terça-feira, junho 08, 2010

cadernetas

Quando escrevemos algo assumimos, de forma implícita ou explícita, um leitor ou uma leitora. Quando escrevo numa revista académica assumo que estou a escrever para um público que percebe o que estou a escrever (o único artigo que publiquei chamava-se 'Qual Pós-Positivismo?'; é capaz de não ter sido entendido por todo o público leitor da revista em que o publiquei, mas sempre deve ter sido percebido por mais gente do que se tivesse sido publicado na Caras). Se escrevesse num jornal, assumiria que estava a escrever para um público literato e inteligente - a menos que escrevesse no 24 horas. Daí que este tipo de argumento, recorrente sempre que há uma manifestação à porta da embaixada de Israel, me faça imensa confusão. É verdade que existe uma maior atenção sobre o que faz Israel. Daí a chamar-lhe anti-semitismo é um passo de gigante, mas adiante. O que não faz sentido é exigir que esses mesmos que se manifestam à frente da Embaixada de Israel se vão manifestar para a porta de outras embaixadas. Melhor, quem nos diz que não o fazem noutro fórum que não uma agressão de um Estado. Um deles pode ter estado à porta de um qualquer Pingo Doce nem há duas semanas a manifestar-se contra a política de pescas da Jerónimo Martins.

O mesmo se aplica para pessoas como o Henrique Raposo que esteve a manifestar-se à porta da Assembleia da República contra uma suposta asfixia democrática promovida por José Sócrates. Eu também não me lembro de ver essa malta toda à porta do edifício do Governo Regional da Madeira, mas contra argumentar assim não me leva a lugar algum.

Este tipo de generalização exacerbada e de cariz panfletário dirige-se claramente a uma franja - e faz sentido para essa franja. Acredito que um gajo de extrema esquerda se enfureça a ler um texto como o que cito. Como um gajo de extrema direita se irritará sempre que um gajo de esquerda vem defender que os emigrantes fazem cá falta. Mas se é esse o público que esses autores imaginam a ler as suas crónicas, eu recomendo-os vivamente a escrever no Avante ou noutro qualquer meio de comunicação que veicule ideias radicais. Os outros, os do meio, (acho que não sou só eu) querem pontos de vista e argumentos inteligentes, não um catálogo de incoerências sobre o que fazem ou deixam de fazer aqueles que são abertamente parciais e, porque não?, obtusos.

2 comentários:

El-Gee disse...

eu nao concordo contigo e acho que a Esquerda (internacional) adoptou certas causas como suas, e as defende ate ao tutano porque faz parte - ignorando, muitas vezes, outras causas semelhantes ou iguais.

Por exemplo nao se compreende que haja tanta gente a defender a Palestina a toda a hora e sob qualquer pretexto (por exemplo, o pretexto de Israel se peidar) e ninguem a defender o povo Curdo, ou pelo menos nao tao abertamente.

Tambem nao se compreende, por exemplo, a euforia a favor do aborto enquanto unica alternativa possiel para uma crianca que se nascesse iria viver que nem um animal, (e atencao, eu sou a favor tambem), quando a opiniao publica se passeia despreocupadamente defronte da miseravel realidade dos nossos orfanatos e centros de adopcao.

E por ai fora. O argumento do gajo do texto que citas e criticas eh basico porque exagerado, mas na sua genese concordo que a Esquerda se agarra a demasiadas causas sem a flexibilidade suficiente para as discutir.

Mr B disse...

se nao concorda com a defesa de certas causas, contraponha.

defender/atacar uma causa com o argumento que essa causa nao e' 100% defensavel tera certamente argumentos.

agora "atacar" a causa palestiniana com a situacao nas coreias...

no fundo e' mesmo ter o PSL a comentar remates acrobaticos

ps - siou so eu que acha que faz todo o sentido treinar remates acrobaticos em vesperas de um torneio, especialmente um jogador lesionado?

genios