeiro parágrafo mais cinco vezes.
2 comentários:
É soberbo. Soberbo. Quem é este gajo? Especialmente o segundo quote lê-se que nem barrar manteiga num pao de mafra acabado de tirar de forno. Que coisa boa. Mais. Manda mais.
Acho que o wikipedia te pode explicar melhor que eu quem é o Hitchens.
É um personagem o gajo. Caminha naquela linha ténue entre intelectual respeitado e opinion maker pop star.
Ao menos faz merda, uma qualidade que os intelectuais portugueses teimam em desprezar.
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