segunda-feira, janeiro 12, 2009

Fico especialmente horrorizado com as visões de alguns comentadores de 'política internacional' sobre o conflito do Médio Oriente. Não que as outras análises não me causem repugna, causam. Fico indisposto sempre que leio textos com títulos como "um cessar-fogo em Gaza não resolve nada", que era o título do editorial da Revista Sábado da semana passada. Nada, à excepção de, desde o dia em que a revista saiu, uma centena de vidas talvez. Mas algum 'especialistas' primam pelo mau gosto, especialmente aqueles que gostam só de factos e se consideram sábios conhecedores do cálculo político. É o caso do Bernardo Pires de Lima que, nos dois textos (1, 2) que lhe li sobre o conflito, trata a questão como um jogo eleitoral puro, manobrado por Livni e Barak para disputarem o que parecia ser uma eleição perdida à partida para Netanyahu. Em ambos o argumento é o mesmo: o Hamas deu a Israel o que o actual governo de Israel queria. Segundo Pires de Lima, Israel procurava um pretexto para destruir o Hamas e agora vai faze-lo. Daí que o Hamas tenha feito um 'favor' e que Israel tenha levado a cabo uma operação 'militarmente brilhante'. E onde estão os civis neste quadro todo? Não estão. Ou melhor, estão subordinados ao objectivo central, que é destruir o Hamas. Daí que Pires de Lima não se coíba de afirmar que a operação é também oportuna porque, ao destruir o Hamas, Israel fica com a Fatah como interlocutor único, o que possibilita a criação de dois Estados.

O 'perito', como o 'cientista político' tem destas coisas. De tanto cálculo, de tanta estratégia, de tanta distância e análise clínica, acaba por se desdobrar em análises imaculadas e elegantes, mas que no fundo não fazem sentido nenhum, porque de humano pouco ou nada têm. A facilidade com que Pires de Lima exalta as proezas militares Israelitas com o objectivo de destruir o Hamas, menorizando, por omissão, a miséria e a morte dos civis palestinianos que vivem em Gaza, diz também muito da estranha espécie de conservadorismo que alguns apregoam. Arrogantes e convencidos, tão certos estão da nobreza dos seus fins que se esquecem de olhar aos meios usados para os alcançar.

Sem comentários: