"Pois esta noite, assim que ajoelhei diante da capela da Senhora, depois de seis salve-rainhas, voltei-me para a bela imagem e disse-lhe: 'Ai, quem me dera saber como está a minha tia Patrocínio!'. E quer a titi acreditar? Pois olhe, a Senhora, com a sua divina boca disse-me, palavras textuais, que até, para não me esquecerem, as escrevi no punho da camisa: 'A minha querida afilhada vai bem, Raposo, e espera fazer-te feliz!'. E isto não é milagre extraordinário, porque me contam aqui todas as famílias respeitáveis com quem vou tomar chá que a Senhora e seu divino Filho dirigem sempre algumas palavras bonitas a quem os vem visitar. Saberá que já lhe obtive certas relíquias, uma palhinha do presépio e uma tabuinha aplainada por S. José. O meu companheiro alemão, que, como mencionei à titi na minha carta de Alexandria, é de muita religião e muito sábio, consultou os livros que traz e afirmou-me que a tabuinha era das mesmas que, segundo está provado, S. José costumava aplainar nas horas vagas".
Eça de Queiroz, A Relíquia (1887).
Não há qualquer explicação para o que eu me ri ontem à noite a ler isto e nem estava sob o efeito de psicotrópicos. Esse trecho é um retirado de uma carta de Teodorico, o maior mentiroso do mundo, para a sua tia, a crente senhora que lhe pagou uma viagem à terra onde Jesus nasceu.
1 comentário:
soberbo.
Enviar um comentário