25 de Abril

Há algo no 25 de Abril que me deixa deslumbrado. Não me interessa o antes nem o depois. Não quero saber o que o antecedeu, o que lhe sucedeu. Não me interessa qual foi a causa, quais foram as causas, quem o fez quem não o fez ou porque o fez. O que me deslumbra são as pessoas. As imagens de tanta gente na rua. Houve ali, por certo, um momento único, aquele momento único que apenas existe nas revoluções. Houve ali um momento em que toda a gente caminhava sem rumo mas crente que na direcção certa. Ninguém sabia porquê, ninguém sabia o que ia acontecer, ninguém tinha controlo. Era o domínio da ausência. Ninguém era um, eram todos tudo e todos todos. Por um momento que seja, não mensurável no nosso tempo normal - não revolucionário - cada um foi todos e todos foram um. Todas as possibilidades abertas, tudo por definir. E isso, esse momento, esse momento assustadoramente profundo em termos da sua capacidade articuladora tanto do passado, como do presente como futuro, é algo único e que duvido que volte a acontecer.