Tenho andado a pensar no humanismo.
Fui agora ver ao wikipedia que entradas tem por humanismo. Total perda de tempo. Parece que não existe uma definição unânime.
Até um humanismo marxista existe.
Bem, isto tudo a propósito de quê?
No outro dia um amigo escreveu um post com uma história em que um gajo respondia, de uma forma nada simpática, que não tinha dinheiro a um gajo daqueles que se passeia com cães, malabares, uns brincos, umas vestes rotas.
Seguiu-se uma enorme e bastante interessante discussão*.
Achei, pelo tom geral da coisa, que a maioria das pessoas que comentaram consideram estes seres como algo perfeitamente dispensável. Peço-vos que não julguem mal as minhas palavras. Não os vão "dispensar" eu sei, mas ficavam mais felizes se eles não vos dissessem nada. Alguns acho que ficavam mais felizes se eles nem sequer se passeassem por aí.
Ora eu, talvez mais tolerante, achei que havia ali um forte odor a intolerância. Toda a gente parecia estar sinceramente indignada que alguém perfeitamente desconhecido, "com bom corpinho para trabalhar", estivesse ali a pedir dinheiro.
Eu apenas acho que quem quer dá, quem não quer não dá.
Bem, mas a propósito de humanismo. Crescentemente me irrita, vivendo numa cidade, a falta sentimento de comunidade que as pessoas parecem exibir. Acho que caminhamos cada vez mais para que a sociedade seja um conjunto de indivíduos que nem sequer formam uma comunidade. A pessoas partilham o mesmo espaço, trilham os mesmos caminhos, deslizam pelas mesmas ruas, mas não contactam umas com as outras.
Quando procuramos abordar alguém para uma conversa ou uma troca de impressões, as pessoas olham-nos sempre com um ar estranho, tipo "que é que este gajo quer?".
A pessoa que fala, que cumprimenta, que diz bom dia, que sorri, que interage com quem se cruza quase diariamente é sempre o estranho, o louco, o diferente.
É o louco ou o estranho quem vai perguntar se está tudo bem com uma pessoa que conhecemos dos nossos caminhos diários mas com quem nunca falamos.
Mas, não será essa mesma interacção, esse mesmo olhar mais humano sobre aqueles que nos rodeiam, aquela tolerância mais humana, aquilo que tanto nos falta hoje em dia?
Parecemos não tolerar e perdoar a diferença mesmo a mais inofensiva.
É porventura sintomático disso que tenham de existir iniciativas como os free hugs para que as pessoas manifestem a sua solidariedade para com aqueles que as rodeiam - para com a sua parte da humanidade. É que um free huger é uma pessoa num dia. Abraços a desconhecidos? Há mais para o ano dirá a maioria.
Bem, voltando de novo ao humanismo. Temos que o resgatar basicamente. Temos que assumir um projecto de humanidade, um projecto conjunto, solidário, tolerante.
A preocupação com o alheio, com o que não nos diz respeito, com aquele que não conhecemos tem que ser algo que nos acompanha. Interpelar, indagar, falar, ouvir, sorrir, fazer sorrir e rir é um dever que devemos ter. É um humanismo que nos deve acompanhar.
Essa facilidade em interagir com o desconhecido foi-nos roubada por aqueles mal intencionados, pelos loucos, pelos sem vergonha, pelos bandidos. Roubaram para eles o sentido de confiança que cada um tem no próximo. Roubaram-no de tal forma que, hoje em dia, qualquer abordagem gera a desconfiança, a insegurança e a falta de à vontade de que falei.
Essa esfera tem que ser nossa outra vez. Temos que confiar. Temos que sorrir, sentir, integrar, fazer parte. Fazer sentir que fazem parte. Que podem vir. Que é seguro. Que é assim que devia ser.
Resgate-se então o humanismo.
Fui agora ver ao wikipedia que entradas tem por humanismo. Total perda de tempo. Parece que não existe uma definição unânime.
Até um humanismo marxista existe.
Bem, isto tudo a propósito de quê?
No outro dia um amigo escreveu um post com uma história em que um gajo respondia, de uma forma nada simpática, que não tinha dinheiro a um gajo daqueles que se passeia com cães, malabares, uns brincos, umas vestes rotas.
Seguiu-se uma enorme e bastante interessante discussão*.
Achei, pelo tom geral da coisa, que a maioria das pessoas que comentaram consideram estes seres como algo perfeitamente dispensável. Peço-vos que não julguem mal as minhas palavras. Não os vão "dispensar" eu sei, mas ficavam mais felizes se eles não vos dissessem nada. Alguns acho que ficavam mais felizes se eles nem sequer se passeassem por aí.
Ora eu, talvez mais tolerante, achei que havia ali um forte odor a intolerância. Toda a gente parecia estar sinceramente indignada que alguém perfeitamente desconhecido, "com bom corpinho para trabalhar", estivesse ali a pedir dinheiro.
Eu apenas acho que quem quer dá, quem não quer não dá.
Bem, mas a propósito de humanismo. Crescentemente me irrita, vivendo numa cidade, a falta sentimento de comunidade que as pessoas parecem exibir. Acho que caminhamos cada vez mais para que a sociedade seja um conjunto de indivíduos que nem sequer formam uma comunidade. A pessoas partilham o mesmo espaço, trilham os mesmos caminhos, deslizam pelas mesmas ruas, mas não contactam umas com as outras.
Quando procuramos abordar alguém para uma conversa ou uma troca de impressões, as pessoas olham-nos sempre com um ar estranho, tipo "que é que este gajo quer?".
A pessoa que fala, que cumprimenta, que diz bom dia, que sorri, que interage com quem se cruza quase diariamente é sempre o estranho, o louco, o diferente.
É o louco ou o estranho quem vai perguntar se está tudo bem com uma pessoa que conhecemos dos nossos caminhos diários mas com quem nunca falamos.
Mas, não será essa mesma interacção, esse mesmo olhar mais humano sobre aqueles que nos rodeiam, aquela tolerância mais humana, aquilo que tanto nos falta hoje em dia?
Parecemos não tolerar e perdoar a diferença mesmo a mais inofensiva.
É porventura sintomático disso que tenham de existir iniciativas como os free hugs para que as pessoas manifestem a sua solidariedade para com aqueles que as rodeiam - para com a sua parte da humanidade. É que um free huger é uma pessoa num dia. Abraços a desconhecidos? Há mais para o ano dirá a maioria.
Bem, voltando de novo ao humanismo. Temos que o resgatar basicamente. Temos que assumir um projecto de humanidade, um projecto conjunto, solidário, tolerante.
A preocupação com o alheio, com o que não nos diz respeito, com aquele que não conhecemos tem que ser algo que nos acompanha. Interpelar, indagar, falar, ouvir, sorrir, fazer sorrir e rir é um dever que devemos ter. É um humanismo que nos deve acompanhar.
Essa facilidade em interagir com o desconhecido foi-nos roubada por aqueles mal intencionados, pelos loucos, pelos sem vergonha, pelos bandidos. Roubaram para eles o sentido de confiança que cada um tem no próximo. Roubaram-no de tal forma que, hoje em dia, qualquer abordagem gera a desconfiança, a insegurança e a falta de à vontade de que falei.
Essa esfera tem que ser nossa outra vez. Temos que confiar. Temos que sorrir, sentir, integrar, fazer parte. Fazer sentir que fazem parte. Que podem vir. Que é seguro. Que é assim que devia ser.
Resgate-se então o humanismo.
3 comentários:
Canetas, não me considero pouco humanista ou menos tolerante por não achar que os free hugs são uma forma de humanizar a sociedade. Quando dizes que no geral as pessoas podiam de vez em quando esboçar um sorriso, partilho a tua opinião. Mas não concordo que sejamos humanistas só porque o devemos ser e não porque a nossa consciência assim o diz.
Cabe a cada um de nós ser humanistas naquilo que acreditamos e que merece que tenhamos consideração. Porque razão esses gajos que mandam fogo da boca, passeiam cães nojentos, pedem dinheiro, "mancham" a imagem das cidades a pedir dinheiro, quando podiam estar a trabalhar em vez de fazer tatuagens e brincar aos circos. Achas que o dinheiro que eu ganho a trabalhar merece ser gasto com esse tipo de pessoas que não têm um pingo de humanismo e não se esforçam para melhor a sociedade?!?
abraços
guerreti
Normalmente tenho vontade de gritar a essa malta um violento «vai trabalhar, que tens bom corpo para isso», mas depois de ler o teu texto descobri uma réstia de humanidade em mim e percebi que se o mundo fosse seguidor desse humanismo, seria lindo.
Beijinhos
Tem toda a razão, acho que a Humanidade está em meio a maior crise da história. Após tantas guerras continuamos sendo egoístas e preconceituosos. Temos que voltar as nossas origens, voltar a viver em comunidade com nossos semelhantes e com o nosso meio ambiente.
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