O Zenuno divulga no cinco dias um dos cafés mais simpáticos que abriu em Lisboa nos últimos tempos. Chama-se KaffeHaus e fica na Rua da Anchieta, ao Chiado, bem perto do Governo Civil de Lisboa. Trata-se de um típico café Vienense. Apenas quem já passou algum tempo em Viena pode saber o que é um café Vienense. Um café Vienense é um espaço escuro, tenha janelas ou não. É sombrio por natureza. Tem mil posters colados na paredes, uns por cima dos outros, dando à parede uma espessura que esta originalmente não tem. Os cafés em Viena têm também jornais - coisa que a KaffeHaus não descura, tendo uma boa colheita de jornais, revistas e programas culturais, tanto nacionais como estrangeiros. Nos cafés em Viena opta-se pelo café simples, pelo típico mélange ou pelo importado cappucino. Os sumos, normalmente misturados com àgua lisa ou gaseificada, são também habituais. Há ainda, claro, a doçaria. Desde a famosa torta Sacher, que hoje em dia se pode encontrar em quase todo o lado (mesmo a do supermercado Spar é bem boa) até à torta de Linz, passando pelo Mohr Im Hemd. A cerveja é também típica, tanto pelas onze da manhã para os locais mais locais, como ao fim da tarde para os turistas mais latinos, bem como para uma parte substancial da simpática população universitária vienense.
Há, no entanto, algo que a Kaffehaus não tem e que, em muito, lhe retira o toque típico do café Vienense. Na Viena do nosso Chiado, os empregados são gentis, sorridentes e simpáticos. Na Viena de Áustria, como dizem os mais velhos (eu não conheço mais nenhuma Viena, por isso apenas uso essa expressão de tanto em tanto), o típico empregado de café é abertamente carrancudo, mal-educado e teima em recusar dar o troco, a não ser que lhe peçamos expressamente - o que nem sempre è fácil para quem não fala a língua de (originalmente escrevi Musil, mas era só para dar um ar pretensioso à coisa dado que nunca li Musil e não vou fazer um panegírico ao João Barrento, embora goste muito da tradução dele do Homem Sem Qualidades, que, repito, nunca li. Ponham o nome de um qualquer autor escreva na língua alemã, até seis letras. Aceitam-se sugestões para o mail)_ _ _ _ _ _.
Mais a mais, para um filósofo amador como eu, um diletante de colheita tardia (o que é sinónimo de um tipo que diz estupidezes a um ritmo preocupante), os cafés Vienenses são famosos pela sua história e pelas disputas que neles se travaram, em finais do século XVIII, princípios do séculos XIX, entre alguns dos principais pensadores europeus. Não sei quanto a vós, mas a mim dá-me um certo prazer estar a beber uma Ottakringer de Viena ou uma Stiegl de Salzburgo, sob o mesmo tecto (trabalhado, cidades imperiais têm destas coisas) que abrigou Freud, Karl Renner, Nietzsche e onde se discutia o valor (hoje indiscutível) das obras de Schiele e Klimt. Isto claro, sempre acompanhado com um belo cigarro - penso ainda hoje permitido e encorajado pelo resto dos convivas.
No Chiado não se pode fumar, o que expropria o diletante tanto de um pouco da sua decadência como da sua elegância. No entanto, podem-se sentar sob o mesmo tecto que já me acolheu, o que, vistas as coisas, não é mau de todo.
*Segue aqui o link para o vídeo no cinco dias e no youtube.
Há, no entanto, algo que a Kaffehaus não tem e que, em muito, lhe retira o toque típico do café Vienense. Na Viena do nosso Chiado, os empregados são gentis, sorridentes e simpáticos. Na Viena de Áustria, como dizem os mais velhos (eu não conheço mais nenhuma Viena, por isso apenas uso essa expressão de tanto em tanto), o típico empregado de café é abertamente carrancudo, mal-educado e teima em recusar dar o troco, a não ser que lhe peçamos expressamente - o que nem sempre è fácil para quem não fala a língua de (originalmente escrevi Musil, mas era só para dar um ar pretensioso à coisa dado que nunca li Musil e não vou fazer um panegírico ao João Barrento, embora goste muito da tradução dele do Homem Sem Qualidades, que, repito, nunca li. Ponham o nome de um qualquer autor escreva na língua alemã, até seis letras. Aceitam-se sugestões para o mail)_ _ _ _ _ _.
Mais a mais, para um filósofo amador como eu, um diletante de colheita tardia (o que é sinónimo de um tipo que diz estupidezes a um ritmo preocupante), os cafés Vienenses são famosos pela sua história e pelas disputas que neles se travaram, em finais do século XVIII, princípios do séculos XIX, entre alguns dos principais pensadores europeus. Não sei quanto a vós, mas a mim dá-me um certo prazer estar a beber uma Ottakringer de Viena ou uma Stiegl de Salzburgo, sob o mesmo tecto (trabalhado, cidades imperiais têm destas coisas) que abrigou Freud, Karl Renner, Nietzsche e onde se discutia o valor (hoje indiscutível) das obras de Schiele e Klimt. Isto claro, sempre acompanhado com um belo cigarro - penso ainda hoje permitido e encorajado pelo resto dos convivas.
No Chiado não se pode fumar, o que expropria o diletante tanto de um pouco da sua decadência como da sua elegância. No entanto, podem-se sentar sob o mesmo tecto que já me acolheu, o que, vistas as coisas, não é mau de todo.
*Segue aqui o link para o vídeo no cinco dias e no youtube.