sexta-feira, dezembro 19, 2008

BPP

O Público noticia hoje que alguns dos clientes do Banco Privado Português solicitaram os serviços de escritórios de advogados para tentar reaver a parte possível do dinheiro que investiram. Segundo o mesmo jornal, não se trata apenas dos pequenos clientes, ou até alguns depositantes, mas sim dos grandes clientes. É perfeitamente normal que isso aconteça. O que é vergonhoso é o argumento que está a ser usado: os principais clientes do BPP contrataram escritórios de advogados para que estes desenhem argumentos jurídicos que sustentem que que os investimentos de alto risco que fizeram, possam ser considerados depósitos. Esta manobra permitir-lhes-á reaver as verbas que aplicaram no banco. A questão levanta-se porque muitos contratos têm uma "legalidade duvidosa", ou sejam, "ficam a meio caminho entre aquilo que é um depósito e o que é considerado um investimento de risco". O resto do artigo explica os meandros destes acordos, que são difíceis de perceber (mas metem sociedades off-shore, o que é meio caminho andado para cheirar a estrume).

É tremenda a falta de integridade, no sentido mais estrito da palavra. Algumas filosofias liberais da cultura promoveram, entre críticas mais ou menos acesas, uma visão da acção humana regida por regras diferentes em esferas separadas - províncias de cultura. O que comportamentos como este mostram é que o homem investidor, enquanto ser preocupado com reaver o seu dinheiro e lucrar, parece estar a vencer o homem enquanto ser social, na sua dimensão ética e moral, o que é grave. Para não falar sequer da falta nítida de hombridade. A questão que se põe é uma entre o poder e o dever. O homem investidor pode explorar a lei a seu bel-prazer. O homem, na sua dimensão ético-moral, não o deve fazer. E este segundo não deve ficar surpreendido que arcar com as consequências do primeiro. O pior é que talvez nenhum deles se preocupe, caso isso aconteça.

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