terça-feira, julho 03, 2007

música...

Música é algo central para mim.

A minha vida não existe sem música. Cada coisa que faço tem soundtrack, uma ou mais músicas que se coadunam com o que estou a fazer, com o meu estado de espírito, com o que estou a pensar, com o que sinto.

Ando devagar de carro exactamente para poder ouvir mais música. Vou relaxado no autocarro e no metro porque aproveito para ouvir música nova. Não consigo andar de carro ou de transportes públicos sem música. Chego ao ponto de, por vezes, não me apetecer mesmo tirar os headphones para falar com alguém que encontro. Não me apetece, não quero. Não quero sair daquele universo de ritmos. Dá-me um gozo enorme olhar para as pessoas enquanto oiço música. Sentir que embora estejamos na mesma rua, no mesmo passeio, no mesmo meio de transporte, estamos em mundos paralelos. Eu estou a ver um videoclip. Sou parte de um videoclip.

Adoro ouvir música aos berros. Gosto de ouvir todos os pequenos pormenores. Os tempos, os contratempos, os instrumentos de sopro, as cordas, as programações quando existem, a respiração de quem canta e de quem faz backing vocals.

Descontrolo-me totalmente a ouvir música. Já dei, em várias ocasiões, com pessoas a rirem de mim enquanto me abanava violentamente na plataforma do metro e dentro do mesmo. Não resisto. A mais flagrante foi quando ouvia o "Never Too Much" do Luther Vandross. Os meus mocassins deslizavam de um lado para o outro, numa tentativa falhada de moonwalk, fazia estalos com os dedos, mexia compulsivamente os lábios e a cabeça de olhos fechados, imaginando que tinha o microfone à minha frente. Quando finalmente abri os olhos, tinha uma senhora velhinha, que estava sentada do outro lado da plataforma, a olhar para mim com os olhos esbugalhados e um sorriso de boca aberta. Parecia uma criança. Eu parecia uma criança. Retribuí-lhe o sorriso, começou a dar o "Use Me" do Bill Withers e, felizmente, o metro apareceu, senão a senhora tinha começado a pensar que eu era efectivamente insano.

A minha costela de romântico inveterado é brutalmente afectada pela minha pazzia musical. Para eu encontrar uma pessoa que realmente ame, ou me fascine, ter bom gosto musical é meio caminho andado.

Já fui bem mais radical, ao ponto de achar que essa pessoa tinha que gostar da mesma música que eu. Agora já não sou assim. Basta que eu note que essa pessoa sente a música como eu a sinto. Seria perfeito que gostássemos das mesmas músicas. Mas não se pode ter tudo, e essa não é condição suficiente para amar.

No entanto, não abandono o sonho de estar a dançar, abraçado, a sussurrar ao ouvido de quem amo o "As" do Stevie Wonder.

E depois o "Feel Like Makin' Love" do D'angelo.

E de manhã o "Everybody Loves the Sunshine" do Roy Ayers.

Seguido do "Dreamin'" do Amp Fiddler, do "Loving you, Holding you" do Don Blackman, do "The Audience" do Hebert ( a versão live no Gilles Peterson"), do "I am Love" dos Jackson 5, do "Where Are We Going" do Marvin Gaye, do "The Only Ones" dos Moloko, do "Girl, I Think the World About You" dos Commodores.

Faltam tantas...

Nunca vou encontrar alguém assim.

9 comentários:

sofi disse...

Bom, eu sou mais ou menos assim...também adoro ouvir música aos berros; muitas vezes prefiro som a pessoas; gosto particularmente do "How does it feel" do D'Angelo para aquelas ocasiões; acho que o "you are the sunshine of my life" do Stevie Wonder é provavelmente a mais bela declaração de amor funk de sempre;não consigo muitas vezes explicar o meu fascínio pelo Prince do "Purple Rain", do "Erotic City", do "Get Off"; adoro Jill Scott quando estou in the mood for love, adoro Aretha Franklin sempre...and so on.

sofi disse...

E que dizer do " Kiss and say goodbye" dos Manhattans? Perfeito é pouco.

filipe canas disse...

Perfeito é pouco.

Já não ouvia hà tanto tempo.Que bom. Que boa recordação.

Que bom.

Anónimo disse...

Então e o clássico "love me like i do" dos Triptons!

Isso sim é harmonia

filipe canas disse...

Essa confesso desconhecer e nem sequer a encontro no google.

bitsounds disse...

um dia um amigo chega ao pé de mim e diz-me que já não vai viver com a namorada (faltavam uns 2 dias e a decisão estava tomada à muito). Fiquei muito espantado, ele percebeu e disse "Não posso viver com uma pessoa que acorda a ouvir Daniela Mercury" ..... desatamos os dois a rir, claro que não podia ir viver com ela ....

Anónimo disse...

Partilho da mesma devoção doentia à musica, pelo que compreendo perfeitamente o que sentes.

Na minha ultima estadia em NY, dei por mim a calcorrear a 5ª Av. á chuva (tropical) a ouvir Trentemoller (musica electronica de génio). Banda sonora ideal para aquele momento...

Ecletismos àparte, gosto musical é algo que se cultiva, desde que se tenha ouvido para isso. "surdos musicais" há por aí aos montes mas há que ter paciência...

Anónimo disse...

Curioso,
ia jurar que foi na nesta mesma data (posted 03-07-2007) que entrei no autocarro e lá estavas tu, agarrado aos teus headphones e provavelmente a pensar "só espero que não se venha sentar aqui ao meu lado"

Morales disse...

"Dá-me um gozo enorme olhar para as pessoas enquanto oiço música. Sentir que embora estejamos na mesma rua, no mesmo passeio, no mesmo meio de transporte, estamos em mundos paralelos. Eu estou a ver um videoclip. Sou parte de um videoclip."

Se não te importas, faço minhas estas tuas palavras.