Dar paleio (palavra estranhíssima diga-se) é uma arte.
É algo com o qual se nasce. Pode-se adquirir mas é muito difícil. Normalmente ou se tem ou não se tem.
Antigamente, quando era mais novo, lembro-me que dar paleio (coisa para a qual não tenho muito jeito embora exista uma relação qualquer, cujas proporções ainda não domino com perícia, entre a quantidade de álcool que ingiro e a conversa que consigo ter) era sobre o melhor modo de, falando de forma economicista, nos vendermos a nós próprios.
Basicamente eu era eu. Estudava ali, ia beber uns copos acolá, o meu filme preferido era tal, a minha banda preferida era aquela, etc.
Tentava mostrar que tinha piada, que era um gajo porreiro, risonho, que tinha uns amigos com bom ar. Verdade seja dita, a fórmula era, no mínimo, extremamente falível. Chegou a ser desconcertante a falta de interesse que rapariga após rapariga demonstrava em mim.
No entanto, era assim que eu era e, se ela não se interessasse, lá passava eu para outra (que não estivesse imediatamente ao lado) na esperança que essa sim, me achasse interessante.
Hoje em dia dar paleio é algo totalmente diferente (também porque cada vez se dá menos paleio).
Hoje em dia não se tenta vender quem se é. Inventa-se uma personagem nova. É só dar largas à imaginação.
Na tentativa de fugir à monotonia que poderia (e deveria) ser estar a falar do facto de passar o dia todo sentado numa secretária à frente do computador, soa muito melhor e muito mais apelativo ser qualquer coisa entre surfista, realizador, pintor ou aspirante a qualquer coisa que pareça minimamente romântico.
Caso a "paleada" pareça mais conservadora podemos remeter para uma realidade menos virtual mas exagerada. Por exemplo, em vez de ser a merda do estagiário mal pago a recibos verdes na Deloitte, sou o partner mais novo da empresa e vivo entre o Rio de Janeiro, Lisboa, Nova Iorque e Tóquio.
De qualquer forma acontece a mesma coisa. O paleio torna-se uma mentira. É marketing enganoso. Vende-se um produto que não existe. Vive-se um filme cujo guião é escrito à medida que as personagens vão soltando as suas falas.
Durante este fim-de-semana procurei reflectir com alguns amigos e conhecidos sobre isto. Sendo a maior parte deles economistas e gestores, lá conseguiram arranjar uma perspectiva amoral que justifique o facto de a arte de dar paleio se ter tornado, basicamente, como dizer a maior tanga.
A justificação foi que como o mercado hoje em dia era mais alargado, há uma oferta mais diversificada, logo o produto tem que se posicionar diferentemente em diferentes mercados. Basicamente ajusta-se a oferta á procura disponível.
Interessante como as coisas mudam. Outros tempos.
P.S.
Já agora, se quiserem um surfista/toureiro, mordido por tubarões e colhido por touros, digam qualquer coisa.
É algo com o qual se nasce. Pode-se adquirir mas é muito difícil. Normalmente ou se tem ou não se tem.
Antigamente, quando era mais novo, lembro-me que dar paleio (coisa para a qual não tenho muito jeito embora exista uma relação qualquer, cujas proporções ainda não domino com perícia, entre a quantidade de álcool que ingiro e a conversa que consigo ter) era sobre o melhor modo de, falando de forma economicista, nos vendermos a nós próprios.
Basicamente eu era eu. Estudava ali, ia beber uns copos acolá, o meu filme preferido era tal, a minha banda preferida era aquela, etc.
Tentava mostrar que tinha piada, que era um gajo porreiro, risonho, que tinha uns amigos com bom ar. Verdade seja dita, a fórmula era, no mínimo, extremamente falível. Chegou a ser desconcertante a falta de interesse que rapariga após rapariga demonstrava em mim.
No entanto, era assim que eu era e, se ela não se interessasse, lá passava eu para outra (que não estivesse imediatamente ao lado) na esperança que essa sim, me achasse interessante.
Hoje em dia dar paleio é algo totalmente diferente (também porque cada vez se dá menos paleio).
Hoje em dia não se tenta vender quem se é. Inventa-se uma personagem nova. É só dar largas à imaginação.
Na tentativa de fugir à monotonia que poderia (e deveria) ser estar a falar do facto de passar o dia todo sentado numa secretária à frente do computador, soa muito melhor e muito mais apelativo ser qualquer coisa entre surfista, realizador, pintor ou aspirante a qualquer coisa que pareça minimamente romântico.
Caso a "paleada" pareça mais conservadora podemos remeter para uma realidade menos virtual mas exagerada. Por exemplo, em vez de ser a merda do estagiário mal pago a recibos verdes na Deloitte, sou o partner mais novo da empresa e vivo entre o Rio de Janeiro, Lisboa, Nova Iorque e Tóquio.
De qualquer forma acontece a mesma coisa. O paleio torna-se uma mentira. É marketing enganoso. Vende-se um produto que não existe. Vive-se um filme cujo guião é escrito à medida que as personagens vão soltando as suas falas.
Durante este fim-de-semana procurei reflectir com alguns amigos e conhecidos sobre isto. Sendo a maior parte deles economistas e gestores, lá conseguiram arranjar uma perspectiva amoral que justifique o facto de a arte de dar paleio se ter tornado, basicamente, como dizer a maior tanga.
A justificação foi que como o mercado hoje em dia era mais alargado, há uma oferta mais diversificada, logo o produto tem que se posicionar diferentemente em diferentes mercados. Basicamente ajusta-se a oferta á procura disponível.
Interessante como as coisas mudam. Outros tempos.
P.S.
Já agora, se quiserem um surfista/toureiro, mordido por tubarões e colhido por touros, digam qualquer coisa.
3 comentários:
Caro amigo, a essencia do paleio continua e contiuará a ser sempre a mesma.
No fundo, o paleio, resume-se a um instrumento que te permite tentar chagar a um objectivo que tu ambicionas.
Mas, tal como os teus amigos disseram, e bem, isto funciona como uma lógica de mercado.
Elas agora (porque trabalham e viajam) têm acesso a novos mercados de gajos e em vez de preferirem um bancário que trabalha das 9 as 17, se calhar preferem um surfista, ou um fotografo, ou sei lá mais o quê.
E quem fala em profissões pode falar nas outras variáveis.
Quando eras puto se calhar dizias o paleio com toda a verdade, mas quando ela perguntava a idade tu mentias. Porque?
Porque as pitas querem é gajos mais velhos.
Existem inumeras variáveis que as mulheres acham atraentes.
Essas variáveis são especificas a cada mulher, mas existem aquelas que nós sabemos que são mais abrangentes (a idade, o dinheiro, a posição social) depois cada uma tem as suas pancas.
A Maria gosta de toureiros, a Rita de fardas, a Joana de casados, a
filipa de velhos, a Sofia de Blogues e a Inês de orfãos.
Agora TODAS (ou maior parte) gostam de dinheiro.
Isso é certo.
Já percebes porque dizes: "em vez de ser a merda do estagiário mal pago a recibos verdes na Deloitte, sou o partner mais novo da empresa"
Se Andre Miguel diz q todas gostam de dinheiro, eu acredito. Acredito em td o que ele diz, relacionado com gajas.
(acredito, inclusivamente, no que nao diz!)
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