É um assunto complicado o Natal. Por esta altura, as pessoas não toleram bem críticas ao "espírito natalício" (seja lá o que isso for), embora não pensem nele durante os restantes trezentos e vinte cinco dias do ano. O Natal, a mim, não me diz muito. Já me disse, na altura em que me digladiava com os meus primos a ver quem é que abria mais presentes em menos de cinco minutos.
Lembro-me de um sair de mim próprio num desses natais e pensar no significado de tudo aquilo que estava a ver (como diria Machado de Assis, tive uma fase de olhar a ponta do nariz). Foi num Natal especialmente caricato, por duas razões: a primeira porque o desembrulhar de presentes foi às dez da noite porque uns primos, cujos pais tinham tido a gentileza de se separar, tinham que ir passar a meia-noite com a mãe; a segunda, porque a distribuição de presentes adoptou um esquema anarco-comunista.
Passo então a explicar porquê. Ora, nesse Natal, talvez por influência de uma facção da minha família (qualquer família que se preze tem facções) mais ligada ao anarco-comunismo ( vulgo: aqueles que têm piada), decidiu-se que os embrulhos seriam todos amontoados e sem o nome do destinatário. A cara leitora pode imaginar como terá sido. Lembro-me de ter um primo que saltou para cima da pilha, qual godzilla, e começou a desembrulhar com mãos e dentes todos os presentes que encontrava no seu caminho. Parecia que queria alcançar os sapatinhos no fim da pilha. Como não havia qualquer ordem, todos fizemos o mesmo. Lembro-me de ver alguns a desembrulhar por desembrulhar, quase sem ligarem ao que vinha dentro.
Eu, como era um bocadinho mais velho e responsável, espanquei um primo até quase à morte para ficar com o maior embrulho (ele ainda hoje bebe por um tubo). Calhou-me um castelo da Barbie. Ainda hoje isso tem reflexos na minha personalidade.
Claro que no final do festim, a outra facção, aqueles conservadores certinhos (que têm dinheiro para as prendas mas que são uma seca insuportável - liderados pelo pai do que come pelo tubinho) vieram dizer para quem era o quê. Uma espécie de fim do PREC natalício. Foi horrível. Fiquei reduzido a quase nada, enquanto que a parvalhona da filha de um dos conservadores olhava com desprezo para o castelo da Barbie que tinha ganho na secretaria.
Quando voltei a mim, já não acreditava no Natal. Aliás, deixei de achar qualquer piada àquilo. Por isso não me venham dizer que há "espírito natalício" porque não há. As criancinhas são umas consumistas manhosas e que fazem tudo pela prenda maior - até metem gajos a comer por tubinhos. Imaginem o que é viver com isso. Com ter quase trucidado um primo por causa de um castelo da Barbie. É duro. Acautelem-se, não vá o "espírito" virar-se contra vocês.
Lembro-me de um sair de mim próprio num desses natais e pensar no significado de tudo aquilo que estava a ver (como diria Machado de Assis, tive uma fase de olhar a ponta do nariz). Foi num Natal especialmente caricato, por duas razões: a primeira porque o desembrulhar de presentes foi às dez da noite porque uns primos, cujos pais tinham tido a gentileza de se separar, tinham que ir passar a meia-noite com a mãe; a segunda, porque a distribuição de presentes adoptou um esquema anarco-comunista.
Passo então a explicar porquê. Ora, nesse Natal, talvez por influência de uma facção da minha família (qualquer família que se preze tem facções) mais ligada ao anarco-comunismo ( vulgo: aqueles que têm piada), decidiu-se que os embrulhos seriam todos amontoados e sem o nome do destinatário. A cara leitora pode imaginar como terá sido. Lembro-me de ter um primo que saltou para cima da pilha, qual godzilla, e começou a desembrulhar com mãos e dentes todos os presentes que encontrava no seu caminho. Parecia que queria alcançar os sapatinhos no fim da pilha. Como não havia qualquer ordem, todos fizemos o mesmo. Lembro-me de ver alguns a desembrulhar por desembrulhar, quase sem ligarem ao que vinha dentro.
Eu, como era um bocadinho mais velho e responsável, espanquei um primo até quase à morte para ficar com o maior embrulho (ele ainda hoje bebe por um tubo). Calhou-me um castelo da Barbie. Ainda hoje isso tem reflexos na minha personalidade.
Claro que no final do festim, a outra facção, aqueles conservadores certinhos (que têm dinheiro para as prendas mas que são uma seca insuportável - liderados pelo pai do que come pelo tubinho) vieram dizer para quem era o quê. Uma espécie de fim do PREC natalício. Foi horrível. Fiquei reduzido a quase nada, enquanto que a parvalhona da filha de um dos conservadores olhava com desprezo para o castelo da Barbie que tinha ganho na secretaria.
Quando voltei a mim, já não acreditava no Natal. Aliás, deixei de achar qualquer piada àquilo. Por isso não me venham dizer que há "espírito natalício" porque não há. As criancinhas são umas consumistas manhosas e que fazem tudo pela prenda maior - até metem gajos a comer por tubinhos. Imaginem o que é viver com isso. Com ter quase trucidado um primo por causa de um castelo da Barbie. É duro. Acautelem-se, não vá o "espírito" virar-se contra vocês.
5 comentários:
muito bom. Gsto especialmente daquela parte "A cara leitora pode imaginar como terá sido"...paletes de leitoras, imagino.
Detesto os Natal, e ainda detesto mais as prendas. A unica pessoa anarca (leia-se: com piada) na minha familia sou eu. E sobre o resto, a Ines Nadais disse tudo numa crónica do ypsilon, há duas semanas atrás.
Posto isto, festa de natal será na sexta, o evento filho único, avenida da liberdade, 211; e claro, o sempre imperdível concerto de Legendary Tiger Man dia 25.
Projector?
Que bom texto
O Natal é dos Católicos, a mais ninguem se pede que acredite nele. No entanto, se queres acreditar no Natal, sugiro que pares de dar presentes.
Maravilhoso!!
Mesmo que o texto não seja dirigido a mim em, visto não me enquadar na classe das "leitoras"...lol
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